quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

ILHA ANCHIETA



As praias brancas se debruçam preguiçosas no mar. As gaivotas cortam o céu acompanhando as escunas que deslizam em direção ao atracadouro. O visitante aprecia toda essa beleza sob a sombra convidativa das amendoeiras da praia e das palmeiras da Ilha Anchieta (Ubatuba), no Litoral Norte de São Paulo.

Este cenário maravilhoso já conhecido pelo Padre Anchieta no século XVI, esconde um passado de horrores que culminou com uma chacina há 65 anos. Ela é a Ilha dos Porcos, que aparece nos antigos livros de história e geografia, e ainda tinha esse nome em 1902, quando as autoridades (presidente Afonso Pena e governador Jorge Tibiriçá) acharam que aquele era o local ideal para abrigar um instituto disciplinar e uma colônia correcional.

O primeiro era destinado à “formação de hábitos de trabalho e educação de menores abandonados, além de oferecer instrução literária, profissional, industrial e agrícola” e a segunda, à “correção pelo trabalho dos vadios e vagabundos”. (Só faltou a placa: o trabalho liberta.) Assim, os moradores foram retirados da Ilha, que tem 828 hectares de Mata AtlÂntica e fica a 8 km da costa. As construções da antiga vila foram aproveitadas e o estado mandou fazer o conjunto do instituto, que é atribuído ao escritório do arquiteto Ramos de Azevedo.

Em 1904, o complexo já estava funcionando e não foi preciso mais do que uma década para se perceber que a ideia não tinha sido uma das melhores e aos poucos os presos foram sendo transferidos para Taubaté para desativação do conjunto. Entretanto, em 1928, as autoridades se lembraram da ilha e, no início dos anos da década de 1930, reativaram as instalações agora como presídio político.

O nome da ilha foi mudado por Getulio Vargas, em 1934, quando se comemorou o quarto centenário da morte do Padre Anchieta, que certamente não ficou nada feliz com a cortesia. O perfil do presídio por essa época já havia mudado novamente. Os presos políticos deram lugar aos condenados mais perigosos. Em 1946, recebeu os japoneses do Xindô-Remei – que chegaram a promover um motim, como relata Fernando Morais, no livro Corações Sujos (Companhia das Letras/2001).

Em 1952, segundo o noticiário dos jornais, havia 450 presos cumprindo pena – entre os quais o famoso Sete Dedos. Nesse ano, explodiu a rebelião, que resultou na fuga de 107 presidiários e na morte de presos e vários funcionários e membros da guarda. Alguns presos conseguiram chegar ao continente e aterrorizaram as populações do litoral. O episodio sangrento decretou o fim do presídio, fechado, definitivamente, em 1954.

Com o movimento ambientalista a partir da Conferência de Estocolmo, começa a surgir uma consciência ecológica na sociedade brasileira e em 1977 a Ilha foi transformada em Parque Estadual e oito anos depois foi tombada pela Secretaria de Cultura e mais tarde passou a ser administrada pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente, através do Instituto Florestal. Um lugar para se desfrutar de toda beleza da Mata Atlântica.

Hoje, o visitante desfruta da beleza, percorre trilhas e, com sorte, pode observar vários animais nativos, principalmente bugios. Um dos acessos é ao Parque Estadual Ilha Anchieta é o atracadouro do Instituto Florestal, em Ubatuba, no Saco da Ribeira. O trajeto de 4,3 milhas náuticas entre o continente e a ilha varia entre 30 e 50 minutos. 
(Telefone: (12) 3842-1231.)

Foto: site da SMA/SP. Tony Fleury.

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