CEMITÉRIO DA CONSOLAÇÃO
Arte tumular
O guia Francivaldo Almeida Gomes (Popó) contando história com muito talento. Foto sem crédito, site da Prefeitura de São Paulo. |
Domingo de sol. Imagino um passeio
tranquilo, sem muita gente. Aonde ir? Então me lembro de um lugar ao ar livre, que
certamente terá pouca gente: Cemitério da Consolação. Mórbido? Nem um pouco.
Lido bem com a morte. É inevitável. E o Cemitério da Consolação reúne História
e arte da cidade de São Paulo, além ser uma demonstração de que a vaidade
humana, por mais vã que seja, pode incentivar o estudo e a pesquisa sobre as
pessoas que contribuíram de alguma forma para a formação desta megacidade.
Não sou a única a pensar dessa forma:
há dez anos a Prefeitura mantém um programa de visitas guiadas; contudo, fui
disposta a fazer meu próprio caminho a partir de um mapa com o roteiro do que
vale a pena ver nessa necrópole – não se esqueça de que depende de você
encontrar a beleza, que pode estar em qualquer lugar.
O cemitério da Consolação completará
em breve 160 anos – (o famoso Père Lachaise de Paris, tem 214!). Depois de
percorrer sem rumo as alamedas sombreadas, felizmente, encontrei Francivaldo
Almeida Gomes (Popó) que, não me deixou partir sem ver o que eu queria – os
túmulos de Mário e Oswald de Andrade, Monteiro Lobato e Eduardo Prado – e muito
mais, como as obras de Victor Brecheret, Nicola Rolo, Luigi Brizzolara, Gelileo
Ugo Emendabili,entre centenas de escultores anônimos, mas não menos
interessantes.
Tumba da Marquesa de Santos. |
Popó, cearense de Crateús, conhece praticamente tudo sobre o cemitério
da Consolação e seus ocupantes – antigos e recentes. Eu achava que a marquesa de Santos,
Domitila de Castro Canto e Melo, doara o terreno para a cidade, mas Popó me
esclareceu que a área de 76.340 m² já era
da cidade e a marquesa contribuiu com uma doação generosa para as obras. A
campa de Maria Domitila é bem simples, contrapondo-se a verdadeiros monumentos como
o Mausoléu da família Nami Jafet – uma obra em bronze do escultor italiano
Materno Giribaldi (1870-1935), que viveu três anos em São Paulo; ou do Mausoléu
da família Francesco Matarazzo, ambos empresários; os do presidente Campos
Salles (1841-1913). Em matéria de simplicidade e elegância, destaca-se o
Mausoléu de Ramos de Azevedo, desenhado por ele mesmo.
Belíssima a obra de Victor Brecheret
(1894-1955) – O Sepultamento, no túmulo de Olivia Guedes de Penteado
(1872-1934), sobrinha de Yolanda Penteado (1903-1983). A escultura foi premiada
no Salão de Outono de Paris de 1923. Ela é vizinha de Tarsila do Amaral
(1886-1973) – um túmulo simples onde alguém colocou flores numa garrafinha. Discreto,
mas criativo, o túmulo do presidente da Província de São Paulo Washington Luis
(1859-1957), que tem uma bandeira nacional dobrada. José
Alves de Cerqueira César (1835-1911), que governou São Paulo entre
1891/1892 e após ser eleito senador renunciou antes de assumir, também tem um
belo mausoléu, que ficou pronto muitos anos depois da morte dele por causa da I
Guerra Mundial (1914-1918), que impossibilitou a importação do material para a obra.
O Sepultamento, de Brecheret, 1923. |
Mausoléu do presidente Campos Salles. |
Mausoléu de Cerqueira César. |
Autor desconhecido. |
. Fotos: Hilda Prado Araújo, 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário