Faço parte
do grupo de pessoas que não gosta de pedir informações, mas de vez em quando
abro exceções. Quando, por exemplo, procuro uma rua e há ameaça de chuva
iminente, como na manhã em que programei ir a Casa de Fernando Pessoa em
Lisboa. Na estação do metrô consultei um funcionário para saber qual a saída
mais próxima da rua do Sol ao Rato, a referência que haviam me dado. Ele
consulta o celular, aponta a direção que sigo, mas ao sol as coisas se
complicam porque dali eu podia ir para qualquer lado. Avistei a senhora
magrinha, com a sacola das compras do supermercado. Podia ter entre 60 e 80
anos e um jeito receptivo. Cumprimentei e perguntei se ela sabia para que lado
ficava a Rua Coelho da Rocha. Ela parou, sorriu e pensou um pouco... Achei que
podia dizer-lhe que ia a casa do poeta. Acertei e ela ficou mais animada. Ia na
mesma direção, me acompanhou até quase a metade do caminho. Uma ótima conversa –
ela conhece a obra de Pessoa, é uma boa leitora (desconfio que é professora) e
falamos sobre nosso idioma comum – as diferenças entre a língua que se fala em Portugal
e no Brasil. Ela aprecia a criatividade brasileira – é fã das novelas. Nos
despedimos – ela se certifica se eu entendi a direção – virar à direita, atravessar
depois da cúpula por causa de obras. Agraço e sigo as orientações.
A
última parte da conversa me lembra da primeira viagem que fiz a Portugal. Em Cascais
alguém me diz que a rodoviária é na rua tal em frente à rotunda, mas não achei e
mudei os planos; mais tarde, localizei a rodoviária, mas não vi a tal cúpula. Dias
depois em Évora uma pessoa aponta a estação de trem “ali, bem em frente à
rotunda”. Ah! A rotunda é a rotatória!!!
Em matéria de criatividade as ruas lisboetas são ricas. A Rua do Sol ao Rato é um ótimo exemplo. E fui pesquisar o motivo do nome: Rato era o apelido de Luís Gomes de Sá e Menezes, que viveu no século XVII, foi padroeiro do convento das Trinitárias de Campolide e que deu nome ao convento e à região do entorno. Sá e Menezes, talvez, fosse rato – frequentador assíduo – de igreja, daí o apelido.
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