terça-feira, 14 de abril de 2020

MIGUEL E ARNALDO (1)


Médicos! Ah! Os médicos! Há quem os ame. Há quem abomine, mas na hora do aperto todos recorrem a esse profissional que cuida dos simples mortais ignorantes do que se passa em suas entranhas. É verdade que muitas vezes se veem lidando com situações que lhes são obscuras, mas que nem por isso deixam de enfrentar e fazem o melhor que podem para aliviar o sofrimento dos enfermos. No momento, eles estão na linha de frente combatendo o novo Coronavírus 19.
       Dois médicos brasileiros foram amados especialmente pela população: no Rio de Janeiro, Miguel Couto (1865-1934), em São Paulo, Arnaldo Vieira de Carvalho (1867-1920). Miguel Couto e Arnaldo Vieira de Carvalho tiveram origens muito diferentes, mas trabalharam com o mesmo empenho pelo desenvolvimento da medicina e a modernização do ensino no Brasil.
Os mais velhos primeiro.
Miguel Couto nasceu na zona portuária do Rio de Janeiro. Quando o pai Francisco de Oliveira Couto morreu, a mãe Maria Rosa do Espírito Santo teve que mudar com os quatro filhos para Niterói e trabalhar para o sustento da família. “Minha mãe costurava dia e noite para extrair do anonimato de nossa pobreza um doutor”, disse Miguel Couto. Ainda no curso fundamental (ginásio), trabalhava em uma farmácia para ajudar nas despesas e aos 14 anos era calouro da Faculdade de Medicina; no quarto ano tornou-se interno da enfermaria da Santa Casa de Misericórdia; passou em primeiro lugar no concurso para interno; formou-se aos 20 anos e dedicou-se à Medicina, que norteou também a sua passagem pela política como deputado constituinte.
O médico carioca tinha consultório particular, visitava os pacientes em casa, trabalhava na Santa Casa, lecionava na Faculdade de Medicina e ainda passou pela política concentrando suas ações na educação. Clínico geral, ele começou pesquisando a febre amarela e como professor implantou várias inovações. É célebre a conferência que fez na Associação Brasileira de Educação em 1927 e que serve como uma luva para os dias que correm:
“A ignorância é uma calamidade pública como a guerra, a peste, os cataclismos, e não só uma calamidade, como a maior de todas, porque as outras devastam e passam, como tempestades seguidas de céus de bonança; mas a ignorância...”
[...]
A educação do povo é o nosso primeiro problema nacional; primeiro porque o mais urgente; o primeiro porque resolve todos os outros; primeiro, porque resolvido, colocará o Brasil a par das nações mais cultas, dando-lhe proventos e honrarias e lhe afiançando a prosperidade e segurança; e se assim fez-se o primeiro, na verdade se torna o único.”
Enfim, ele resumiu a questão muito bem no título da palestra: “No Brasil, só há um problema nacional: a educação do povo.”
A morte de Miguel Couto causou uma comoção nacional com manchetes em quase todos os jornais. E para o JORNAL DO BRASIL os funerais do professor Miguel Couto ”tiveram um cunho de verdadeira apoteose”. A despedida reuniu o povo, políticos, intelectuais e amigos que chegaram a paralisar as ruas do Distrito Federal.

(Primeira página do DIÁRIO CARIOCA, Fundação Biblioteca Nacional.)

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