sábado, 4 de abril de 2020

DIÁRIO DO CONFINAMENTO

Vivemos uma experiência estranha em que as segundas-feiras são iguais ao domingo; o domingo, igual à terça-feira... Bem cedo abri as janelas. A praça e as ruas, vazias. Mais tarde ouvi crianças aproveitando o sol e quando saíram chegou Adiles (85) para bordar no banco ensolarado, mas o sol continuava seu caminho e na praça restou apenas uma sombra agradável. A bordadeira (que conheço há uns 40 anos) também se recolheu. Não preciso sair para tomar sol, momento que aproveito para começar a leitura do dia.
Nesse período de confinamento, terminei de ler “A História da Loucura” de Foucault. Vinha lendo aos poucos desde fevereiro. Reli alguns contos de Rex Stout (sempre agradável), Scott Fitzgerald ("Sonhos de Inverno") e folheei “O Diário de Anne Frank”; e retomarei em breve “Uma história da leitura”, de Alberto Mangel, pois agora me distraio com a “História do Quarto”, que li anos atrás e da qual transcrevo este parágrafo:

“Poder fechar sua porta, abri-la a quem se quer; entrar, sair, ter a chave de um lugar, quatro paredes onde se refugiar, tece o desejo do quarto. ‘É preciso ficar em seu quarto e cultivar seu jardim. É lá que brotam as flores da imaginação’”, diz Jean d’Ormesson ao entardecer de uma vida da qual escrever foi a melhor parte. ‘Não é necessário que saias de tua casa. Fica à mesa e escuta’, diz Kafka. Esses escolheram sua toca, prontos a nela correr os riscos e a sentir as angústias. Outros aí se resignaram. Outros, por sua vez, suportaram as pressões de um mundo hostil.” Michelle Perrot (1928), historiadora francesa.

         "Y así pasan los días...", como já dizia o cubano Osvaldo Farrés na sua famosíssima "Quizás, quizás, quizás". É, também andei ouvindo boleros. 

O quarto em Arles (1888), Van Gogh (1853-1890).

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