DE ESTRASBURGO A MARSELHA
A
beleza e a força da Marselhesa
são indiscutíveis. (Há quem a considere sangrenta, mas não se fazem
revoluções com meiguice.) Que ninguém se engane com o nome do hino francês.
A Marselhesa não teve origem em Marselha, porto mediterrâneo, mas em
Estrasburgo, no leste da França. O autor é Claude-Josephe Rouget de Lisle
(1760-1836), um engenheiro militar nascido em Franche Comté que, nas horas
vagas, compunha canções vendidas em Paris com sucesso.
No auge da Revolução, a França declarou
guerra à Áustria no dia 20 de abril de 1791, iniciando “a cruzada pela
liberdade universal”, como dizia um dos líderes dos girondinos. Cinco dias
depois, enquanto a guarnição de Estrasburgo preparava-se para partir para a
guerra, nobres (sim), políticos e militares locais reuniram-se em um
jantar regado a brindes e discursos belicosos. Nesse clima de entusiasmo alguém
perguntou a de Lisle se ele não poderia compor uma canção que servisse de
marcha patriótica para os soldados que partiam.
Lisle
foi para casa e trabalhou durante toda a noite na composição do Chant de Guerre pour l’Armée du Rhin e
pela manhã mostrou a obra ao barão Dietrich, prefeito da cidade, que a
apresentou publicamente três dias depois. O compositor conseguiu um resultado
brilhante, usando em seus versos invocações familiares, bélicas e patrióticas,
que a música acompanha em nuances que variam do suave ao grandioso.
A
música só se tornou um sucesso absoluto no ano seguinte, quando 500 voluntários
marcharam de Marselha a Paris para defender a Revolução, cantando a canção de Lisle,
que ficou desde então conhecida como ”la
Marseillaise”, transformada em hino nacional em 1795. Entretanto, a marcha
não escapou das artimanhas políticas e perdeu e reconquistou o status de hino várias vezes.
A Marselhesa, Arco do Triunfo, Paris, 8/05/2012. |
Rouget
de Lisle salvou-se da guilhotina, no período do Terror, graças à composição.
Mais tarde, quando Napoleão assumiu o poder, baniu o hino que só voltou a ser a
reconhecido na Revolução de 1830 e até foi reorquestrado por Hector
Berlioz. Napoleão III também aboliu a Marselhesa, que em 1879 voltou a ser
reconhecida como o hino nacional francês.
(Foto: H.P.P. Araújo.)
(Foto: H.P.P. Araújo.)
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