O psiquiatra
paraibano Osório Thaumaturgo Cesar (1895-1979)
iniciou a luta pela humanização do tratamento dos alienados e introduziu a arte
como recurso terapêutico em psiquiatria no Brasil. Viveu um período na Europa,
onde foi discípulo de Carl Jung. Estabeleceu-se em São Paulo, no início de 1931,
casou-se com Tarsila do Amaral (uma união que durou pouco) e trabalhou no
Hospital Psiquiátrico do Juquery (Franco da Rocha) até 1965, quando se
aposentou. Ali fundou a Escola Livre de Artes Plásticas cujas exposições, mais
de cinquenta, atraíram atenção de intelectuais como Sérgio Milliet e Flávio de
Carvalho. A Escola foi desativada em 1970. Entre seus vários livros, destaca-se
Misticismo e Loucura, premiado pela
Academia Brasileira de Letras em 1948. Osório Cesar doou parte da sua coleção
para o Museu de Arte de São Paulo, que realizou três exposições das obras,
sendo a última em 2015.
Os trabalhos produzidos na Escola foram
reunidos, na década de 1980, pela professora de arte Maria Heloísa Corrêa de
Toledo Ferraz (ECA/USP), responsável pela organização do Museu Osório Cesar,
inaugurado em 1985 em um dos pavilhões do complexo do Juquery.
No momento, é possível conhecer algumas obras
dos internos – quase todos anônimos – do Sanatório Pinel (Pirituba) e do Manicômio Judiciário do
Juquery – reunidas na mostra promovida pelo Arquivo
Público do Estado de São Paulo, aberta à visitação de segunda à sexta-feira das
9 às 16h30.
Se o título da exposição
não é dos melhores (Mais que humanos –
Arte no Juquery), o conteúdo é muito valioso sob vários aspectos. Além das
pinturas e esculturas, que expressam o sofrimento e as angústias dos pacientes,
é possível ler os prontuários de dezoito internos do Pinel. Esses documentos
revelam a história dessas pessoas, o motivo do encaminhamento para internação e
a avaliação médica ao ingressar na instituição, onde frequentemente eram
abandonadas pela família.
Ao percorrer a exposição
chama atenção a poesia de Stela do Patrocínio (1941-1997), internada por 35
anos na Colônia Juliano Moreira (Rio de Janeiro).
É dito: pelo
chão você não pode ficar
Porque lugar
da cabeça é na cabeça
Lugar de
corpo é no corpo
Pelas paredes
você também não pode
Pelas camas
também você não vai poder ficar
Pelo espaço
vazio você também não vai poder ficar
Porque lugar
da cabeça é na cabeça
Lugar de
corpo é no corpo
A exposição é uma parceria da APESP, Museu de Saúde Pública Emílio
Ribas – Instituto Butantã, Instituto de Psicologia da USP, Museu Osório Cesar –
Complexo Hospitalar do Juquery.
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