Toda
cidade guarda fatos pitorescos protagonizados seus moradores. Alguém tem uma
ideia esdrúxula que entusiasma a turma e logo essa ideia se concretiza para
alegria do grupo, se torna um sucesso no bairro e ganha um espaço na história
local. Caso da famosa CORRIDA DA CUECA, que acontecia no Ano Novo no Campo
Grande – para quem não é de Santos, o bairro é pertinho do campo do Santos
Futebol Clube (Vila Belmiro).
Tudo teve início com um morador da
região que costumava comemorar o começo do ano novo correndo pelas ruas de
cuecas, chamando atenção da vizinhança.
Daí a implementar a ideia foi um passo. Em São Paulo, havia a São
Silvestre, por que não realizar algo similar, mas nada convencional? Não tem
calção? Vai de cueca! Afinal, “nada melhor do que uma
corrida para curtir uma ressaca”. E foi assim que Nilton Gonzaga Trudes, que
aniversariava no dia 31 de dezembro, iniciou a “Corrida da Cueca” na última
noite de 1970, com a participação da rapaziada do bairro com apoio da torcida
familiar, vizinhos, possíveis admiradoras e curiosos.
Com
a divulgação, o evento atraiu público maior e a corrida foi incrementada:
ganhou patrocinadores, apoio do Amazonas Futebol Clube, da Prefeitura e mereceu
até batedores da PM. Assim, além de um prêmio para o vencedor da prova, havia brindes
para quem usasse a cueca mais bonita e para o core redor mais alegre. Os
participantes ficaram conhecidos como “cuequeiros”.
Os
atletas (por assim dizer) saiam do Clube. O trajeto de um quilômetro consistia de
duas voltas em forma de oito: começava e terminava na rua Amazonas, passando
pelas ruas Augusto Paulino, Pará e Espírito Santo. O percurso às vezes variava,
incluindo a rua Arnaldo de Carvalho, o que significava mais 300 m.
Alguns
recortes de jornais da época dão uma ideia do evento. Em 1979, a corrida chegou
a ter 200 participantes! Um sucesso! Para participar idade não era problema,
importante era o estado físico (parece que o etílico não era considerado) e a
cueca. Em entrevistas à imprensa, os organizadores contavam que o grande destaque
da prova era o desfile de apresentação dos corredores antes da prova, quando se
submetiam aos jurados para escolha da cueca mais criativa (hum!). Muitos
participantes tinham até torcida. José Roberto Damião, da Vila Matias, foi
bicampeão da corrida aos 21 anos. Em entrevista contou que levava muito a sério
a competição, fazia concentração e alimentava-se com sucos de frutas para
enfrentar os mil metros da prova. Jorge Fernandes Jambo também ganhou duas
vezes consecutivas a prova.
Vencedores
de 1978: Jorge Fernandes Jambo, José Roberto Damião e Antônio Carlos Araújo.
Coube a Manoel Esteves Rodrigues, Antônio Corte, Oswaldo Esteves Barcia, Alberto
Barreiros, Claudio da Silva Gomes e Oswaldo Afonso a árdua tarefa de escolher a
cueca mais bonita – uma peça enfeitada com sininhos e lantejoulas usada por
Sérgio Miller Serafim. Nilton Gonzaga Trudes conquistou o segundo lugar – com
uma cueca iluminada por duas lâmpadas (uau!); e o terceiro lugar foi de Carlos
Alberto Pereira (modelito ignorado). O atleta mais alegre: Paulo Sérgio Correa.
Foram
organizadores da corrida ao longo dos anos: Nilton Gonzaga Trudes, Tadeu Cavalcante,
Arivaldo Fernandes, Cláudio Eduardo Rocha Moreira, Gilberto Otoni de Souza, Caio
dos Santos Fernandes entre outros. A sede do clube,
fundado em 1948, é na rua Amazonas, 63, Campo Grande, Santos.
Sem redes sociais na época, a Corrida da Cueca era uma grande festa compartilhada por famílias, vizinhos e amigos.
Meus agradecimentos a Rosamar e Rosalice Rosário e Urania Trudes, viúva de Nilton pela colaboração.
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