sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

PONTO DE ÔNIBUS

O bairro está cheio de novidades e uma delas é uma escola particular de ensino fundamental que abriu as portas esta semana.  O prédio tem umas quatro ou cinco vagas de estacionamento na frente. Eu para variar estava no ponto do ônibus, quando vi uma senhora junto a um carro, falando com uma pessoa que a mureta ocultava. Parecia aborrecida, mas calma. Pela direção do olhar deduzi que seria uma criança. Então ela abriu a porta traseira do veículo e o personagem oculto apareceu. Devia ter uns sete anos e entrou rapidamente no carro. Ela fechou a porta e se dirigiu para a escola. (Nem sinal do ônibus.) A avó retornou com uma funcionária que foi conversar com o garoto. Desistiu logo. A avó retomou a conversa com o menino. (Consulto o celular e me preocupo com o atraso do coletivo.) Surge outra funcionária, que parece decidida a resolver o “assunto”: abre a porta do veículo, começa as negociações, enquanto pega a mochila que tenta colocar nas costas, mas se atrapalha porque ela é grande demais. Com a mochila debaixo do braço, as tratativas não progridem. Ela também desiste. Surge então o avô que provavelmente era o motorista. Vai até o netinho, pega-o no colo com carinho, afasta-se em direção ao ponto sempre conversando com ele. Parece uma conversa com açúcar e com afeto. (O ônibus chegou e não vi o desfecho da história.) Espero que o papo “de homem para homem” tenha dado resultado com o teimoso superando o medo da escola – ou da mudança na sua vida – e tenha a oportunidade de descobrir que ela pode ser risonha e franca.   


Leitura, tela de Eduard Swoboda (1814 – 1902).

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