sábado, 15 de julho de 2017

SÃO PAULO E OS FRANCESES
  
São Paulo vista do mirante do Banespa, 2011. Foto: Hilda Prado Araújo.

Blaise Cendrars (1887-1961), escritor.
São Paulo
Adoro esta cidade
São Paulo é conforme meu coração
Aqui nenhuma tradição
Nenhum preconceito
Nem antigo nem moderno
Contam apenas esse apetite furioso essa confiança absoluta esse otimismo essa audácia esse trabalho esse labor essa especulação que fazem construir dez casas por hora de todos os estilos ridículos grotescos belos grandes pequenos norte sul egípcio ianque cubista
Sem outra preocupação além de seguir as estatísticas prever o futuro o conforto a utilidade a mais-valia e atrair uma grande imigração
Todos os países
Todos os povos
Amo isso
As duas três velhas casas portuguesas que restam são azulejos azuis*

Claude Lévi-Strauss (1908-2009): etnólogo.
“[...] São Paulo nunca me pareceu feia: era uma cidade selvagem, como o são todas as cidades americanas, com exceção talvez de Washington, dc, nem selvagem nem domesticada, essa aí, mas antes cativa e morrendo de tédio na gaiola estrelada de avenidas dentro da qual Lenfant a encarcerou”. (Tristes Trópicos, 1955.)

Albert Camus (1913-1960), escritor.
“São Paulo e a noite que cai rapidamente, enquanto os letreiros luminosos se acendem um por um no topo dos arranha-céus espessos, enquanto das palmeiras-reais que se elevam entre os edifícios chega um canto ininterrupto, vindo dos milhares de pássaros que saúdam o fim do dia, encobrindo as buzinas graves que anunciam a volta dos homens de negócios. [...] A cidade de São Paulo, cidade estranha, Oran desmedida.” (Diário de Viagem, 1978.) Oran é um porto mediterrâneo argelino. Camus viajou pelo Brasil em 1949.

François Laplantine (1943) é antropólogo.
“Em São Paulo, tudo anda mais depressa e tudo é maior. [...] o excesso paulistano constitui ao mesmo tempo uma ruptura e uma continuidade em relação à obra dos primeiros conquistadores portugueses. Eles buscavam o Novo Mundo; os paulistanos o constroem com sua sensibilidade, que, para nós, pouco tem a ver coma delicadeza das rendas, mas opera dentro do gigantismo. Os franceses têm muita dificuldade para entender esse país que tem a dimensão de um continente e essa cidade que tem a dimensão de um país.” (Um olhar francês sobre São Paulo, 1993, Editora Brasiliense.)

Claude Olievenstein (1933-2008), psiquiatra.
“São Paulo já está alhures, em outros lugares, sob outras formas. São Paulo não é Nova York, mas, como Nova York, é a manhã de Paris, o hoje é já amanhã.” (Um olhar francês sobre São Paulo, 1993, Editora Brasiliense.)

 Praça João Mendes, 2011. Foto: Hilda P. Araújo.

          *Tradução: Antonio Cícero: http://antoniocicero.blogspot.com.br. 

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