Essa viagem de
trem pelas lembranças me transporta a uma cidade do interior da França. Não
lembro qual. Teria que pegar o diário, mas não tenho certeza do ano. Costumo
escolher uma cidade estratégica para ficar e explorar o entorno em viagens de
um dia. Foi assim que, após uma jornada pela cidadezinha, fui para a gare e
como estava adiantada sentei-me em um banco que ficava entre as duas portas de
acesso à plataforma de embarque.
Vagão de trem da Normandia, região francesa muito chuvosa. |
É sempre revelador observar as pessoas em trânsito por estações e
aeroportos. Chegou um trem, desceram algumas pessoas e, de repente, elas apareceram.
À frente vinha a professora seguida por umas dez ou doze meninas entre oito e
nove anos. Vinham em fila dupla puxando suas malinhas, por ordem de tamanho,
menores à vanguarda. As duas meninas da frente tinham os cabelos penteados em
cabeleireiros, impecáveis; as roupas eram muito bonitinhas, novas, mas com um
jeito meio antigo. Caminhavam como duas princesas. Confiantes. As demais não chamavam
tanta atenção. Eram crianças bonitas, saudáveis e bem arrumadas. No final do
batalhão, um tanto atrasada, vinha uma garota muito magra, cabelos loiros escorridos
como o vestido que usava, simples e gracioso. Parecia exausta e logo descobri o
motivo do cansaço. Era a única cuja mala não tinha rodinhas e, embora não fosse
grande, a maleta devia ser pesada para ela. Mais duas professoras cuidavam para
que as ovelhinhas não se perdessem. Muito bem comportadas, passaram em silêncio
em direção à saída, mas ficaram na minha memória.
Cartões postais ressaltam com bom humor o mau tempo da Normandia. |
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