quinta-feira, 9 de abril de 2020

VIAGENS EM TEMPO DE CONFINAMENTO


Essa viagem de trem pelas lembranças me transporta a uma cidade do interior da França. Não lembro qual. Teria que pegar o diário, mas não tenho certeza do ano. Costumo escolher uma cidade estratégica para ficar e explorar o entorno em viagens de um dia. Foi assim que, após uma jornada pela cidadezinha, fui para a gare e como estava adiantada sentei-me em um banco que ficava entre as duas portas de acesso à plataforma de embarque. 
Vagão de trem da Normandia, região francesa muito chuvosa.
É sempre revelador observar as pessoas em trânsito por estações e aeroportos. Chegou um trem, desceram algumas pessoas e, de repente, elas apareceram. À frente vinha a professora seguida por umas dez ou doze meninas entre oito e nove anos. Vinham em fila dupla puxando suas malinhas, por ordem de tamanho, menores à vanguarda. As duas meninas da frente tinham os cabelos penteados em cabeleireiros, impecáveis; as roupas eram muito bonitinhas, novas, mas com um jeito meio antigo. Caminhavam como duas princesas. Confiantes. As demais não chamavam tanta atenção. Eram crianças bonitas, saudáveis e bem arrumadas. No final do batalhão, um tanto atrasada, vinha uma garota muito magra, cabelos loiros escorridos como o vestido que usava, simples e gracioso. Parecia exausta e logo descobri o motivo do cansaço. Era a única cuja mala não tinha rodinhas e, embora não fosse grande, a maleta devia ser pesada para ela. Mais duas professoras cuidavam para que as ovelhinhas não se perdessem. Muito bem comportadas, passaram em silêncio em direção à saída, mas ficaram na minha memória.


Cartões postais ressaltam com bom humor o mau tempo da Normandia.

Nenhum comentário: