sábado, 13 de agosto de 2022

ANOS 1950, GRANDES MUDANÇAS.

É tarde. Os marujos

ficarão ao largo. Nesta

noite não vão descarregar

suas agonias nas bocas pesadas.

Vão ficar de longe, espiando

os anúncios luminosos que

piscam debochando dos tristes

por esta noite de solidão

Plínio Marcos (1935-1999), dramaturgo santista.

 

O Porto gerou a vila, que gerou a cidade, que enriqueceu o município e a maior parte da população abandonou suas origens: nos anos cinquenta, quase todas as famílias já haviam migrado para os bairros além dos morros, aproximando-se da praia. O centro, já em decadência, cedeu lugar aos prostíbulos, bares baratos, boates de baixo nível frequentadas por marinheiros, marítimos e por um certo público sofisticado que gostava desse submundo bizarro. Em 1957, o Porto de Santos já contava com 6.260 metros de cais em operação, com várias instalações especiais. A ilha de Barnabé, da Companhia Docas de Santos, abrigava 43 tanques de aço, com a capacidade total de 211.102 m³; no cais do Valongo, Saboó e Valongo, mais 16 tanques metálicos destinavam-se a receber óleo cru e óleo combustível. Os Armazéns compreendiam uma área coberta de 301.084 metros.

O café continuava sendo o principal produto de exportação. Segundo dados do IBGE, o índice do preço de exportação de café em 1951 foi de US$ 110,94 a saca e foi aumentando até atingir em 1954 o valor de US$ 127,56 para cair no ano seguinte para US$ 105,60. Em 1952, foi criado o Instituto Brasileiro do Café –-IBC, formado principalmente por cafeicultores. A função do IBC era definir as diretrizes da política cafeeira. Entre as suas primeiras ações incluem-se a regulamentação de embarque de café e a criação de um escritório em Nova York e agências em Santos, Rio de Janeiro, Angra dos Reis, Vitória, Salvador e Recife além de agências estaduais nas regiões produtoras.

No final dos anos cinquenta, aconteceu a grande revolução nos transportes marítimos de carga com a adoção do sistema de contêineres. As principais consequências do novo modelo foram mais rapidez, segurança e economia, porém, com significativa diminuição dos postos de trabalho.

Foi por essa época que teve início o processo de industrialização da Baixada, que absorveria mão de obra local e ainda atrairia trabalhadores de todo o país.

                                                             Cai cai balão, cai cai balão

Na rua do sabão

Não Cai não, não cai não, não cai não

Cai aqui na minha mão!

Folclore brasileiro.

 

Cubatão já deixara de pertencer a Santos no final dos anos de 1940. A campanha pela emancipação de Cubatão ganhou força com o apoio do deputado estadual Lincoln Feliciano (1893-1971) e em 17 de outubro de 1948 realizou-se o plebiscito que decidiu pela emancipação política do distrito. Foram 1.017 votos pró desmembramento, 82 votos contra e um voto em branco. Com este resultado, o governador Ademar de Barros (1901-1969) sancionou a Lei nº 283 de 24 de dezembro do mesmo ano, fixando o quadro territorial e administrativo do Estado. 

            Os anos cinquenta marcaram o início da industrialização do município, com reflexos sobre toda a Baixada Santista. A primeira a chegar foi a Companhia Siderúrgica Paulista – COSIPA, constituída em 23 de novembro de 1953. De acordo com Martinho Prado Uchoa, um dos fundadores da empresa, a ideia surgiu em 21 de abril de 1951, durante uma visita às instalações da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a primeira usina de coque do Brasil. O interessante na história de Plínio é que a sugestão da usina já foi apresentada com nome e endereço: ela seria em Cubatão e batizada como Companhia Siderúrgica Paulista. A ideia foi bem recebida, conseguiu apoio da Assembleia Legislativa e da imprensa. O grupo que se constituíra para implementar o projeto conseguiu comprar o terreno de aproximadamente 70 alqueires, ou seja, cerca de 4,1 milhões de metros quadrados, em Piaçaguera, Cubatão, de propriedade de Adelino da Rocha Brites.

Embora tenha sido pioneira, foi a Refinaria Presidente Bernardes que começou a operar primeiro. A inauguração da primeira parte do projeto da COSIPA – Usina José Bonifácio de Andrade e Silva, entretanto, só aconteceria na década seguinte: 18 de dezembro de 1963.  Em 1993, a COSIPA foi privatizada em leilão, passando a ser controlada pela USIMINAS, mas só em 2009 teve o nome alterado, mas essa é uma outra história... (Ver Museu Virtual da COSIPA.)

            Depois de uma ampla mobilização e de demoradas negociações, em 3 de outubro de 1953, o presidente Getúlio Vargas sancionou a Lei nº 2004, criando a Petrobrás e instituindo o monopólio estatal do petróleo. Na época, o País consumia cerca de 70 mil barris por dia – o principal produtor brasileiro era o Recôncavo Baiano e a complementação era feita com importações da Venezuela e da Arábia Saudita. A Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão começou a operar com uma vazão de treze mil barris por dia. A meta na primeira etapa era processar diariamente 45 mil barris.

            O recrutamento da mão de obra tinha um atrativo especial: os salários já que a maioria dos postos exigia trabalho em turnos, que incluía os fins de semana. Para preparar a mão de obra especializada, além da ajuda do Serviço Nacional da Industria – SENAI, foi organizado o Centro de Treinamento de Cubatão. Os engenheiros foram preparados no Centro de Aperfeiçoamento e Pesquisas de Petróleo – CENAP.

A inauguração da Refinaria aconteceu em 16 de abril de 1955. Com esta nova fase, acaba uma das tradições de Santos: os balões que nas noites frias de junho que iluminavam os céus da cidade. Uma curiosidade: o balão dos presos fazia parte dessa tradição. Na época das festas juninas, os presidiários lançavam uma campanha de arrecadação de dinheiro a fim de comprar material para confeccionar o balão. A imprensa costumava colaborar, divulgando a pedido dos presidiários e o balanço da arrecadação. Assim, no dia marcado, a população ia ver o balão dos presos subir.

*Barril é medida de volume equivalente a 159 litros. 
Fonte: Santos e o Porto, em 1957, site www.novomilenio.com.br , citando publicação da CDS, da Magazin das Nações - Editora & Publicidade Roman Ltda. (São Paulo, Santos, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Los Angeles).
Monte Serrat: vista parcial do Porto de Santos, 2007.






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