terça-feira, 30 de agosto de 2022

JOSÉ BONIFÁCIO, O CIENTISTA.

 

Homem culto e viajado, um cientista que percorreu a Europa numa época tumultuada pela Revolução Francesa, o que deixou nele profundo receio dos levantes populares e das revoluções, José Bonifácio de Andrade e Silva confessava ser amante da liberdade controlada, da monarquia constitucional, inimigo dos despotismos, contrário à escravidão do negro, favorável à concessão do voto às mulheres e crítico do latifúndio improdutivo. Desprezava homens servis e bajuladores e aqueles que disputavam títulos de nobreza.” Emília Viotti da Costa (1928-1917), professora emérita da USP e professora da Universidade de Yale nos Estados Unidos. Revista de História da Biblioteca Nacional.

José Bonifácio de Andrade e Silva nasceu em Santos, no dia 13 de junho de 1763. Os pais, Bonifácio José Ribeiro de Andrade e Maria Bárbara da Silva, eram abastados e descendentes de famílias tradicionais portuguesas. José Bonifácio foi o segundo dos dez filhos do casal; Antônio Carlos Ribeiro de Andrade e Martim Francisco Ribeiro de Andrade, que desempenharam importantes papeis na História da Independência, foram os sétimo e oitavo. Aos catorze anos, José Bonifácio mudou para São Paulo, iniciando os estudos preparativos para o ingresso na Universidade de Coimbra para onde partiu em 1783, mesmo ano em que se matriculou no curso jurídico e, paralelamente, fez o curso de Filosofia. Estudante brilhante, de acordo com historiadores, em cinco anos concluiu os dois cursos e obteve dois diplomas acadêmicos.

“José Bonifácio devia também à Universidade de Coimbra o inicio de uma sólida formação como naturalista. Domingos Vadelli (1730-1816), seu professor de História Natural, reconhecendo sua inteligência e inclinação para todas as matérias relacionadas ao estudo do universo físico, encarregara-se de recomendá-lo ao duque de Lafões (1719-1806) presidente da Academia” – escreveu a professora Ana Cristina de Araújo, da Universidade de Coimbra. O talento do jovem e o patrocínio do duque impressionaram os membros da academia. Com apenas 26 anos ingressou como sócio livre na Academia Real das Ciências de Lisboa.

O seu primeiro trabalho para a Academia foi sobre “a pesca das baleias e a extração de seu azeite, com algumas reflexões a respeito de nossas pescarias”. A professora Ana Cristina de Araújo afirma que uma década mais tarde, seus méritos como homem de ciência, dotado de um espírito livre e tolerante, já eram reconhecidos em toda Europa e ratificada pelas principais academias e centros de saber de Paris a Iena, de Berlim a Upsala, de Londres a Viena”.


A vida intelectual não interferiu no lado amoroso: casou-se em 1790 com Narcisa Emília O'Leary, uma jovem órfã irlandesa, nascida em 1770 que imigrara para Portugal, onde vivia com uma tia. Logo em seguida José Bonifácio inicia sua carreira internacional, sempre com o apoio do duque e de diplomatas: durante dez anos percorreu os mais importantes centros científicos europeus na companhia de Manuel Ferreira da Câmara e Joaquim Pedro Fragoso. A conjuntura politica da Europa, entretanto, não lhe escapa. “Pretendia, com o que vira praticado em outras nações e com os conhecimentos que adquirira, dinamizar, em primeiro lugar, o desenvolvimento das atividades econômicas, modernizando tecnologicamente a indústria, em especial a metalurgia, difundindo ensinamentos aos agricultores e fabricantes, melhorando as infraestruturas várias, tirando o melhor partido das riquezas naturais e auxiliando o progresso material com o incremento do bem-estar, da educação e da saúde das populações.” A professora Ana Cristina Araújo afirma que José Bonifácio “revelou grande competência e brio no serviço que prestou à Coroa portuguesa. Durante as invasões francesas (1807-1811) participou ativamente do movimento libertador, integrando o corpo voluntário de batalhões acadêmicos. Pegou em armas, preparou munições e coordenou operações militares”.

Entre 1800 e 1819, José Bonifácio ocupou altos cargos no governo de Portugal; apoiou a vinda da Família Real para o Brasil porque “se o Rei não passasse ao Brasil, perdia-se de certo este ou pelo ataque dos ingleses, ou pelo levantamento dos colonos”. (Ana Rosa Clorclet da Silva, professora da UNICAMP. A comitiva real partiu em 29 de novembro de 1807, aportando em Salvador em 22 de janeiro de 1808.

José Bonifácio de Andrade e Silva só retornou ao Brasil em 1819, mas esta é outra História.

Fontes: Revista de História da Biblioteca Nacional (Ano 2, Nº24, Setembro, 2007.

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