A CONQUISTA DE MONTE CASTELO
O
tenente-coronel Emilio Rodrigues Franklin, comandante de um dos batalhões
do Regimento Sampaio, pegou o telefone
de campanha e deu a notícia aos generais Mascarenhas de Moraes e Cordeiro de
Farias: “Estou no cume de Monte Castelo.” Eram 17h50 do dia 21 de fevereiro de
1945. Um dia histórico para não ser
esquecido pelos brasileiros. Há 72 anos os soldados da Força Expedicionária
Brasileira – FEB conquistaram uma das mais importantes vitórias da II Guerra
Mundial, na Itália: a tomada de Monte Castelo, nos Apeninos, entre a Toscana e
a Emilia. Desde novembro de 1944 os
aliados, já com a participação da FEB, vinham tentando remover os alemães
daquele ponto estratégico para a evolução da campanha da Itália.
Essa
vitória teve uma conotação especial para os brasileiros, que lutavam em terra
estranha em condições completamente novas de clima, topografia e mesmo
culturais. A trajetória da Força Expedicionária Brasileira foi relatada por
cinco correspondentes de guerra: Joel Silveira, dos Diários Associados, Rubem Braga do Diário Carioca, Egydio Squeff, de O Globo, Raul Brandão do Correio
da Manhã e Thassilo Mitke da Agência
Nacional. Não foi a cobertura que eles desejavam, pois se não combatiam na
guerra, enfrentavam uma brava luta contra duas censuras: a militar e a do
governo brasileiro.
A 1ª.
Divisão de Infantaria Expedicionária da FEB teve seis escalões e foi
constituída de 25.334 homens. O primeiro escalão partiu para a Itália em 2 de
julho de 1944 com 5.075 homens e desembarcou em Nápoles em 16 de julho. O
segundo e terceiro escalões deixaram o Rio em setembro com 10.375 praças. O
quarto escalão teve 4.691 soldados e o quinto, 5.082; o sexto escalão, com
pessoal de apoio (médicos, enfermeiros etc.), compunha-se de 111
expedicionários. O transporte dos combatentes foi feito a bordo dos navios
americanos General Mann e General Meigs; exceto o sexto escalão
que foi de avião.
Todos os Estados brasileiros estavam
representados no contingente que foi para a Itália. A FEB era formada pelo 1º
Regimento de Infantaria – Regimento Sampaio, do Rio de Janeiro; 6º RI de
Caçapava (SP); 11º RI de São João Del Rey, de Minas; quatro grupos de
artilharia do 9º Batalhão de Engenharia de Aquidauana (Mato Grosso); um esquadrão de reconhecimento
(Cavalaria) e 1º Batalhão de Saúde (Valença, RJ), além das chamadas tropas
especiais e de corpos auxiliares, o que incluía 67 enfermeiras. A FEB foi
incorporada ao V Exército americano em 5 de agosto de 1944 e considerada pronta
para batalha em 10 de setembro.
Desde
a mobilização em setembro de 1943 até o embarque propriamente decorreu um
período de inação pelos motivos mais variados: dúvidas que assolavam o governo,
as condições de saúde do pessoal arregimentado, treinamento de pessoal no
exterior, a falta de preparo das tropas, e da infraestrutura necessária (esta
seria fornecida pelos americanos).
Esse
período de inércia fez com que a FEB virasse motivo de piada entre alguns
setores da sociedade. A mais sarcástica dizia que: “é mais fácil uma cobrar
fumar, do que FEB embarcar”. Quando, enfim, foi dada a ordem de partir, a
resposta às piadas não se fez esperar. O lema dos expedicionários passou a ser
“A cobra vai fumar”. A adoção oficial do emblema com a cobra negra, olhos
chispantes e cachimbo fumarento à boca só aconteceu na Itália, durante encontro
do ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, com o general Mark Clark,
comandante do V Exército.
A
participação da FEB na II Guerra durou sete meses e 19 dias; nesse período
morreram 443 homens entre soldados e oficiais e cerca de três mil foram feridos
em batalha. São Paulo foi o Estado com maior número de mortos: 92. O Maranhão
não teve nenhuma perda. As forças brasileiras fizeram 20.573 prisioneiros –
entre eles dois generais, o alemão Otto Fretter e o italiano Mario Carlonio,
comandante dos restos da divisão de Versagliere.
Quando
Getúlio determinou a convocação e abriu o voluntariado, certamente deveria
saber que estava assinando o começo do fim do Estado Novo. Lutar pela
democracia no mundo ao lado dos aliados parecia, no mínimo, incoerente. Ditador
há 12 anos, período em que namorou descaradamente o fascismo e o nazismo, ele
cedeu aos apelos do presidente Franklin D. Roosevelt e atendeu às exigências da
população brasileira de reação aos ataques covardes dos alemães aos navios
mercantes nacionais nos quais morreram 1.081 brasileiros do que em solo
italiano.
A vitória dos Aliados – que nenhuma censura interna podia esconder – foram um incentivo para que os brasileiros demonstrassem sua insatisfação com o Estado Novo, em manifestações públicas em prol da democracia cada vez mais expressivas. Os feitos da FEB tiveram um papel importante nessa luta democrática sem armas, que os livros de história não relatam – tão importante que Getúlio apressou-se em desmobilizar o contingente antes mesmo que os pracinhas desembarcassem no Rio. A FEB era a prova real de que o Estado Novo não podia continuar. Em 29 de outubro de 1945, José Linhares assumiu provisoriamente a presidência da República e o general Gaspar Dutra foi eleito presidente nas eleições de 2 de dezembro do mesmo ano, assumindo no último dia de 1945, data em que se instalou também a Assembleia Constituinte. Fotos: Hilda Araújo: Itália, 2012; RJ, 2015.
A vitória dos Aliados – que nenhuma censura interna podia esconder – foram um incentivo para que os brasileiros demonstrassem sua insatisfação com o Estado Novo, em manifestações públicas em prol da democracia cada vez mais expressivas. Os feitos da FEB tiveram um papel importante nessa luta democrática sem armas, que os livros de história não relatam – tão importante que Getúlio apressou-se em desmobilizar o contingente antes mesmo que os pracinhas desembarcassem no Rio. A FEB era a prova real de que o Estado Novo não podia continuar. Em 29 de outubro de 1945, José Linhares assumiu provisoriamente a presidência da República e o general Gaspar Dutra foi eleito presidente nas eleições de 2 de dezembro do mesmo ano, assumindo no último dia de 1945, data em que se instalou também a Assembleia Constituinte. Fotos: Hilda Araújo: Itália, 2012; RJ, 2015.
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