Nesses 47 dias
em que tenho me mantido em casa (saio apenas para o supermercado) e evitado o
contato social, observei muitas cenas interessantes pelo bairro. Agora o
isolamento já ultrapassou a quarentena, mas resisto firme. Meu trajeto se
resume à Avenida da Aclimação até a Rua Domingos de Moraes ‒ uma linha quase
reta em que encontro tudo que preciso. O Pão de Açúcar restringiu a entrada dos
clientes para evitar fila nos caixas. Quando um sai, entra outro.
Lá está uma senhora de máscara, luvas, capa (apesar do sol e do calor
agradável) e toalha de rosto protegendo cabeça e pescoço. Outro cliente usa uma
máscara antigases, que só tinha visto em museus e filmes da I Guerra Mundial. Será
que funciona? Um homem caminha despreocupadamente à minha frente ‒ a máscara
está no alto da cabeça, protegendo a careca que já vai adiantada. Ainda há
muita gente andando por aí sem proteção, como um dos motoristas de táxi da
esquina que está voltando ao trabalho ‒ a maioria faz parte do grupo de risco. Com
a obrigatoriedade de usar máscaras nos transportes coletivos a partir de
segunda-feira, o quadro deve mudar.
Bom mesmo foi ver uma cena inédita. Nossa pracinha tem bancos frente à
frente, usados pelos moradores das redondezas para ler, navegar pela internet, descansar,
tomar sol, observar filhos, netos e pets
se divertindo. (Há até alguns que fumam um “cigarrinho” na hora do almoço ou à
noite.) Hoje foi diferente, parecia uma sala de visitas ao ar livre como nos
velhos tempos: os quatro amigos num agradável bate-papo vis-à-vis, tomavam sol cada
um em uma ponta dos bancos. O assunto era economia mundial...
Mais adiante o dono de uma banca de jornal está vendendo máscaras, mas
doa para quem não tiver condições comprar; uma academia organizou um bazar de
camisetas para comprar alimentos para doação... E assim a comunidade continua a vida. Faz
tempo que não vejo C., I., N., J... C. e esposa também estão em quarentena, são
do grupo de risco.
Com as ruas praticamente vazias, o bairro está mais limpo. Os passeadores
de cães sumiram; os poucos que passeiam são conduzidos pelos donos. Ontem, revi
o belíssimo Pastor branco suíço (parente do alemão), que caminha como um
príncipe! Gosto muito de um Golden Retriever frequentador da Praça General Polidoro. Luxo mesmo são
o galgo e o dálmata que vez por outra cruzam meu caminho.
Wassily Kandisnky (1863-1944): Composição VII (1913). Acervo: Museum of Modern Art. |
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