Homem
culto e viajado, um cientista que percorreu a Europa numa época tumultuada pela
Revolução Francesa, o que deixou nele profundo receio dos levantes populares e
das revoluções, José Bonifácio de Andrade e Silva confessava ser amante da liberdade controlada,
da monarquia constitucional, inimigo dos despotismos, contrário à escravidão do
negro, favorável à concessão do voto às mulheres e crítico do latifúndio
improdutivo. Desprezava homens servis e bajuladores e aqueles que disputavam
títulos de nobreza.” Emília Viotti da Costa (1928-1917), professora emérita da
USP e professora da Universidade de Yale nos Estados Unidos. Revista de
História da Biblioteca Nacional.
José
Bonifácio de Andrade e Silva nasceu em Santos, no dia 13 de junho de 1763. Os
pais, Bonifácio José Ribeiro de Andrade e Maria Bárbara da Silva, eram
abastados e descendentes de famílias tradicionais portuguesas. José Bonifácio
foi o segundo dos dez filhos do casal; Antônio Carlos Ribeiro de Andrade e
Martim Francisco Ribeiro de Andrade, que desempenharam importantes papeis na
História da Independência, foram os sétimo e oitavo. Aos catorze anos, José
Bonifácio mudou para São Paulo, iniciando os estudos preparativos para o
ingresso na Universidade de Coimbra para onde partiu em 1783, mesmo ano em que se
matriculou no curso jurídico e, paralelamente, fez o curso de Filosofia. Estudante
brilhante, de acordo com historiadores, em cinco anos concluiu os dois cursos e
obteve dois diplomas acadêmicos.
“José
Bonifácio devia também à Universidade de Coimbra o inicio de uma sólida
formação como naturalista. Domingos Vadelli (1730-1816), seu professor de História
Natural, reconhecendo sua inteligência e inclinação para todas as matérias
relacionadas ao estudo do universo físico, encarregara-se de recomendá-lo ao
duque de Lafões (1719-1806) presidente da Academia” – escreveu a professora Ana
Cristina de Araújo, da Universidade de Coimbra. O talento do jovem e o patrocínio do
duque impressionaram os membros da academia. Com apenas 26 anos ingressou como
sócio livre na Academia Real das Ciências de Lisboa.
O seu primeiro trabalho para a Academia foi sobre “a pesca das baleias e a extração de seu azeite, com algumas reflexões a respeito de nossas pescarias”. A professora Ana Cristina de Araújo afirma que uma década mais tarde, seus méritos como homem de ciência, dotado de um espírito livre e tolerante, já eram reconhecidos em toda Europa e ratificada pelas principais academias e centros de saber de Paris a Iena, de Berlim a Upsala, de Londres a Viena”.
A vida intelectual não interferiu no lado amoroso:
casou-se em 1790 com Narcisa Emília O'Leary, uma jovem órfã irlandesa, nascida
em 1770 que imigrara para Portugal, onde vivia com uma tia. Logo em seguida
José Bonifácio inicia sua carreira internacional, sempre com o apoio do duque e
de diplomatas: durante dez anos percorreu os mais importantes centros
científicos europeus na companhia de Manuel Ferreira da Câmara e Joaquim Pedro Fragoso.
A conjuntura politica da Europa, entretanto, não lhe escapa. “Pretendia, com o
que vira praticado em outras nações e com os conhecimentos que adquirira,
dinamizar, em primeiro lugar, o desenvolvimento das atividades econômicas,
modernizando tecnologicamente a indústria, em especial a metalurgia, difundindo
ensinamentos aos agricultores e fabricantes, melhorando as infraestruturas
várias, tirando o melhor partido das riquezas naturais e auxiliando o progresso
material com o incremento do bem-estar, da educação e da saúde das populações.”
A professora Ana Cristina Araújo afirma que José Bonifácio “revelou grande
competência e brio no serviço que prestou à Coroa portuguesa. Durante as
invasões francesas (1807-1811) participou ativamente do movimento libertador,
integrando o corpo voluntário de batalhões acadêmicos. Pegou em armas, preparou
munições e coordenou operações militares”.
Entre 1800 e 1819, José Bonifácio ocupou altos
cargos no governo de Portugal; apoiou a vinda da Família
Real para o Brasil porque “se o Rei não passasse ao Brasil, perdia-se de certo
este ou pelo ataque dos ingleses, ou pelo levantamento dos colonos”. (Ana Rosa
Clorclet da Silva, professora da UNICAMP. A comitiva real partiu em 29 de novembro
de 1807, aportando em Salvador em 22 de janeiro de 1808.
José Bonifácio de Andrade e Silva só retornou ao Brasil em 1819, mas esta é outra História.
Fontes: Revista de História da Biblioteca Nacional (Ano 2, Nº24, Setembro, 2007.
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