As praias brancas se debruçam preguiçosas no
mar. As gaivotas cortam o céu acompanhando as escunas que deslizam em direção
ao atracadouro. O visitante aprecia toda essa beleza sob a sombra convidativa
das amendoeiras da praia e das palmeiras da Ilha Anchieta (Ubatuba), no Litoral
Norte de São Paulo.
Este cenário maravilhoso já conhecido pelo
Padre Anchieta no século XVI, esconde um passado de horrores que culminou com
uma chacina há 65 anos. Ela é a Ilha dos Porcos, que aparece nos antigos livros
de história e geografia, e ainda tinha esse nome em 1902, quando as autoridades
(presidente Afonso Pena e governador Jorge Tibiriçá) acharam que aquele era o
local ideal para abrigar um instituto disciplinar e uma colônia correcional.
O primeiro era destinado à “formação de
hábitos de trabalho e educação de menores abandonados, além de oferecer
instrução literária, profissional, industrial e agrícola” e a segunda, à
“correção pelo trabalho dos vadios e vagabundos”. (Só faltou a placa: o trabalho liberta.) Assim, os moradores
foram retirados da Ilha, que tem 828 hectares de Mata AtlÂntica e fica a 8 km
da costa. As construções da antiga vila foram aproveitadas e o estado mandou
fazer o conjunto do instituto, que é atribuído ao escritório do arquiteto Ramos
de Azevedo.
Em 1904, o complexo já estava funcionando e
não foi preciso mais do que uma década para se perceber que a ideia não tinha
sido uma das melhores e aos poucos os presos foram sendo transferidos para
Taubaté para desativação do conjunto. Entretanto, em 1928, as autoridades se
lembraram da ilha e, no início dos anos da década de 1930, reativaram as
instalações agora como presídio político.
O nome da ilha foi mudado por Getulio Vargas,
em 1934, quando se comemorou o quarto centenário da morte do Padre Anchieta,
que certamente não ficou nada feliz com a cortesia. O perfil do presídio por
essa época já havia mudado novamente. Os presos políticos deram lugar aos
condenados mais perigosos. Em 1946, recebeu os japoneses do Xindô-Remei – que chegaram a promover um motim, como relata Fernando Morais, no
livro Corações Sujos (Companhia das
Letras/2001).
Em 1952, segundo o noticiário dos jornais,
havia 450 presos cumprindo pena – entre os quais o famoso Sete Dedos. Nesse ano, explodiu a rebelião, que
resultou na fuga de 107 presidiários e na morte de presos e vários funcionários
e membros da guarda. Alguns presos conseguiram chegar ao continente e
aterrorizaram as populações do litoral. O episodio sangrento decretou o fim do
presídio, fechado, definitivamente, em 1954.
Com o movimento ambientalista a partir da
Conferência de Estocolmo, começa a surgir uma consciência ecológica na
sociedade brasileira e em 1977 a Ilha foi transformada em Parque Estadual e
oito anos depois foi tombada pela Secretaria de Cultura e mais tarde passou a
ser administrada pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente, através do
Instituto Florestal. Um lugar para se desfrutar de toda beleza da Mata Atlântica.
Hoje, o visitante desfruta da beleza,
percorre trilhas e, com sorte, pode observar vários animais nativos,
principalmente bugios. Um dos acessos é ao Parque Estadual Ilha Anchieta é o
atracadouro do Instituto Florestal, em Ubatuba, no Saco da Ribeira. O trajeto
de 4,3 milhas náuticas entre o continente e a ilha varia entre 30 e 50 minutos.
(Telefone: (12) 3842-1231.)
(Telefone: (12) 3842-1231.)
Foto: site da SMA/SP. Tony Fleury. |
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