quinta-feira, 7 de maio de 2020

QUARENTENA: UM PASSEIO VIRTUAL.


         Sem poder sair de casa, escolhi três ruas históricas para este passeio. 

Logo após a fundação de São Paulo pouca coisa havia para se fazer na vila. Além de trabalhar, os moradores frequentavam as igrejas que iam proliferando aqui e ali, como atestam as denominações das ruas no século XVII. Um dos caminhos ia do Pátio do Colégio à igreja de São Bento e ganhou em 1668 o nome de um morador importante, o bandeirante Manoel Paes Linhares. Com a construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos em 1715 (onde hoje é a Praça Antônio Prado), ficou conhecida como Rua do Rosário. Em 1846, D. Pedro II e esposa visitaram São Paulo e a Câmara Municipal tratou de homenagear a imperatriz Tereza Cristina, mudando o nome da rua. Assim, a Rua do Rosário passou a ser Rua da Imperatriz. Os políticos não mudam e estão atentos às mudanças do vento ou do regime e com a proclamação da República em 1899 resolveram se livrar de tudo que lembrasse o antigo regime (esqueceram que a História não perdoa). Assim, a Rua da Imperatriz tornou-se RUA QUINZE DE NOVEMBRO.
O traçado original tortuoso foi retificado e a Rua Quinze tornou-se um dos logradouros mais importantes da cidade. No início do século passado, era o endereço dos principais jornais de São Paulo: "Correio Paulistano", “Diário Popular" e "O Estado de S. Paulo". Foi o centro bancário da cidade até os anos de 1970, quando o setor se transferiu para a Avenida Paulista. Tem um charme especial.

No princípio, a vila de São Paulo de Piratininga além do colégio pouco ou nada tinha e o vizinho mais ilustre do pedaço era o Cacique Tibiriçá, que ajudara os jesuítas a fundar o povoado. Um dos primeiros caminhos da vila levava à aldeia do cacique, situada onde hoje se encontra o Largo de São Bento, e os portugueses o chamavam de Rua de Martim Afonso Tibiriçá, nome com que batizaram o aliado convertido. Em 1647, quando o convento de São Francisco foi construído, o caminho ficou conhecido como “Rua que vai para São Francisco” e, segundo a prefeitura de São Paulo, tempos depois a população referia-se à "Rua de São Bento para São Francisco", "Rua que vai para São Bento" e "Rua Direita de São Bento", uma notória demonstração da influência da igreja na sociedade da época. Quando a Câmara Municipal, em 1897, deu à rua o nome do coronel Moreira César, militar que combatera na Guerra dos Canudos, a população não gostou e em 1899 teve oficializado o nome que é uma referência ao Mosteiro de São Bento: Rua São Bento. A primeira igreja de São Bento foi construída em 1598 e o mosteiro por volta de 1600. O conjunto foi reformado várias vezes até ser demolido no início do século XX e o novo Mosteiro de São Bento foi inaugurado em 1921.
A RUA SÃO BENTO, que é um calçadão, começa na Rua José Bonifácio, atravessa os Largos do Patriarca e do Café, a Praça Antônio Prado e termina na Rua Boa Vista. Comércio variado, alguns bancos e repartições públicas, galerias e prédios que se tornaram emblemáticos tanto pela beleza como pela história.   

Imagine. A agitada RUA DIREITA de hoje no século XVI era conhecida como “a rua que vai para Santo Antônio”, igreja que, após muitas reformas ao longo dos séculos, resiste no que hoje conhecemos como Praça do Patriarca. É sempre bom lembrar que todas as ruas começam na Sé (Marco Zero da cidade). Bem conhecida de todos a piada de que a rua Direita é torta. Torta, porém resistente. O antigo caminho ia além da igreja, chegava ao Piques, como era a denominação da região entre os atuais Largo da Memória e a Praça da Bandeira. Mais tarde o povo passou a se referir a ela como “Rua Direita da Misericórdia para Santo Antônio”, alusão à igreja da Misericórdia que ficava no Largo da Misericórdia. Do Largo sobrou a placa, mas igreja foi demolida numa das muitas reurbanizações do Centro. Houve várias tentativas para mudar o nome da rua, mas em vão. Venceu a voz do povo. Há muitos anos a Rua Direita é um calçadão e se caracteriza por um comércio popular que tem concorrência ativa de ambulantes (a maioria irregular), que ocupam as calçadas apregoando suas ofertas. O nome foi oficializado em 1916.
As fotos foram feitas em 2019.

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