terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

A CONQUISTA DE MONTE CASTELO
O tenente-coronel Emilio Rodrigues Franklin, comandante de um dos batalhões do  Regimento Sampaio, pegou o telefone de campanha e deu a notícia aos generais Mascarenhas de Moraes e Cordeiro de Farias: “Estou no cume de Monte Castelo.” Eram 17h50 do dia 21 de fevereiro de 1945.  Um dia histórico para não ser esquecido pelos brasileiros. Há 72 anos os soldados da Força Expedicionária Brasileira – FEB conquistaram uma das mais importantes vitórias da II Guerra Mundial, na Itália: a tomada de Monte Castelo, nos Apeninos, entre a Toscana e a Emilia.  Desde novembro de 1944 os aliados, já com a participação da FEB, vinham tentando remover os alemães daquele ponto estratégico para a evolução da campanha da Itália.
Essa vitória teve uma conotação especial para os brasileiros, que lutavam em terra estranha em condições completamente novas de clima, topografia e mesmo culturais. A trajetória da Força Expedicionária Brasileira foi relatada por cinco correspondentes de guerra: Joel Silveira, dos Diários Associados, Rubem Braga do Diário Carioca, Egydio Squeff, de O Globo, Raul Brandão do Correio da Manhã e Thassilo Mitke da Agência Nacional. Não foi a cobertura que eles desejavam, pois se não combatiam na guerra, enfrentavam uma brava luta contra duas censuras: a militar e a do governo brasileiro.
A 1ª. Divisão de Infantaria Expedicionária da FEB teve seis escalões e foi constituída de 25.334 homens. O primeiro escalão partiu para a Itália em 2 de julho de 1944 com 5.075 homens e desembarcou em Nápoles em 16 de julho. O segundo e terceiro escalões deixaram o Rio em setembro com 10.375 praças. O quarto escalão teve 4.691 soldados e o quinto, 5.082; o sexto escalão, com pessoal de apoio (médicos, enfermeiros etc.), compunha-se de 111 expedicionários. O transporte dos combatentes foi feito a bordo dos navios americanos General Mann e General Meigs; exceto o sexto escalão que foi de avião.
 Todos os Estados brasileiros estavam representados no contingente que foi para a Itália. A FEB era formada pelo 1º Regimento de Infantaria – Regimento Sampaio, do Rio de Janeiro; 6º RI de Caçapava (SP); 11º RI de São João Del Rey, de Minas; quatro grupos de artilharia do 9º Batalhão de Engenharia de Aquidauana  (Mato Grosso); um esquadrão de reconhecimento (Cavalaria) e 1º Batalhão de Saúde (Valença, RJ), além das chamadas tropas especiais e de corpos auxiliares, o que incluía 67 enfermeiras. A FEB foi incorporada ao V Exército americano em 5 de agosto de 1944 e considerada pronta para batalha em 10 de setembro.
Desde a mobilização em setembro de 1943 até o embarque propriamente decorreu um período de inação pelos motivos mais variados: dúvidas que assolavam o governo, as condições de saúde do pessoal arregimentado, treinamento de pessoal no exterior, a falta de preparo das tropas, e da infraestrutura necessária (esta seria fornecida pelos americanos).
Esse período de inércia fez com que a FEB virasse motivo de piada entre alguns setores da sociedade. A mais sarcástica dizia que: “é mais fácil uma cobrar fumar, do que FEB embarcar”. Quando, enfim, foi dada a ordem de partir, a resposta às piadas não se fez esperar. O lema dos expedicionários passou a ser “A cobra vai fumar”. A adoção oficial do emblema com a cobra negra, olhos chispantes e cachimbo fumarento à boca só aconteceu na Itália, durante encontro do ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, com o general Mark Clark, comandante do V Exército.
A participação da FEB na II Guerra durou sete meses e 19 dias; nesse período morreram 443 homens entre soldados e oficiais e cerca de três mil foram feridos em batalha. São Paulo foi o Estado com maior número de mortos: 92. O Maranhão não teve nenhuma perda. As forças brasileiras fizeram 20.573 prisioneiros – entre eles dois generais, o alemão Otto Fretter e o italiano Mario Carlonio, comandante dos restos da divisão de Versagliere.
Quando Getúlio determinou a convocação e abriu o voluntariado, certamente deveria saber que estava assinando o começo do fim do Estado Novo. Lutar pela democracia no mundo ao lado dos aliados parecia, no mínimo, incoerente. Ditador há 12 anos, período em que namorou descaradamente o fascismo e o nazismo, ele cedeu aos apelos do presidente Franklin D. Roosevelt e atendeu às exigências da população brasileira de reação aos ataques covardes dos alemães aos navios mercantes nacionais nos quais morreram 1.081 brasileiros do que em solo italiano.
A vitória dos Aliados – que nenhuma censura interna podia esconder – foram um incentivo para que os brasileiros demonstrassem sua insatisfação com o Estado Novo, em manifestações públicas em prol da democracia cada vez mais expressivas. Os feitos da FEB tiveram um papel importante nessa luta democrática sem armas, que os livros de história não relatam – tão importante que Getúlio apressou-se em desmobilizar o contingente antes mesmo que os pracinhas desembarcassem no Rio. A FEB era a prova real de que o Estado Novo não podia continuar. Em 29 de outubro de 1945, José Linhares assumiu provisoriamente a presidência da República e o general Gaspar Dutra foi eleito presidente nas eleições de 2 de dezembro do mesmo ano, assumindo no último dia de 1945, data em que se instalou também a Assembleia Constituinte.  Fotos: Hilda Araújo: Itália, 2012; RJ, 2015.

Homenagem da população de Porreta Terme (Itália) aos soldados da FEB.

Porreta Terme, Itália: monumento aos brasileiros.

Rio de Janeiro: Monumento aos Mortos da II Guerra.
 Escultura de Alfredo Ceschiatti (1918-1989).

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