Coincidência ou não, dois amigos, no mesmo dia, me falaram
do “bondinho” do Monte Serrat – o funicular que há quase um século transporta
moradores, crentes e turistas entre a Rua Itororó e o topo do antigo morro do
Vigia em Santos. Lá em cima, como indica o nome original, se tem uma visão de
quase 360º da região – a Ilha de Santo Amaro, as praias de Santos e o Porto... Lá
de cima (o ponto mais alto fica a 147 m do nível do mar), os pioneiros do
século XVI podiam perscrutar a costa para se resguardar do inimigo, de piratas
e corsários, mas principalmente aguardar a chegada de naus amigas com notícias,
mercadorias e encomendas de Portugal. O “bondinho” foi inaugurado em junho de 1927.
Para os muito devotos, o caminho ainda é pela
escadaria de 430 degraus, com direito a uma paradinha nos patamares para
admirar as esculturas de bronze em alto relevo que representam a Via Sacra. A
escadaria chama-se Monsenhor Moreira em homenagem ao sacerdote português José
Benedito Moreira que foi transferido para o Brasil após atuar na Índia, Japão e
Estados Unidos. Serviu no Rio de Janeiro e em Petrópolis, onde fundou o Colégio
Moreira e permaneceu por 32 anos até se estabelecer em Santos, onde continuou a
se dedicar ao ensino. Apesar da idade avançada subia o monte Serrat todos os
dias para cumprir suas atribuições sacerdotais. Era estimado por todos. Ele
faleceu em 6 de setembro de 1924, ocasião em que o vereador Benedito Pinheiro,
após solicitar a consignação de voto de pesar pela morte sacerdote, sugeriu que
se desse o nome dele ao caminho.
Na década de
1930, M.
Nascimento Júnior, diretor do jornal A TRIBUNA, lançou uma subscrição pública
para a instalação dos quadros da Via Sacra ao longo das escadarias. O primeiro
nicho foi inaugurado em fevereiro de 1939, ano em que se comemorou o centenário
de elevação de Santos à categoria de cidade; o segundo e terceiro nichos foram
entregues no dia da padroeira da cidade – Nossa Senhora do Monte Serrat –
daquele mesmo ano. Os demais demoraram mais: a inauguração ocorreu em 13 de
setembro de 1941.
Um dos meus amigos lembra, saudoso, do
tempo de criança em que a família subia o morro pelas escadarias e quando
chegava ao topo fazia um delicioso convescote em que não faltavam sanduíches de
pernil e vinho (para os adultos, claro). Descansavam e desfrutavam da paisagem
litorânea. O outro, um jovem senhor com uns cinquenta e poucos anos, talvez, visitando
a cidade resolveu fazer o passeio da infância. “Não me lembrava mais do
bondinho, nem sei se já funcionava.” Dou risada e explico que, com certeza,
existia e há bastante tempo! Provavelmente, subiu a pé.
Eu subi duas ou três vezes pelas escadarias para fazer reportagens
e durante uma delas o entrevistado, gentilmente, insistiu para que eu tomasse
um copão de garapa feita por ele e que tive que aceitar. Eu detesto garapa,
embora goste muito de cana-de-acúcar.
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