sexta-feira, 26 de agosto de 2022

UM MANEQUIM E DUAS HISTÓRIAS

 

A Sears, inaugurada em Santos na década de 1950, ocupava um prédio enorme na rua Amador Bueno com saída pela avenida São Francisco. Em meados dos anos 1970, depois de uma compra, estava na fila do caixa, quando esbarrei em alguém, pedi desculpas e a pessoa não se moveu. Olhei e... lá estava ele, rígido, com o olhar fixo em algum ponto da loja, impávido, indiferente... O manequim. Nada demais, não tivesse contado o incidente para alguém que achou divertidíssimo e a história se espalhou: Hilda cumprimentou um manequim! Muito tempo depois, já morando em São Paulo, fui apresentada a uma pessoa como “a minha amiga que cumprimentou um manequim”.  

Por causa disso desenvolvi um certo temor por essas figuras, nada semelhante à história de um episódio de Twilight Zone (“Além da Imaginação”) em que os manequins criam vida quando a loja encerra o expediente para horror de um cliente perdido; contudo, quando vou a algum lugar em que haja manequins presto atenção para evitar algum mal-entendido. Em 2017, fui visitar a graciosa casa de Betsy Ross, a costureira que teria criado a bandeira americana. Era a única pessoa por lá naquela tarde. Percorri os aposentos silenciosos, satisfeita pela tranquilidade que sempre proporciona momentos de reflexão. Ao descer as escadas para um dos cômodos a vi sentada à mesa – simpática, imóvel, com um sorriso estampado no rosto, roupas de época, mas eu estava mais interessada no mobiliário do século XVIII, quando ouvi o “Hello!”. Confesso que foi um susto e tanto e ela percebeu. Rimos, conversamos rapidamente e fiz a foto dela para não esquecer o dia em que a situação se inverteu e confundi um humano com um manequim... Dessa vez não contei para ninguém.

                                            A moça que atua na Betsy Ross House, 239 Arch St, Philadelphia, Pensilvânia.  Setembro de 2013.

(Há também um episódio da série CSI New York em que o funcionário de uma loja de departamentos, viúvo e solitário, comemora o aniversário de casamento dançando tango com um manequim no depósito...)

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