sexta-feira, 19 de agosto de 2022

PATRIMÔNIO SANTISTA

Coincidência ou não, dois amigos, no mesmo dia, me falaram do “bondinho” do Monte Serrat – o funicular que há quase um século transporta moradores, crentes e turistas entre a Rua Itororó e o topo do antigo morro do Vigia em Santos. Lá em cima, como indica o nome original, se tem uma visão de quase 360º da região – a Ilha de Santo Amaro, as praias de Santos e o Porto... Lá de cima (o ponto mais alto fica a 147 m do nível do mar), os pioneiros do século XVI podiam perscrutar a costa para se resguardar do inimigo, de piratas e corsários, mas principalmente aguardar a chegada de naus amigas com notícias, mercadorias e encomendas de Portugal. O “bondinho” foi inaugurado em junho de 1927.

 

Para os muito devotos, o caminho ainda é pela escadaria de 430 degraus, com direito a uma paradinha nos patamares para admirar as esculturas de bronze em alto relevo que representam a Via Sacra. A escadaria chama-se Monsenhor Moreira em homenagem ao sacerdote português José Benedito Moreira que foi transferido para o Brasil após atuar na Índia, Japão e Estados Unidos. Serviu no Rio de Janeiro e em Petrópolis, onde fundou o Colégio Moreira e permaneceu por 32 anos até se estabelecer em Santos, onde continuou a se dedicar ao ensino. Apesar da idade avançada subia o monte Serrat todos os dias para cumprir suas atribuições sacerdotais. Era estimado por todos. Ele faleceu em 6 de setembro de 1924, ocasião em que o vereador Benedito Pinheiro, após solicitar a consignação de voto de pesar pela morte sacerdote, sugeriu que se desse o nome dele ao caminho.

        Na década de 1930, M. Nascimento Júnior, diretor do jornal A TRIBUNA, lançou uma subscrição pública para a instalação dos quadros da Via Sacra ao longo das escadarias. O primeiro nicho foi inaugurado em fevereiro de 1939, ano em que se comemorou o centenário de elevação de Santos à categoria de cidade; o segundo e terceiro nichos foram entregues no dia da padroeira da cidade – Nossa Senhora do Monte Serrat – daquele mesmo ano. Os demais demoraram mais: a inauguração ocorreu em 13 de setembro de 1941.

        Um dos meus amigos lembra, saudoso, do tempo de criança em que a família subia o morro pelas escadarias e quando chegava ao topo fazia um delicioso convescote em que não faltavam sanduíches de pernil e vinho (para os adultos, claro). Descansavam e desfrutavam da paisagem litorânea. O outro, um jovem senhor com uns cinquenta e poucos anos, talvez, visitando a cidade resolveu fazer o passeio da infância. “Não me lembrava mais do bondinho, nem sei se já funcionava.” Dou risada e explico que, com certeza, existia e há bastante tempo! Provavelmente, subiu a pé.

 

Eu subi duas ou três vezes pelas escadarias para fazer reportagens e durante uma delas o entrevistado, gentilmente, insistiu para que eu tomasse um copão de garapa feita por ele e que tive que aceitar. Eu detesto garapa, embora goste muito de cana-de-acúcar. Há uns dez anos voltei a passeio... Sem garapa.

       




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