segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

OS 90 ANOS DO I.E. CANADÁ

Este ano o Canadá completará 90 anos e os ex-alunos estão organizando um grande encontro para comemorar a data, reencontrar colegas e amigos e rememorar uma época muito especial da nossa vida. O evento será no dia 17 de agosto em local a ser divulgado oportunamente.

Entrei no Colégio Canadá no verão de 1964 para fazer o Clássico – colegial da área de humanas no período noturno, embora não trabalhasse. Vinha de um colégio feminino e conservador e de repente estava num ambiente bastante liberal. Por coincidência, na minha turma havia apenas um rapaz.

     O que me interessava, as matérias, não mudou muito – as novidades foram Filosofia e Psicologia. As aulas do professor Itagiba eram muito boas, mas depois tivemos dona Ada, jovem, elegante que tingia o cabelo com uma cor de vanguarda. Era um pouco atrapalhada.

Ainda guardo dois cadernos de Latim, matéria dada pelo professor Antônio Esmanhoto, a pessoa mais rabugenta que encontrei em sala de aula. Por incrível que pareça eu sempre gostei muito de Latim, que estudei durante todo o curso ginasial, sempre com Dona Lígia Fava Fonseca, e então não tive problema para enfrentar Esmanhoto, a fera. Magrinho, alto, barba por fazer, óculos redondos e mãos de jogador de basquete. Usava sempre um guarda-pó meio branco. Acho que nunca o vi sorrir. Popular entre os estudantes ele não era, pois ouvia comentários de que costumavam pregar-lhe peças desagradáveis. Ele implicava com minha letra que, realmente, era difícil de ler. Apesar do mau humor, era um ótimo professor. Uma noite o ouvi tocando piano no anfiteatro e fiquei surpresa com o fato de que o ranzinza era um ótimo pianista.

Foi no anfiteatro que assisti a uma montagem do julgamento de Tiradentes feita pelos estudantes. Tomás de Aquino Horta Nogueira fazia o papel de advogado do inconfidente e, observando seu desempenho consistente, imaginei que ele faria Direito. Foi uma surpresa encontrá-lo alguns anos depois no jornal Cidade de Santos, onde ele já trabalhava. Morreu logo depois em um acidente automobilístico em Guarujá.

Fiz apenas quatro amigas no colegial porque era bastante tímida: as irmãs Silvia e Maria Zita Lopes dos Santos e a Marinluz cujo sobrenome não lembro. As três se formaram em Letras. Soube que Marinluz havia mudado para a França. A amizade com Letícia de Alencar foi duradoura, mas nos anos 1980 mudou para Campinas e nunca mais soube dela. Lembro ainda de Cleide Conceição, Geni S. Pinto e da Ingrid Sarti, que mora no Rio de Janeiro.

Nos corredores do Canadá, conheci Roberto Peres e Maria Alice Peres que reencontraria no curso de jornalismo da Faculdade de Filosofia e mais tarde nos tornamos colegas de trabalho e, principalmente, amigos muito queridos. No jornal reencontrei também César Augusto Fragata (fazia científico) e Tomás de Aquino. Ótimos tempos!

Agosto de 2022.


 



domingo, 28 de janeiro de 2024

DOMINGO CHUVOSO

Um verão frio. Muito estranho. A chuva, entretanto, é amiga da estação.  Neste domingo, juntaram-se a chuva e o frio, tempo ideal para ficar em casa e desfrutar de uma leitura prazerosa.

O prazer é uma questão de encontro. É uma possibilidade de sentimento que descobre sua completude no encontro com um corpo, um elemento ou uma substância. Só isso conta no prazer: sensações agradáveis, doces, inéditas, deliciosamente desconhecidas, selvagens... É sempre uma sensação e sempre suscitada por um encontro, por algo que confirma, de fora, as possibilidades inscritas em nosso corpo. O prazer é o encontro com o bom objeto, aquele que faz desabrochar uma possibilidade de sentir. A particularidade maldita do prazer, frequentemente apontada, é que a repetição diminui sua intensidade. Com a repetição, tudo se nivela: fica requentado e monótono, sempre igual.”  Frédéric Gros, filósofo francês.

Os livros nunca são monótonos. A cada linha, a cada página o prazer se renova porque há sempre algo para nos surpreender e ensinar. 


"Lendo Le Figaro", pintura de Mary Cassatt (1844-1926).

sábado, 27 de janeiro de 2024

MOZART

Muito difícil escolher uma obra de WOLFGANG AMADEUS MOZART (1756-1791) para comemorar os 268 anos do seu nascimento em Salzburgo (Áustria). “Sinfonia nº 40”?, a maravilhosa “A Rainha da Noite”, ária da ópera “A Flauta Mágica”? Ou uma ária de “Don Giovani”? “Lacrimosa” do “Réquiem”? Escolhi a alegria de “As bodas de Fígaro” (1786). 



https://www.youtube.com/watch?v=rkw_coO3pl8

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

LEMBRANÇAS SANTISTAS

 

Toda cidade guarda fatos pitorescos protagonizados seus moradores. Alguém tem uma ideia esdrúxula que entusiasma a turma e logo essa ideia se concretiza para alegria do grupo, se torna um sucesso no bairro e ganha um espaço na história local. Caso da famosa CORRIDA DA CUECA, que acontecia no Ano Novo no Campo Grande – para quem não é de Santos, o bairro é pertinho do campo do Santos Futebol Clube (Vila Belmiro).

            Tudo teve início com um morador da região que costumava comemorar o começo do ano novo correndo pelas ruas de cuecas, chamando atenção da vizinhança.  Daí a implementar a ideia foi um passo. Em São Paulo, havia a São Silvestre, por que não realizar algo similar, mas nada convencional? Não tem calção? Vai de cueca! Afinal, “nada melhor do que uma corrida para curtir uma ressaca”. E foi assim que Nilton Gonzaga Trudes, que aniversariava no dia 31 de dezembro, iniciou a “Corrida da Cueca” na última noite de 1970, com a participação da rapaziada do bairro com apoio da torcida familiar, vizinhos, possíveis admiradoras e curiosos.

Com a divulgação, o evento atraiu público maior e a corrida foi incrementada: ganhou patrocinadores, apoio do Amazonas Futebol Clube, da Prefeitura e mereceu até batedores da PM. Assim, além de um prêmio para o vencedor da prova, havia brindes para quem usasse a cueca mais bonita e para o core redor mais alegre. Os participantes ficaram conhecidos como “cuequeiros”.

Os atletas (por assim dizer) saiam do Clube. O trajeto de um quilômetro consistia de duas voltas em forma de oito: começava e terminava na rua Amazonas, passando pelas ruas Augusto Paulino, Pará e Espírito Santo. O percurso às vezes variava, incluindo a rua Arnaldo de Carvalho, o que significava mais 300 m.

Alguns recortes de jornais da época dão uma ideia do evento. Em 1979, a corrida chegou a ter 200 participantes! Um sucesso! Para participar idade não era problema, importante era o estado físico (parece que o etílico não era considerado) e a cueca. Em entrevistas à imprensa, os organizadores contavam que o grande destaque da prova era o desfile de apresentação dos corredores antes da prova, quando se submetiam aos jurados para escolha da cueca mais criativa (hum!). Muitos participantes tinham até torcida. José Roberto Damião, da Vila Matias, foi bicampeão da corrida aos 21 anos. Em entrevista contou que levava muito a sério a competição, fazia concentração e alimentava-se com sucos de frutas para enfrentar os mil metros da prova. Jorge Fernandes Jambo também ganhou duas vezes consecutivas a prova.

Vencedores de 1978: Jorge Fernandes Jambo, José Roberto Damião e Antônio Carlos Araújo. Coube a Manoel Esteves Rodrigues, Antônio Corte, Oswaldo Esteves Barcia, Alberto Barreiros, Claudio da Silva Gomes e Oswaldo Afonso a árdua tarefa de escolher a cueca mais bonita – uma peça enfeitada com sininhos e lantejoulas usada por Sérgio Miller Serafim. Nilton Gonzaga Trudes conquistou o segundo lugar – com uma cueca iluminada por duas lâmpadas (uau!); e o terceiro lugar foi de Carlos Alberto Pereira (modelito ignorado). O atleta mais alegre: Paulo Sérgio Correa.

Foram organizadores da corrida ao longo dos anos: Nilton Gonzaga Trudes, Tadeu Cavalcante, Arivaldo Fernandes, Cláudio Eduardo Rocha Moreira, Gilberto Otoni de Souza, Caio dos Santos Fernandes entre outros. A sede do clube, fundado em 1948, é na rua Amazonas, 63, Campo Grande, Santos.

Sem redes sociais na época, a Corrida da Cueca era uma grande festa compartilhada por famílias, vizinhos e amigos.

Vencedores da VI Corrida da Cueca!

Meus agradecimentos a Rosamar e Rosalice Rosário e Urania Trudes, viúva de Nilton pela colaboração.

domingo, 21 de janeiro de 2024

MAR DE ROSAS

Gosta de rosas? Então não perca a exposição do Farol Santander: “Rosas brasileiras”. O visitante vai aprender tudo sobre a flor que parece ter conquistado o mundo com sua delicadeza. A mostra reúne uma coleção de utensílios, vestuário, publicações e obras de arte em que a flor é o tema. Uma escultura de Mestre Valentim e um quadro de Portinari se destacam na exposição, que termina dia 18 de fevereiro. O colecionador é Paulo Von Poser, arquiteto e professor que lecionou na FAU-Santos. Ele reuniu o acervo que deverá constituir futuramente o Museu da Rosa Brasileira. Farol Santander: R. João Brícola, 24. 

Minha contribuição é o filme: "Rosa da Esperança" (1942), dirigido por William Willer. 



sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

PONTO DE ÔNIBUS

O bairro está cheio de novidades e uma delas é uma escola particular de ensino fundamental que abriu as portas esta semana.  O prédio tem umas quatro ou cinco vagas de estacionamento na frente. Eu para variar estava no ponto do ônibus, quando vi uma senhora junto a um carro, falando com uma pessoa que a mureta ocultava. Parecia aborrecida, mas calma. Pela direção do olhar deduzi que seria uma criança. Então ela abriu a porta traseira do veículo e o personagem oculto apareceu. Devia ter uns sete anos e entrou rapidamente no carro. Ela fechou a porta e se dirigiu para a escola. (Nem sinal do ônibus.) A avó retornou com uma funcionária que foi conversar com o garoto. Desistiu logo. A avó retomou a conversa com o menino. (Consulto o celular e me preocupo com o atraso do coletivo.) Surge outra funcionária, que parece decidida a resolver o “assunto”: abre a porta do veículo, começa as negociações, enquanto pega a mochila que tenta colocar nas costas, mas se atrapalha porque ela é grande demais. Com a mochila debaixo do braço, as tratativas não progridem. Ela também desiste. Surge então o avô que provavelmente era o motorista. Vai até o netinho, pega-o no colo com carinho, afasta-se em direção ao ponto sempre conversando com ele. Parece uma conversa com açúcar e com afeto. (O ônibus chegou e não vi o desfecho da história.) Espero que o papo “de homem para homem” tenha dado resultado com o teimoso superando o medo da escola – ou da mudança na sua vida – e tenha a oportunidade de descobrir que ela pode ser risonha e franca.   


Leitura, tela de Eduard Swoboda (1814 – 1902).

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

LEMBRANÇAS DE SANTOS

 

No final do ano, escrevi sobre o santista Arnaldo Azevedo que se classificou em 11º lugar na São Silvestre de 1940, ocasião em que me lembrei de outra corrida famosa. Famosa no Campo Grande. Na última noite do ano e “no nascer do ano seguinte”, acontecia a “Corrida da Cueca” cujos participantes eram os rapazes do bairro com apoio da torcida familiar e possíveis admiradoras. A promoção era do Amazonas Futebol Clube de onde partiam os atletas (por assim dizer). A agremiação fica na rua Amazonas, daí o nome, e foi fundada em 17 de maio de 1948. Não sei quando a corrida (não diria prova) começou a ser disputada, mas nos anos 1970 ainda acontecia e, graças a uma jornalista vizinha da sede, o evento ganhava uma nota no jornal.  

            Foi no Museu Virtual do Futebol de Várzea Santista, mantido por Jair Siqueira, que encontrei referências sobre o Amazonas Futebol Clube por onde passaram grandes jogadores. Uma foto em preto e branco mostra o time de 1955, com o técnico Eurico, no campo da Associação Atlética dos Portuários de Santos: Alemão, Rufino e Odair, Domingão, Joe, Prieto e Ameriquinho; Joel e Nicácio, Mickey e Cardosinho. De acordo com o site do museu, Alemão e Nicácio defenderam o Santos Futebol Clube. O Amazonas também é alvinegro. A sede do clube é na rua Amazonas, 63, Campo Grande, Santos.

                Parabéns a Jair Siqueira pela iniciativa.



sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

TRÊS CIDADES

 

São Vicente, Praia do Gonzaguinha.


As cidades de São Paulo, Santos e São Vicente são as grandes aniversariantes do mês de janeiro. A mais antiga é São Vicente que completará 492 anos em 22 de janeiro; Santos fará 478 anos no dia 26 e São Paulo comemorará 470 no dia 25. Martim Afonso de Souza, Brás Cubas e os padres jesuítas Manuel da Nóbrega e Manuel de Paiva e o noviço José de Anchieta foram os fundadores das três vilas. A história de São Vicente, entretanto, é mais antiga porque o local já era habitado antes mesmo da passagem do navegador Gaspar Lemos por lá, em 22 de janeiro de 1502, quando ele lhe atribuiu o nome do santo do dia e que Martim Afonso ratificou.

            São três destinos paulistas que atraem milhões de pessoas. São Paulo, por suas qualidades culturais, gastronômicas e esportivas é um polo turístico internacional, enquanto Santos e São Vicente têm nas praias o principal atrativo, especialmente paulistas que no verão e nas férias em geral buscam as praias para relaxar. Entre os dias 21 de dezembro de 2023 e 2 de janeiro de 2024 mais de 1 milhão de veículos desceram para o litoral paulista – dados da Ecovias, concessionária que administra Sistema Anchieta-Imigrantes (Litoral Sul). 

Foi José de Anchieta quem deixou suas marcas na história das três cidades aniversariantes – numa terra em que tudo estava por fazer, ele atuou em várias frentes – catequista, poeta, dicionarista, diplomata, peregrino e principalmente um grande andarilho, qualidade atestada pela denominação do trajeto entre São Vicente e São Paulo: “Caminho do Padre José”, que substituiu a primitiva trilha dos Tupiniquins, a partir de 1560. Essa subida era pela Serra de Paranapiacaba, tinha cerca de 60/70km, começava a oeste do rio Perequê até chegar ao Rio Grande, terminando no porto geral no Planalto, onde foi instalado o Colégio de Piratininga.  

O santo que empresta o nome ao município mais antigo do Brasil (Cellula Mater da Nacionalidade) foi um diácono natural de Zaragoza, Espanha, que viveu no século IV da nossa era. Vicente era corajoso e grande pregador. Preso durante as perseguições do imperador romano Diocleciano aos cristãos, foi torturado e morto. Com Santos foi instalada a Santa Casa de Misericórdia de Todos os Santos, similar à que existe em Lisboa até hoje. A fundação de São Paulo aconteceu com a criação do Colégio de Piratininga. E salve o verão!

Santa Casa de Santos, Jabaquara. Prédio de 1945.




quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

ANIVERSARIANTE DO DIA

Oswald de Andrade foi um homem à frente do seu tempo, não só como escritor, mas na forma de viver a vida. Nos dias de hoje nem extravagante seria.  Oswald morreu no ano do quarto centenário de São Paulo, cidade em que nasceu e protagonizou a Semana de Arte Moderna, sacudindo os alicerces acadêmicos em busca da identidade nacional nas artes – literatura, pintura e escultura, música e teatro – com o seu Manifesto Antropófago. Nasceu em 11 de janeiro de 1890.

 

canto de regresso à pátria

 

Minha terra tem palmares

Onde gorjeia o mar

Os passarinhos daqui

Não cantam como os de lá

 

Minha terra tem mais rosas

E quase que mais amores

Minha terra tem mais ouro

Minha terra tem mais terra

 

Ouro terra amor e rosas

Eu quero tudo de lá

Não permita Deus que eu morra

Sem que volte para lá

 

Não permita Deus que eu morra

Sem que volte pra São Paulo

Sem que veja a Rua 115

E o progresso de São Paulo 

 

Poesia Pau Brasil, 1925.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

LAMARTINE BABO

Lamartine Babo, seu Lalá, faria hoje 120 anos. Carioca, a mãe e as irmãs tocavam piano, mas ele não teve formação musical e mesmo assim aos 15 anos compôs o foxtrote “Pindorama” usando apenas as notas sol, dó e mi e nunca mais parou de compor. É o autor de hinos não oficiais dos principais clubes cariocas, de algumas melhores músicas carnavalescas da primeira metade do século passado e grandes composições como “Serra da Boa Esperança”. De acordo com o dicionário Cravo Albin, Lamartine formou-se em Letras, mas não conseguiu cursar a Politécnica por falta de recursos. Casou-se com Maria José Babo e não tiveram filhos.







Eu sonhei que tu estavas tão linda
Numa festa de raro esplendor
Teu vestido de baile lembro ainda
Era branco, todo branco, meu amor
A orquestra tocou uma valsa dolente

Numa festa de raro esplendor
Teu vestido de baile lembro ainda
Era branco, todo branco, meu amor
A orquestra tocou uma valsa dolente

Tomei-te aos braços
Fomos dançando
Ambos silentes
E os pares que rodeavam entre nós
Diziam coisas
Trocavam juras
A meia voz

Violinos enchiam o ar de emoções
E de desejos uma centena de corações
Pra despertar teu ciúme
Tentei flertar alguém
Mas tu não flertaste ninguém´

Olhavas só para mim
Vitória de amor cantei
Mas foi tudo um sonho
Acordei!



segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

AGORA É CINZA...

 Elas foram notícia em Santos no século passado.

NATAÇÃO – Em janeiro de 1941, a atleta do Clube de Regatas Saldanha da Gama, Yvone D’Ascola, foi a vencedora da III Travessia a nado do canal entre Santos e Guarujá.   

RAINHA DOS ESTUDANTES – Leontina Duarte, representante do Grêmio Coelho Neto, foi eleita Rainha dos Estudantes em 1953. O concurso era promovido pelo Centro dos Estudantes de Santos, considerada a entidade estudantil mais antiga do país. O baile da coroação foi no Grill do Atlântico e contou com as orquestras de Cabral Jr. J. Pinto e Pascoal Melilo. Deve ter sido bem animado o evento. Irene Peres e Diva Enckin ficaram com o título de princesas, mas não foi publicado o nome das entidades que elas representavam.

BLOCO DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS – Anos 1950. A vida voltava ao normal na quarta-feira de cinzas, mas não no Centro da Cidade, onde os foliões detidos durante o Carnaval por infrações leves como embriaguez, brigas, desordem etc. eram liberados ao meio-dia. Palhaços, arlequins e piratas deixavam a cadeia cabisbaixos, com o vexame já que não faltava público para assistir ao desfile fora de hora, sem contar os familiares que iam buscá-los e o olhar curioso do pessoal que passava para o trabalho. Outros tempos. 

ETERNO REI MOMO – Uma homenagem a um santista muito especial. WALDEMAR ESTEVES DA CUNHA (1920-2013) foi por décadas (com uma interrupção em 1956) o Rei Momo da cidade. Morava no Campo Grande e a paixão pelo Carnaval começou bem cedo, participando todos os anos do banho à fantasia promovido pelo Clube de Regatas Saldanha, o famoso “Dona Doroteia, vamos furar aquela onda?”, formado na década de 1920. Em 1950, foi eleito Rei Momo num concurso promovido pelo jornal DIÁRIO.


sábado, 6 de janeiro de 2024

QUATRO QUARTETOS

LITTLE GIDDING

Não cessaremos nunca de explorar
E o fim de toda nossa exploração
Será chegar ao ponto de partida
E o lugar reconhecer ainda
Como da vez primeira que o vimos.
Pela desconhecida, relembrada porta
Quando o último palmo de terra
Deixado a nós por descobrir
Aquilo for que era o princípio.
Nas vertentes do mais longo rio
A voz da cascata escondida
E as crianças na macieira
Não percebidas, porque não buscadas
Mas ouvidas, semi-ouvidas, na quietude
Entre duas ondas do mar.
Depressa agora, aqui, agora, sempre
– Uma condição de absoluta simplicidade
(Cujo custo é nada menos que tudo)
E tudo irá bem e toda
Sorte de coisa irá bem.
Quando as línguas de chama estiveram
Enrodilhadas no coroado nó de fogo.

E o fogo e a rosa se tornarem um.

Little Gidding – Quarto e último poema dos “Quatro Quartetos” de T. S. Elio (1888-1965). Tradução: Ivan Junqueira.

 


quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

CURIOSIDADES SANTISTAS

Rabiscadas em um dos meus cadernos de pesquisa, acho algumas informações sobre antigos moradores de Santos que em algum momento foram notícia na cidade e alguns fatos esquecidos.

 

Em 26 de junho de 1924, o vice-prefeito em exercício Arnaldo Ferreira de Aguiar proíbe a pratica de boxe sob pena de 8 dias de prisão para o infrator em virtude da morte de um lutador. (Meu apoio para Arnaldo Ferreira de Aguiar.)

 

Em 1940, o santista Arnaldo Azevedo classificou-se em 11º lugar na de São Silvestre, que teve como vencedor Antônio Alves, da Associação Atlética Guarani (?). A prova na época tinha 7 km – começava na avenida Paulista, esquina com a Angélica, e terminava no Clube de Regatas Tietê. A Tribuna deu uma nota sobre o feito no dia 2 de janeiro.

 

No dia 18 de novembro de 1942, durante a II Guerra Mundial, o jornal informou os leitores de que o morador local, espanhol José Esteves Gil construiu um “avião bombardeio feito de bambu. O sr. José tinha com 65 anos. O experimento foi no canal 2 com a praia”. Nem uma linha sobre o resultado da experiência.

 

Frequentemente, durante realização de obras urbanas surgem ecos do passado. Em 13 de maio de 1948, trabalhadores faziam escavações na praça da República e encontraram um poço com vários utensílios – chapa de fogão, dois ferros de engomar a carvão, grampos, moedas de 20 réis com efigie de D. Pedro II entre outras coisas.

 

Em 1952 Regina Maria foi eleita a criança mais bonita de Santos. Era filha de Maria José Meira Cotrofe, moradora à Rua Germano Melchert, 12. No mesmo ano, João Pacheco Dutra foi eleito o Rei do Tango! Não era apenas em Santos que se faziam esses concursos. São Vicente, por exemplo, elegeu Terezinha Amado, de 18 anos, a mais bela banhista da cidade. A promoção foi do Atlântico Clube Vicentino, uma sociedade recreativa fundada em 1938, em cujos salões era realizadas conferencias e espetáculos beneficentes. A sede era na rua João Ramalho.



terça-feira, 2 de janeiro de 2024

ADONIRAN BARBOSA

O encontro ali, na esquina mais famosa da cidade: Adoniran Barbosa e seu amigo Peteleco.

Verão, época em que a cidade padece com as chuvaradas, causadoras das enxurradas, enchentes, inundações e cheias. Adoniran Barbosa (1912-1982) nesta música consola um amigo vítima de uma enchente, aconselha que ele aguente a mão e conta a desventura do Alcebíades. 








segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

CONVERSA FIADA

Faço parte do grupo de pessoas que não gosta de pedir informações, mas de vez em quando abro exceções. Quando, por exemplo, procuro uma rua e há ameaça de chuva iminente, como na manhã em que programei ir a Casa de Fernando Pessoa em Lisboa. Na estação do metrô consultei um funcionário para saber qual a saída mais próxima da rua do Sol ao Rato, a referência que haviam me dado. Ele consulta o celular, aponta a direção que sigo, mas ao sol as coisas se complicam porque dali eu podia ir para qualquer lado. Avistei a senhora magrinha, com a sacola das compras do supermercado. Podia ter entre 60 e 80 anos e um jeito receptivo. Cumprimentei e perguntei se ela sabia para que lado ficava a Rua Coelho da Rocha. Ela parou, sorriu e pensou um pouco... Achei que podia dizer-lhe que ia a casa do poeta. Acertei e ela ficou mais animada. Ia na mesma direção, me acompanhou até quase a metade do caminho. Uma ótima conversa – ela conhece a obra de Pessoa, é uma boa leitora (desconfio que é professora) e falamos sobre nosso idioma comum – as diferenças entre a língua que se fala em Portugal e no Brasil. Ela aprecia a criatividade brasileira – é fã das novelas. Nos despedimos – ela se certifica se eu entendi a direção – virar à direita, atravessar depois da cúpula por causa de obras. Agraço e sigo as orientações. 

A última parte da conversa me lembra da primeira viagem que fiz a Portugal. Em Cascais alguém me diz que a rodoviária é na rua tal em frente à rotunda, mas não achei e mudei os planos; mais tarde, localizei a rodoviária, mas não vi a tal cúpula. Dias depois em Évora uma pessoa aponta a estação de trem “ali, bem em frente à rotunda”. Ah! A rotunda é a rotatória!!!

Em matéria de criatividade as ruas lisboetas são ricas.  A Rua do Sol ao Rato é um ótimo exemplo. E fui pesquisar o motivo do nome: Rato era o apelido de Luís Gomes de Sá e Menezes, que viveu no século XVII, foi padroeiro do convento das Trinitárias de Campolide e que deu nome ao convento e à região do entorno. Sá e Menezes, talvez, fosse rato  frequentador assíduo  de igreja, daí o apelido. 


Campo de Ourique, Lisboa, outubro de 2023.