Vivemos uma
experiência estranha em que as segundas-feiras são iguais ao domingo; o
domingo, igual à terça-feira... Bem cedo abri as janelas. A praça e as ruas,
vazias. Mais tarde ouvi crianças aproveitando o sol e quando saíram chegou
Adiles (85) para bordar no banco ensolarado, mas o sol continuava seu caminho e
na praça restou apenas uma sombra agradável. A bordadeira (que conheço há uns
40 anos) também se recolheu. Não preciso sair para tomar sol, momento que
aproveito para começar a leitura do dia.
Nesse período de confinamento, terminei de ler “A História da Loucura” de
Foucault. Vinha lendo aos poucos desde fevereiro. Reli alguns contos de Rex
Stout (sempre agradável), Scott Fitzgerald ("Sonhos de Inverno") e folheei “O Diário de Anne Frank”; e retomarei em breve
“Uma história da leitura”, de Alberto Mangel, pois agora
me distraio com a “História do Quarto”, que li anos atrás e da qual transcrevo
este parágrafo:
“Poder fechar sua
porta, abri-la a quem se quer; entrar, sair, ter a chave de um lugar, quatro
paredes onde se refugiar, tece o desejo do quarto. ‘É preciso ficar em seu
quarto e cultivar seu jardim. É lá que brotam as flores da imaginação’”, diz Jean
d’Ormesson ao entardecer de uma vida da qual escrever foi a melhor parte. ‘Não é
necessário que saias de tua casa. Fica à mesa e escuta’, diz Kafka. Esses
escolheram sua toca, prontos a nela correr os riscos e a sentir as angústias. Outros
aí se resignaram. Outros, por sua vez, suportaram as pressões de um mundo
hostil.” Michelle Perrot (1928), historiadora francesa.
"Y así pasan los días...", como já dizia o cubano Osvaldo Farrés na sua famosíssima "Quizás, quizás, quizás". É, também andei ouvindo boleros.
O quarto em Arles (1888), Van Gogh (1853-1890).
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