terça-feira, 5 de maio de 2020

DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA


SONETO

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

LUÍS DE CAMÕES (1524-1580).


Foto: Jardim da Biblioteca Mário de Andrade, 31/07/2012.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

UM BELO DOMINGO*


Um domingo com uma viagem muito singular por lugares exóticos, regada a vinhos que ao aguçar os sentidos dão à vida poderes especiais. No fim do dia restou a sensação de que a jornada deve continuar a qualquer momento... Organizando a estante encontrei Michel Onfray e, na companhia dele, não resisti a um mergulho em vinhos no Mar Azul. Uma combinação perfeita.
Explico. Michel Onfray (1959), um pensador francês hedonista, diz que “A viagem começa numa biblioteca. Ou numa livraria. Misteriosamente, ela tem lugar ali, na claridade de razões antes escondidas no corpo. No começo do nomadismo, encontramos assim o sedentarismo das prateleiras e das salas de leitura, ou mesmo do domicílio onde se acumulam os livros, os atlas, os romances, os poemas, todas aquelas obras que, de perto ou de longe, contribuem para a formulação, a realização, a concretização de uma escolha de destino. Todas as seções de uma boa biblioteca conduzem ao bom lugar: o desejo de ver um animal extravagante, uma borboleta rara, uma planta quase inencontrável, um veio geológico numa pedreira, a vontade de andar sob um céu como o fez um poeta, tudo leva ao ponto do globo cujo sinal carregamos às cegas.”
Concordo plenamente. Os livros têm sido minha bússola nas andanças mundo afora. Com eles as viagens ganham um significado mais profundo ou o viajante consegue ver além do óbvio. Que o diga o jornalista e escritor paulista José Guilherme Rodrigues Ferreira, autor de “Vinhos no Mar Azul ‒ Viagens enogastronômicas” (Editora TERCEIRO NOME, 2009), um maravilhoso livro de crônicas, que li pela primeira vez há alguns anos e ontem me presenteei com algumas crônicas.
Só mesmo os livros nos permitem equilibrar exageros etílicos e viagens mundo afora, nos levar para fora de casa, quando a ordem é ficar em casa.


Fotos: 2017 - San Diego, California. Grand Canyon, Arizona.
*O título remete a um livro do escritor espanhol Jorge Semprún (1923-2011). 

domingo, 3 de maio de 2020

QUARENTENA COM ARTE .

"Diana adormecida", escultura de mármore de Giuseppe Mazzuoli (1644-1725). Acervo do MASP. 

sábado, 2 de maio de 2020

CENAS DA QUARENTENA



Nesses 47 dias em que tenho me mantido em casa (saio apenas para o supermercado) e evitado o contato social, observei muitas cenas interessantes pelo bairro. Agora o isolamento já ultrapassou a quarentena, mas resisto firme. Meu trajeto se resume à Avenida da Aclimação até a Rua Domingos de Moraes ‒ uma linha quase reta em que encontro tudo que preciso. O Pão de Açúcar restringiu a entrada dos clientes para evitar fila nos caixas. Quando um sai, entra outro.
Lá está uma senhora de máscara, luvas, capa (apesar do sol e do calor agradável) e toalha de rosto protegendo cabeça e pescoço. Outro cliente usa uma máscara antigases, que só tinha visto em museus e filmes da I Guerra Mundial. Será que funciona? Um homem caminha despreocupadamente à minha frente ‒ a máscara está no alto da cabeça, protegendo a careca que já vai adiantada. Ainda há muita gente andando por aí sem proteção, como um dos motoristas de táxi da esquina que está voltando ao trabalho ‒ a maioria faz parte do grupo de risco. Com a obrigatoriedade de usar máscaras nos transportes coletivos a partir de segunda-feira, o quadro deve mudar.
Bom mesmo foi ver uma cena inédita. Nossa pracinha tem bancos frente à frente, usados pelos moradores das redondezas para ler, navegar pela internet, descansar, tomar sol, observar filhos, netos e pets se divertindo. (Há até alguns que fumam um “cigarrinho” na hora do almoço ou à noite.) Hoje foi diferente, parecia uma sala de visitas ao ar livre como nos velhos tempos: os quatro amigos num agradável bate-papo vis-à-vis, tomavam sol cada um em uma ponta dos bancos. O assunto era economia mundial...
Mais adiante o dono de uma banca de jornal está vendendo máscaras, mas doa para quem não tiver condições comprar; uma academia organizou um bazar de camisetas para comprar alimentos para doação...  E assim a comunidade continua a vida. Faz tempo que não vejo C., I., N., J... C. e esposa também estão em quarentena, são do grupo de risco.
Com as ruas praticamente vazias, o bairro está mais limpo. Os passeadores de cães sumiram; os poucos que passeiam são conduzidos pelos donos. Ontem, revi o belíssimo Pastor branco suíço (parente do alemão), que caminha como um príncipe! Gosto muito de um Golden Retriever frequentador da Praça General Polidoro. Luxo mesmo são o galgo e o dálmata que vez por outra cruzam meu caminho.
Wassily Kandisnky (1863-1944): Composição VII (1913). Acervo: Museum of Modern Art.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

CONFINAMENTO REAVIVA BOAS LEMBRANÇAS

        O que escrever no Dia 1º de Maio em que o trabalho é a principal preocupação em todo mundo? Resolvi homenagear minha ferramenta de trabalho que há alguns anos foi recolhida para museus: a máquina de escrever. Creio que a música a música preferida dos jornalistas da velha guarda era a cacofonia das redações no fechamento das edições dos jornais. Cada repórter escrevendo suas matérias, dedos ágeis batucando as teclas, olhos fixos na lauda que ia rolando linha por linha até uma pausa para trocar as folhas, cabeça pensando rapidamente, coordenando ideias, buscando clareza. Se o instrumento principal era da máquina de escrever, sempre havia a campainha dos telefones com fontes para ajudar a atualizar as notícias e nesse pandemônio mal se ouvia o tic-tac do relógio que ditava a urgência das reportagens.

O compositor americano Leroy Anderson (1908-1975) levou o matraquear da velha máquina de escrever para uma orquestra com um resultado bem humorado. Bem, desta vez ela é a solista. E aí vai o concerto para máquina de escrever: The tipewriter.




São Paulo, década de 1980.


quarta-feira, 29 de abril de 2020

PORTAS E CONFINAMENTO.

Simples ou sofisticadas, elas sempre implicam uma decisão: sair ou ficar. Transpor a soleira é sempre bom, não importa em que direção. 
algumas portas fotografadas em minhas caminhadas.







 
Edifício Martineli. 

segunda-feira, 27 de abril de 2020

CONFINAMENTO: SAÍDAS NECESSÁRIAS.

 Quando supermercado vira programa...


Ficar em casa não é um problema para mim, mas não desfrutar os dias de abril que vai chegando ao fim me frustra um pouco, entretanto, uso as idas ao supermercado para aproveitar pelo menos um pouco desse mês tão simpático. “Mês de lagartear ao sol”, citando Monteiro Lobato. A vizinhança se adaptou aos novos tempos: um idoso caminha pela pracinha das 6 às 7 horas; outro, que jogava tênis, agora corre cerca de um quilometro todas as manhãs; há um terceiro que deve estar se preparando para as Olimpíadas das calendas gregas, pois corre, faz abdominais, saltita sob a supervisão de um “personal trainer” no quarteirão aqui de casa. Um exibido! Só de ver fico exausta. Nessas saídas necessárias, vejo que a prefeitura aproveita para fazer recapeamento da nossa rua; notei que o uso de máscaras aumentou bastante, mas ainda há muitos rebeldes; nos supermercados, há medidas sanitárias evidentes ‒ pelo menos nos três ou quatro que costumo frequentar. Enquanto algumas árvores floriram e já perderam as flores, outras começam a esbanjar beleza e cor. Com a diminuição de veículos nas ruas, semáforos estão no amarelo piscante ou simplesmente desligados. A última vez que peguei um ônibus foi em 12 de março, quando fotografei o cartaz da prefeitura de São Paulo alertando sobre o vírus. E já era a única passageira. Continuam vazios. Se vou ao supermercado no Largo Ana Rosa, uso a passagem subterrânea do metrô, que parece abandonado: ninguém á vista. Uns poucos restaurantes estão abertos, mas a entrada vetada: comida só para levar. As bancas de jornal funcionam e aproveito para comprar um livreto de Sudoko, meu vício.  Bom mesmo é observar que muitos comerciantes adaptaram os negócios aos tempos difíceis: a loja de coisas domésticas funciona, mas ninguém entra: o cliente faz o pedido na porta, onde há uma pequena fila, todos mantendo distância adequada. Uma senhora que faz roupas de bebê, sem clientes, usa os retalhos para produzir máscaras anatômicas e vai bem. Hora de voltar para casa. Sem pressa.


Terminal de ônibus Ana Rosa.


sábado, 25 de abril de 2020

PARA UM SÁBADO DE QUARENTENA

Espero que todos estejam com esse ânimo. O filme “Três palavrinhas”, dirigido por Richard Thorpe (1896-1991), tinha no elenco Fred Astaire (1899-1987), Vera-Ellen (1921-1981) e Bob Hope (1903-2003). Fred Astaire ganhou o Globo de Ouro de melhor ator de musical. A trilha musical é de André Previn (1896=1991). Um ótimo fim de semana!

sexta-feira, 24 de abril de 2020

QUARENTENA: GELADEIRA X BALANÇA.


O filme, lançado em 1963, trata dos esforços de um inspetor de polícia atrapalhado (Peter Sellers) em perseguição a um ladrão famoso (David Niven) não só por sua audácia como pelo charme junto às mulheres, uma delas a bela Claudia Cardinale. Entretanto, a comédia dirigida por Blake Edwards tem dois componentes que ganharam espaço próprio e até hoje são um sucesso: a música de Henri Mancini e o desenho animado de uma desastrada Pantera-cor-de-rosa incluída nos créditos do filme. A animação era uma alusão ao diamante cor-de-rosa da história e ao desastrado inspetor Clouseau.  

Com o sucesso do desenho, surgiu a série em 1964 vinculando definitivamente a música à Pantera-cor-de-rosa, que pode ser vista na TV até hoje envolvida em várias peripécias e quase sempre se dando mal. Do elenco principal, apenas Robert Wagner (1930) e Claudia Cardinali (1938) estão vivos e Wagner ainda faz aparições recorrentes na série NCSI, esbanjando simpatia.  





quinta-feira, 23 de abril de 2020

DIA MUNDIAL DO LIVRO


Este ano a data tem uma conotação muito especial. Os livros são uma ótima companhia neste período de quarentena, porque podem nos transportar para onde quisermos. Folheando páginas ou rolando uma tela, com eles podemos viver grandes aventuras, grandes paixões; resolver crimes; conviver com fadas e bruxas; mergulhar nas experiências de grandes cientistas; examinar os caminhos de grandes estadistas ou canalhas imortais; descer ao fundo do mar ou subir aos céus; voltar ao passado que não vivemos ou saltar para o futuro que não viveremos. Os livros são aqueles amigos silenciosos que desenvolvem nossa imaginação, estimulam os sentidos (a descrição de uma comida pode nos dar água na boca ou a beleza de uma melodia nos levar em busca da música para desfrutar prazer igual); os livros despertam nossa curiosidade ‒ e o que seria do mundo se não existisse a curiosidade? Qual o meu livro preferido? Todos. Porque mesmo aquele que não me agradou contribuiu de alguma forma para minha formação ‒ afinal, tive que desenvolver uma justificativa para não colocá-lo entre os preferidos, ou seja, ele me fez pensar, analisar e mexeu comigo de alguma forma. Receber um livro é sempre um elogio para mim, como a cópia de “Malerische reise in Brasilien” (Viagem pitoresca ao Brasil), de Moritz Rugendas, encadernada com minhas iniciais, que ganhei de um amigo. Lindíssimo! Tem um lugar especial em uma das estantes.


quarta-feira, 22 de abril de 2020

DIA DA TERRA

A Terra é nossa casa e hoje é o dia dela. Em quarentena, temos bastante tempo para refletir sobre os hábitos que precisamos mudar em nossas vidas
 para preservar nosso Planeta.




terça-feira, 21 de abril de 2020

O ISOLAMENTO DO PODER


Sessenta anos de Brasília.

Depois de décadas, em 2019, voltei  a Brasília para conhecê-la melhor e a única coisa de que gostei foi do céu por onde as nuvens navegam ameaçadoras ou alvas, rapidamente, de um lado para o outro, mudando a paisagem de concreto. Uma cidade de prancheta, onde o homem comum, o povo, não se encaixa. Cidade pensada para o poder. 







segunda-feira, 20 de abril de 2020

CINEMA, MÚSICA E ISOLAMENTO (5)



Se há um ator cujos filmes sempre revejo com muito prazer ele é  Cary Grant (1904-1986). Além de bonito e elegante, Cary Grant parece natural em praticamente todos os papéis. Em "Suzy" (1936), dirigido por George Fitzmaurice (1885-1940), ele "canta" para Jean Harlow (1911-1937). Como canta mal! E nem assim estragou a cena. Para conferir em mais esta segunda de isolamento.

domingo, 19 de abril de 2020

CINEMA, MÚSICA E ISOLAMENTO (4)

Ava Gardner (1922-1990) é considerada uma das cinquenta melhores atrizes do século XX pelo American Film Institute, o que não significa que haja outras tão boas quanto as estrelas relacionadas na lista da AFI (ou melhores). Fez filmes de qualidade, mas não vi muitos. Lembro-me de “A condessa descalça” (1954), tenho uma vaga lembrança de “55 Dias em Pequim” (1963), “O Sol também se levanta” (1957), “Sete dias em maio” (1964) e “O barco das ilusões” (1951).
Em “O barco das ilusões” Ava Gardner cantou para as câmeras, mas o que o público ouviu mesmo foi a voz de Annette Warren (1922), cantora de jazz que dublava grandes atores. Aí vai a tomada com o som original. A música é “Can’t help lovin’ that man”.  Ava Gardener foi casada com o ator Mickey Rooney (1920-2014), o músico Artie Shaw (1910-2004) e Frank Sinatra (1915-1998). O casamento mais longo foi com Sinatra e depois do divórcio não se casou mais ‒ talvez não tenha conseguido deixar de amá-lo... 

sábado, 18 de abril de 2020

CINEMA, MÚSICA E ISOLAMENTO (3)

Robert Mitchum (1917-1997) faz parte da lista de cinquenta melhores atores do cinema feita pelo American Film Institute, organizada quando o cinema completou um século (1999). Não concluiu os estudos, teve uma vida errante e diversos tipos de trabalho para sobreviver, inclusive como pugilista e fazendo textos para um astrólogo. A irmã o convenceu a se reunir ao grupo de teatro onde ela atuava e assim ele começou - e até escreveu peças para a companhia. Desistiu do teatro para trabalhar na indústria durante a II Guerra, mas após um esgotamento nervoso e após se recuperar tentou o cinema. A carreira no cinema começou em 1942 e já em 1945 foi indicado para o Oscar de ator coadjuvante. Vi vários filmes estrelados por ele e gostei de quase todos, mas não me lembrava de tê-lo visto cantando. E cantou em vários. Gravou entre 1957 e 1967 dois álbuns e quatro discos. Basicamente country music. O filme que escolhi é de 1948, um western dirigido por Norman Foster, e além de Mitchum tem no elenco o grande William Holden (1918-1981). Rachel é interpretada por Loretta Young (1913-2000), outra estrela dos velhos tempos. Com certeza não assisti ao filme, mas para um sábado caseiro não custa ouvir o velho Mitchum. A propósito da sua personalidade lembro-me de uma entrevista, que li quando estudava inglês, em que ele disse ao repórter que decidira ser ator quando vira Rin-Tin-in: “Se ele consegue, eu também”. 

sexta-feira, 17 de abril de 2020

CINEMA, MÚSICA E ISOLAMENTO (2)

COM TYRONE POWER  QUE ENCANTAVA E... CANTAVA.
Vi poucos filmes com Tyrone Power (1914-1958), acho que assisti a um ou dois de capa e espada e, décadas depois da estreia, “Testemunha de Acusação” (1957), dirigido por Billy Wilder. Gostei muito. Era um homem muito bonito e considerado bom ator. Ao longo da vida curta foi soldado, atuou em rádio, teatro e cinema. Nunca ouvi falar que fosse cantor, mas é possível ouvi-lo cantar um dos clássicos dos anos 1940 “Chattanooga Choo Choo”. Eu gosto demais dessa música sobre um passageiro que espera o trem com destino a Chattanooga, no Tennessee, lançada por Glenn Miller e Orquestra em 1941. Boa surpresa, embora não se possa imaginar Tyrone Power ganhando a vida como cantor ‒ pelo menos naquela época em que era preciso realmente cantar para vencer na profissão. Vale como curiosidade e para que os mais jovens conheçam um pouco dos grandes atores do século passado, graças à feliz ideia que alguém teve de colocar a gravação no youtube. Boa diversão para uma sexta-feira de isolamento. 

quinta-feira, 16 de abril de 2020

CINEMA, MÚSICA E ISOLAMENTO.

Cada um com suas preferências. Eu, por exemplo, continuo fã de atores do século passado, aprecio o jazz e as grandes orquestras americanas dos anos 1940.  E buscando o que ouvir nesses dias tão atípicos, encontrei uma joia rara que apresenta atores que não se destacaram em musicais cantando em cena ou não.
        O ator Rock Hudson (1925-1985) derreteu o coração de jovens adolescentes especialmente como galã de Doris Day ‒ há quem não goste, mas são bem divertidos. Ele estrelou bons filmes como “Assim Caminha a Humanidade”, “Sublime Obsessão” e “Embrião” (ficção científica, que se tornou um cult). Rock Hudson também foi considerado um dos homens mais elegantes de Hollywood, junto com Cary Grant (1904-1986).

        Um dos três filmes que Hudson fez com Doris Day foi “Confidências à meia-noite” (“Pillow Talk”). Uma história açucarada em que a mocinha bem comportada e muito elegante divide telefone com o vizinho nada comportado. Enfim, a trama fornece o tema da canção “Pillow Talk” que Doris Day (1922-2019) canta deliciosamente. E que, surpreendentemente, Rock Hudson também gravou e não se saiu mal. Depois de ouvir o CD, achei a gravação no Youtube. Pena que, tanto no disco quanto na internet, não constem informações adicionais sobre a gravação ‒ local, data e motivo. Vale conferir nesses dias em que sobra tempo.  

quarta-feira, 15 de abril de 2020

MIGUEL E ARNALDO (2)


Os pais de Arnaldo Vieira de Carvalho eram de Santos, mas ele nasceu em Campinas. O pai Joaquim José Vieira de Carvalho (1841-1899) era advogado, foi vereador em Santos, deputado no Império, época em que viveu em Campinas; e vice-presidente da Província de São Paulo (vice-governador) e senador estadual na República. Arnaldo estudou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1883-1888) e nas férias frequentava a Santa Casa de São Paulo, onde atuava seu professor Pereira Barreto. Após a formatura começou a trabalhar na Hospedaria dos Imigrantes em Santos, vindo depois para a Santa Casa de São Paulo e em 1895 se tornou o primeiro Diretor Médica da Santa Casa de São Paulo.
Em gestão de Arnaldo de Carvalho desenvolveu na instituição um ambiente de ensino, que sempre pautou vida do médico. No início do século XX, São Paulo sofria com a falta de profissionais para atender à demanda crescente de doentes. A cidade, com crescente população, ainda não tinha uma faculdade de medicina, deficiência que Arnaldo de Carvalho tratou de enfrentar, capitaneando a campanha para a fundação da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo (atual Medicina USP).
Arnaldo de Carvalho queria a melhor escola e assim viajou durante oito meses pelo exterior, visitando as melhores  escolas de medicina da época para instalar em São Paulo uma faculdade de medicina de alto padrão. Enfim, em 1912 o Governo do Estado de São Paulo assinou decreto criando a Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo e no dia 2 de abril de 1913 a Faculdade iniciou suas atividades, nas instalações da Escola de Comércio Álvares Penteado.
Mais uma vez investimento em educação voltada para benefício de todos. Arnaldo de Carvalho “estruturou o curso preliminar de um ano e o geral de cindo anos, com o total de 28 cadeiras. Segundo sua orientação, o ensino deveria ter base científica e experimental, com destaque para a pesquisa e os testudos laboratoriais, o que assegurou inicialmente a contratação de professores estrangeiros. Mais tarde, a partir de 1916, as concepções vigentes permitiram a aproximação e posterior efetivação de acordos com a Fundação Rockfeller”. (Arquivo Histórico/Fundação Faculdade de Medicina da USP, janeiro 2020.)
Com a Faculdade de Medicina implantada os métodos cirúrgicos foram atualizados e introduzidas recentes conquistas científicas. Arnaldo Vieira de Carvalho preocupou-se com os problemas médicos aliados às questões sociais, apoiou as campanhas de vacinação e defendeu a melhoria das condições sociais da população (alimentação, moradia, ambiente). Esteve na linha de frente ao combate da epidemia da Gripe Espanhola em 1918 junto com os alunos, como já havia participado junto com Oswaldo Cruz do combate à epidemia de febre amarela que atingiu São Paulo e Campinas em 1889l.
Para o professor da Faculdade de Direito Frederico Vergueiro Steidel (1867-1926) “Arnaldo era o médico dos desprovidos, aquele que se inquietava com a dor dos pacientes da Santa Casa”.
Mostra: Arnaldo Vieira de Carvalho e a Faculdade de Medicina/USP, no Arquivo Público do Estado de São Paulo (janeiro 2020).
Dr. Arnaldo participou da solenidade de lançamento da pedra de fundamental do edifício da faculdade, mas morreu logo depois, vítima de uma infecção causada por um corte na mão com um bisturi. Novamente, chama atenção a grande popularidade do médico pela afluência de admiradores ao ao préstito fúnebre. A Faculdade de Medicina da USP é conhecida como Casa de Arnaldo e a antiga Avenida Municipal em 1931 ganhou o nome do Dr. Arnaldo.


terça-feira, 14 de abril de 2020

MIGUEL E ARNALDO (1)


Médicos! Ah! Os médicos! Há quem os ame. Há quem abomine, mas na hora do aperto todos recorrem a esse profissional que cuida dos simples mortais ignorantes do que se passa em suas entranhas. É verdade que muitas vezes se veem lidando com situações que lhes são obscuras, mas que nem por isso deixam de enfrentar e fazem o melhor que podem para aliviar o sofrimento dos enfermos. No momento, eles estão na linha de frente combatendo o novo Coronavírus 19.
       Dois médicos brasileiros foram amados especialmente pela população: no Rio de Janeiro, Miguel Couto (1865-1934), em São Paulo, Arnaldo Vieira de Carvalho (1867-1920). Miguel Couto e Arnaldo Vieira de Carvalho tiveram origens muito diferentes, mas trabalharam com o mesmo empenho pelo desenvolvimento da medicina e a modernização do ensino no Brasil.
Os mais velhos primeiro.
Miguel Couto nasceu na zona portuária do Rio de Janeiro. Quando o pai Francisco de Oliveira Couto morreu, a mãe Maria Rosa do Espírito Santo teve que mudar com os quatro filhos para Niterói e trabalhar para o sustento da família. “Minha mãe costurava dia e noite para extrair do anonimato de nossa pobreza um doutor”, disse Miguel Couto. Ainda no curso fundamental (ginásio), trabalhava em uma farmácia para ajudar nas despesas e aos 14 anos era calouro da Faculdade de Medicina; no quarto ano tornou-se interno da enfermaria da Santa Casa de Misericórdia; passou em primeiro lugar no concurso para interno; formou-se aos 20 anos e dedicou-se à Medicina, que norteou também a sua passagem pela política como deputado constituinte.
O médico carioca tinha consultório particular, visitava os pacientes em casa, trabalhava na Santa Casa, lecionava na Faculdade de Medicina e ainda passou pela política concentrando suas ações na educação. Clínico geral, ele começou pesquisando a febre amarela e como professor implantou várias inovações. É célebre a conferência que fez na Associação Brasileira de Educação em 1927 e que serve como uma luva para os dias que correm:
“A ignorância é uma calamidade pública como a guerra, a peste, os cataclismos, e não só uma calamidade, como a maior de todas, porque as outras devastam e passam, como tempestades seguidas de céus de bonança; mas a ignorância...”
[...]
A educação do povo é o nosso primeiro problema nacional; primeiro porque o mais urgente; o primeiro porque resolve todos os outros; primeiro, porque resolvido, colocará o Brasil a par das nações mais cultas, dando-lhe proventos e honrarias e lhe afiançando a prosperidade e segurança; e se assim fez-se o primeiro, na verdade se torna o único.”
Enfim, ele resumiu a questão muito bem no título da palestra: “No Brasil, só há um problema nacional: a educação do povo.”
A morte de Miguel Couto causou uma comoção nacional com manchetes em quase todos os jornais. E para o JORNAL DO BRASIL os funerais do professor Miguel Couto ”tiveram um cunho de verdadeira apoteose”. A despedida reuniu o povo, políticos, intelectuais e amigos que chegaram a paralisar as ruas do Distrito Federal.

(Primeira página do DIÁRIO CARIOCA, Fundação Biblioteca Nacional.)

segunda-feira, 13 de abril de 2020

DIÁRIO DO CONFINAMENTO: E LA NAVE VA.


Quem costumava dizer que “odeia as segundas-feiras”, provavelmente, nunca imaginou que um dia viveria segundas-feiras com jeito de domingos ou feriados... E nada estimulantes porque o ambiente além das portas de cada um de nós tornou-se hostil, ameaçador. Nem todos, entretanto, têm portas para fechar. Enfim, é segunda-feira. Ficamos em casa. Quase metade de abril... “Monday, Monday”. Um amigo enviou este link do grupo norte-americano que fez sucesso na metade da década de 1960. "The Mamas & The Papas" não faz parte da minha história, mas é segunda-feira.