segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

CONVERSA FIADA

Faço parte do grupo de pessoas que não gosta de pedir informações, mas de vez em quando abro exceções. Quando, por exemplo, procuro uma rua e há ameaça de chuva iminente, como na manhã em que programei ir a Casa de Fernando Pessoa em Lisboa. Na estação do metrô consultei um funcionário para saber qual a saída mais próxima da rua do Sol ao Rato, a referência que haviam me dado. Ele consulta o celular, aponta a direção que sigo, mas ao sol as coisas se complicam porque dali eu podia ir para qualquer lado. Avistei a senhora magrinha, com a sacola das compras do supermercado. Podia ter entre 60 e 80 anos e um jeito receptivo. Cumprimentei e perguntei se ela sabia para que lado ficava a Rua Coelho da Rocha. Ela parou, sorriu e pensou um pouco... Achei que podia dizer-lhe que ia a casa do poeta. Acertei e ela ficou mais animada. Ia na mesma direção, me acompanhou até quase a metade do caminho. Uma ótima conversa – ela conhece a obra de Pessoa, é uma boa leitora (desconfio que é professora) e falamos sobre nosso idioma comum – as diferenças entre a língua que se fala em Portugal e no Brasil. Ela aprecia a criatividade brasileira – é fã das novelas. Nos despedimos – ela se certifica se eu entendi a direção – virar à direita, atravessar depois da cúpula por causa de obras. Agraço e sigo as orientações. 

A última parte da conversa me lembra da primeira viagem que fiz a Portugal. Em Cascais alguém me diz que a rodoviária é na rua tal em frente à rotunda, mas não achei e mudei os planos; mais tarde, localizei a rodoviária, mas não vi a tal cúpula. Dias depois em Évora uma pessoa aponta a estação de trem “ali, bem em frente à rotunda”. Ah! A rotunda é a rotatória!!!

Em matéria de criatividade as ruas lisboetas são ricas.  A Rua do Sol ao Rato é um ótimo exemplo. E fui pesquisar o motivo do nome: Rato era o apelido de Luís Gomes de Sá e Menezes, que viveu no século XVII, foi padroeiro do convento das Trinitárias de Campolide e que deu nome ao convento e à região do entorno. Sá e Menezes, talvez, fosse rato  frequentador assíduo  de igreja, daí o apelido. 


Campo de Ourique, Lisboa, outubro de 2023.


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