AVE,
AVES!
O
jornal CIDADE DE SANTOS (1967-1987) ficava na esquina das ruas XV e do
Comércio. Uma tarde saí para fazer uma reportagem na Bolsa do Café – a uma
quadra da empresa e, quando pus o pé no degrau do prédio da Bolsa, o pombo me
acertou. Um susto. Nojo. Uma decisão rápida. Voltei para a redação, lavei a
cabeça entre muitas reclamações (minhas) e piadas (dos outros) e retornei ao
trabalho. Meu chefe tentou me consolar, dizendo que era sinal de sorte. “Sorte
sua, que não foi o atingido”, respondi indignada.
Ainda
a serviço do mesmo jornal fui enviada para cobrir algum evento na Ponta da
Praia, ainda um bairro de pescadores e pequenos estaleiros escondidos em um
grande matagal. No final da tarde, a praia ficava cheia de barcos e ali era
descarregada a produção do dia. Muita gente ia comprar peixe fresco direto dos
pescadores que, por cortesia, limpavam o pescado, deixando as vísceras por ali
mesmo. Um grande atrativo para urubus que passavam as horas sobrevoando e
passeando pela praia à espera da comida fácil. Lembro-me bem que era uma tarde
chuvosa e eu usava uma capa que, para meu grande desgosto, foi batizada
solenemente por uma das aves.
Décadas
depois estava flanando por Lisboa quando um pombo português resolveu deixar
suas marcas em meu rabo-de-cavalo. Disse alguns desaforos para o alto, embora o
autor do ultraje não estivesse à vista. Por sorte (mesmo?) ainda estava perto
do hotel e retornei para um novo banho. Eu teria achado que minha cota de
desastres com a avifauna já estava superada, mas...
Alguns
anos depois de Lisboa fui a uma conferência no Instituto Goethe em São Paulo.
Verão. Fim de tarde. Mais uma vez um columbídeo me esperava no telhado do
prédio. Oh! Que asco! O jeito foi lavar a cabeça na pia enquanto resmungava.
Em
2015, andei por campos e montanhas ingleses e escoceses despreocupadamente. O perigo,
contudo, estava nas cidades e tinha outro nome: gaivota. Felizmente, as
atacantes (sim, é um ataque!) acertaram no anorak ou no casaco. Foram três fatídicos eventos!
Puxa!
É demais! – dirão alguns. Entretanto, no início deste ano novamente um pombo,
incapaz de me acertar, deixou a lembrança em algum lugar onde a distrailda se encostou,
sujando a roupa.
Lembrei-me
dessa odisseia escatológica porque um pombo veio me visitar esta manhã. Pousou na
minha janela e ficou me observando a escrever. Imagino se está em missão de
reconhecimento. A verdade é que, apesar de tudo, gosto muito deles. São aves
graciosas e elegantes. Eles proliferaram nos centros urbanos por causa do
alimento abundante, se tornaram uma praga, transmitem doenças. No Marrocos e no
Egito, são criados para consumo e são muito apreciados. Muitos países
tornaram-se grandes criadores de pombos-correios, inclusive o Brasil. O
visitante foi embora. Dispenso conselho de engraçadinhos para carregar sempre
um guarda-chuva...
Oxford: gaivota entretida com comida – lixo deixado por turistas. Foto: Hilda Araújo, 12/06/2015. |
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