sábado, 2 de maio de 2020

CENAS DA QUARENTENA



Nesses 47 dias em que tenho me mantido em casa (saio apenas para o supermercado) e evitado o contato social, observei muitas cenas interessantes pelo bairro. Agora o isolamento já ultrapassou a quarentena, mas resisto firme. Meu trajeto se resume à Avenida da Aclimação até a Rua Domingos de Moraes ‒ uma linha quase reta em que encontro tudo que preciso. O Pão de Açúcar restringiu a entrada dos clientes para evitar fila nos caixas. Quando um sai, entra outro.
Lá está uma senhora de máscara, luvas, capa (apesar do sol e do calor agradável) e toalha de rosto protegendo cabeça e pescoço. Outro cliente usa uma máscara antigases, que só tinha visto em museus e filmes da I Guerra Mundial. Será que funciona? Um homem caminha despreocupadamente à minha frente ‒ a máscara está no alto da cabeça, protegendo a careca que já vai adiantada. Ainda há muita gente andando por aí sem proteção, como um dos motoristas de táxi da esquina que está voltando ao trabalho ‒ a maioria faz parte do grupo de risco. Com a obrigatoriedade de usar máscaras nos transportes coletivos a partir de segunda-feira, o quadro deve mudar.
Bom mesmo foi ver uma cena inédita. Nossa pracinha tem bancos frente à frente, usados pelos moradores das redondezas para ler, navegar pela internet, descansar, tomar sol, observar filhos, netos e pets se divertindo. (Há até alguns que fumam um “cigarrinho” na hora do almoço ou à noite.) Hoje foi diferente, parecia uma sala de visitas ao ar livre como nos velhos tempos: os quatro amigos num agradável bate-papo vis-à-vis, tomavam sol cada um em uma ponta dos bancos. O assunto era economia mundial...
Mais adiante o dono de uma banca de jornal está vendendo máscaras, mas doa para quem não tiver condições comprar; uma academia organizou um bazar de camisetas para comprar alimentos para doação...  E assim a comunidade continua a vida. Faz tempo que não vejo C., I., N., J... C. e esposa também estão em quarentena, são do grupo de risco.
Com as ruas praticamente vazias, o bairro está mais limpo. Os passeadores de cães sumiram; os poucos que passeiam são conduzidos pelos donos. Ontem, revi o belíssimo Pastor branco suíço (parente do alemão), que caminha como um príncipe! Gosto muito de um Golden Retriever frequentador da Praça General Polidoro. Luxo mesmo são o galgo e o dálmata que vez por outra cruzam meu caminho.
Wassily Kandisnky (1863-1944): Composição VII (1913). Acervo: Museum of Modern Art.

Nenhum comentário: