sexta-feira, 12 de maio de 2017

A BOLSA, OS ÓCULOS E O SOFÁ.
(E uma xícara de chá)
O que não falta na TV são seriados policiais. As histórias são quase sempre as mesmas – uma delegacia, uma equipe, um crime, as pistas e, enfim, a prisão do criminoso. O desafio dos produtores é encontrar variações em torno do mesmo tema. Alguns conseguem introduzindo algumas pequenas coisas que amenizam a violência ou a falta de talento de alguns atores.

CSI Miami (2002-2012) é a pior das três séries sobre cientistas forenses. Todas as esquisitices ficam por conta de David Caruso (1961), um canastrão de primeira, cheio de maneirismos, porém, o destaque fica com os óculos escuros que ele tira e põe o tempo todo. Product placement, naturalmente. Da trilogia, a melhor, em minha opinião, é CSI New York, que reúne ótimas histórias.


Ela carrega a bolsa para todos os lugares a que vai e tudo o que cai nela desaparece – especialmente os óculos de perto. Trata-se da personagem Brenda Leigh, interpretada pela atriz Kyra Sedgwick (1965) na série The Closer (2005-2012).  Brenda Leigh é infantil e mimada na vida pessoal, mas transforma-se numa profissional determinada e encrenqueira quando entra na delegacia que comanda. A personagem, quase quarentona, ainda tem medo do pai, mas enfrenta bandidos horripilantes e se movimenta de uma sala para outra sempre com a bolsa preta pendurada no ombro e, naturalmente, a leva a todas as cenas de crime. No último episódio da série a bolsa tem uma participação especial. The Closer é um drama policial com momentos de bom humor.



The Mentalist (O mentalista) é uma série que usou com inteligência os chavões dos dramas policiais, incluindo um romance à moda antiga. Patrick Jane (Simon Baker, 49) é o mentalista que ajuda (mas arruma muitas encrencas) a polícia nas investigações usando seu poder de observação do comportamento humano para encontrar os culpados dos crimes. É um charlatão recuperado graças a um drama pessoal e busca uma vingança. Como não é policial, tem regalias: na delegacia passa a maior parte do tempo deitado num sofá ou preparando chá na copa, mas não hesita em preparar a bebida na casa dos suspeitos ou das vítimas. A série teve sete temporadas (2008-2015), mas continua sendo exibida nos canais por assinatura.

Linda Hunt (1945), inesquecível no papel de Billy Kwan, o fotógrafo anão, interpretação lhe valeu o Oscar de atriz coadjuvante no filme australiano “O ano em que vivemos perigosamente”, dirigido por Peter Weir (1982). Encontra-se em plena forma como se pode ver na série NSCI Los Angeles em que rouba todas as cenas. Invariavelmente, o personagem dela (Hetty) está saboreando uma xícara de chá e não perde oportunidade de elogiar a bebida e falar dos segredos do seu preparo para os eventuais visitantes que aparecem em sua sala.  


terça-feira, 9 de maio de 2017

MANUAL DO PENINHA

Bem na época em que se discute a qualidade do jornalismo que se pratica mundo afora, não é que aparece nas bancas de jornal o MANUAL DO PENINHA? Relançamento da publicação de 1973 (Editora Abril), que guardo porque, apesar de destinado ao público infantil, é muito bem feito. Naturalmente, o mundo mudou bastante e as novas tecnologias deram um dinamismo extraordinário ao jornalismo, embora os grandes meios de comunicação ainda não lidem bem com as novidades. Na capa, o repórter atrapalhado carrega um jurássico gravador... Na contracapa, imaginem, ele usa outra ferramenta que já faz parte de museu: a máquina de escrever. Não comprei a nova edição, mas com certeza as inovações do final do século XX e início do XXI devem fazer parte da publicação.
Na edição DE 1973, há um capítulo intitulado “O JORNAL DO FUTURO”, onde o redator já previa algumas das importantes mudanças que hoje são corriqueiras e ao alcance de qualquer pessoa que tenha um PC, TABLET ou outra geringonça eletrônica. “Uma tarefa do jornalismo que ainda consome muito tempo é a complementação da notícia, a pesquisa, a consulta aos arquivos. No futuro, os arquivos serão eletrônicos. Todos os dados de uma biblioteca estarão armazenados ‘na memória’ de possantes computadores. Se, por exemplo, um redator quiser escrever sobre o último campeonato mundial de futebol vencido pelo Brasil, ele só terá que pedir ao computador – falando ou por escrito – o que deseja saber. Segundos depois, os dados serão impressos ou então projetados numa televisão de circuito fechado. E ele logo saberá tudo sobre o assunto.“
Naqueles longínquos anos do século passado, o redator citava o caderno de jornalismo do JORNAL DO BRASIL, do Rio de Janeiro, que ironizava a situação: “no futuro um cérebro eletrônico poderá editar um jornal ou uma revista. O único problema do diretor será ao sair da redação no fim do expediente diário, chamar um contínuo e dizer: ‘Por favor, Percival, não se esqueça de colocar óleo no redator-chefe’”.  Em 2010 o JORNAL DO BRASIL, fundado em 1891, não diria que passou desta para melhor, mas mudou para o mundo digital...
O artigo termina acalmando os candidatos a repórter daquela época: “por mais aperfeiçoadas que sejam, as máquinas não poderão fazer tudo no jornalismo e haverá sempre a necessidade da ‘cuca’  de um bom jornalista para colher, escrever e analisar os fatos. A não ser, é claro, que algum Professor Pardal invente um jornalista eletrônico'”.

 

O personagem Peninha (Disney), um pato atrapalhado e distraído, foi criado em 1964 e apareceu pela primeira vez na Itália. Entre as muitas coisas que ele tenta ser na vida é repórter do jornal A Patada cujo dono é o Tio Patinhas.




Manual do Peninha: R$ 39,90. 







quarta-feira, 3 de maio de 2017

PLANETA DAS GALINHAS
       A população da Terra já ultrapassou os sete bilhões de pessoas e chegamos a tal número graças à agropecuária, a atividade mais antiga da humanidade. Quando o homem domesticou as plantas e os animais há mais de dez mil anos, conseguiu prolongar a vida da espécie e criar condições para construir um mundo novo cheio de ferramentas, signos e valores. Se esse mundo é bom ou mau, não vem ao caso.
O homem espalhou-se pelo planeta levando em sua jornada porcos, ovelhas, galinhas entre outros animais que foi domesticando, aprimorando a criação e ao longo dos séculos inventando tecnologias para comercialização das carnes de forma que pudesse atender um número de consumidores cada vez maior. Se isso deu certo? Alguns números atuais bastam: em 2016 contabilizavam-se no mundo um bilhão de ovelhas, um bilhão de porcos e mais de um bilhão de cabeças de gado.  O que surpreende mesmo é a quantidade de galinhas: 25 bilhões! O que representa mais de três aves para cada ser humano do planeta.
A galinha (Gallus gallus domesticus) tem origem asiática. Já era domesticada na China em 1.400 a.C. A ave é uma das fontes mais baratas de proteína; ela é onívora (come sementes e pequenos invertebrados) e a criação é simples, o que explica o fato de que na África 90% das casas têm galinheiros. Uma galinha selvagem vive em torno de 7 a 12 anos; quanto às domesticadas, depende da fome do dono, mas no caso dos frigoríficos, elas vivem bem pouco.

Se alguém acha que galinha é pouco inteligente, engana-se. Um estudo sobre os galináceos, realizado pelas cientistas comportamentais Lori Marino e Christina M. Colvin, indicou que “as capacidades cognitivas e emocionais das aves lhes permitiriam perceber tanto quanto crianças pequenas, primatas ou certos pássaros geralmente considerados muito mais inteligentes”, segundo reportagem da DeutscheWelle, de janeiro deste ano, divulgada pelo UOL Notícias.  

terça-feira, 2 de maio de 2017



A COBRA VAI FUMAR
           Hoje é o Dia Nacional do Ex-Combatente, uma data que homenageia os integrantes da Marinha, Exército e Força Aérea que participaram da Força Expedicionária Brasileira (FEB) enviada à Itália na II Guerra Mundial (1939-1945). Uma justa homenagem aos 25.334 participantes da Campanha da Itália entre os quais 67 mulheres, as enfermeiras.
“Levaste na tua sacola
As cores claras da aurora
Levaste no teu bornal
As  cores quentes do sol
Levaste no teu fuzil
A fúlgida flor de anil
Da bandeira do Brasil
Para o mundo libertar (...)”
(“O Canto do Pracinha Só”, de Oswald de Andrade.)
          O Brasil declarou guerra à Itália e à Alemanha em agosto de 1942 e decretou em seguida a mobilização, mas a convocação só aconteceu em 1943, com a criação da Força Expedicionária Brasileira (FEB). A FEB foi fruto dos entendimentos entre Vargas e Roosevelt e não teve apoio dos militares brasileiros que se identificavam com o fascismo. Foi feito o estritamente necessário para cumprir o acordo entre o presidente norte-americano e o ditador brasileiro e desde o início ficou patente o desinteresse pelos convocados. A demora em decidir sobre o embarque tornou-se piada – a população dizia que “era mais fácil uma cobra fumar do que a FEB lutar”. Os soldados não perderam o brio e, já no embarque, transformaram o bordão no grito de guerra. Os aviadores preferiram ir à guerra com o brado "Senta a pua!"
          Enfim, o 1º Escalão da FEB – composto por 5.075 homens, incluindo quatro generais e 1.535 oficiais – embarcou sob o comando do coronel João Segadas Viana, no navio-transporte americano General Mann, que partiu do Rio de Janeiro no dia 2 de julho, chegando a Nápoles catorze dias depois. Em meados de setembro, o 1º Escalão teve seu batismo de fogo ao lado dos americanos. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, os 2º e 3º Escalões da FEB embarcavam para a Itália, no navio transporte americano General Meighs (5.239 soldados) e no General Mann (5.075 homens). As duas embarcações zarparam, no dia 22 de setembro. No dia 23 de novembro, o General Meighs transportou mais 4.691 praças e 285 oficiais do 4º Escalão da FEB, sob o comando do Coronel Travassos. Foram ainda transportados por via aérea, 44 médicos e 67 enfermeiras, totalizando 25.334 participantes da Campanha da Itália.
“Vou teus irmãos convocar
João, pracinha do Norte
Pedro, pracinha do Sul
Antonio, de Mato Grosso
Ricardo, da Paraíba
Francisco, do Ceará
Negro do cais da Bahia
Mineiro do Sabará (...)”
(“O Canto do Pracinha Só”, de Oswald de Andrade.)
          Em oito meses e 19 dias de luta, a FEB perdeu 443 homens entre soldados e oficiais e cerca de três mil foram feridos em batalha. As forças brasileiras fizeram 20.573 prisioneiros – entre eles dois generais, o alemão Otto Fretter e o italiano Mario Carlonio. Os historiadores ressaltam a participação da FEB nas batalhas de Monte Castelo, Castelnuovo-Soprasasso, Montese (a mais sangrenta) e Fornovo di Taro (três meses de luta em pleno inverno europeu).

          



Um pouco do cotidiano da cidade de Santos (SP), no período da II Guerra Mundial, encontra-se no meu livro:
Disponível na Livraria Nobel, Shopping Parque Balneário, Santos, e no site http://www.comunnicar.com.br/ 

segunda-feira, 1 de maio de 2017

DIA DO TRABALHO.

          “O trabalho é toda atividade humana voltada para a transformação da natureza, com o objetivo de satisfazer uma necessidade.”* É uma condição específica do homem. 
          O trabalho surgiu há cerca de dez mil anos com a revolução agrícola e a domesticação dos animais, o que torna o agricultor e o pastor os primeiros trabalhadores e também os propulsores da civilização.
 Pintura de túmulo egípcio datada de 3.500 anos atrás.
"Café", obra de Cândido Portinari (1903-1962). Segunda menção honrosa na Exposição Internacional
de Arte Moderna do Instituto Carnegie (EUA) em 1935. Acervo do Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro.


*Dicionário de Economia, organização e supervisão de Paulo Sandroni, Editora Best Seller, 1994. . 

sexta-feira, 28 de abril de 2017

PANORAMA BRASILEIRO


           Abril vai chegando ao fim com jeito de maio – tempo encoberto e frio. Do alto da Serra do Mar uma das muitas visões da Baixada Santista. Um caminho histórico entre o mar e o planalto, cortando a Mata Atlântica. Sob o sol ou chuva sempre belo. Fotos: Hilda Prado, 2017. 

Baixada Santista vista do Caminho do Mar.
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domingo, 23 de abril de 2017



“Os livros me ensinam a pensar e o pensamento me faz livre.” Ricardo Leon (1877-1942).

Pierpont Morgan Library Museum, Nova York. 

sábado, 22 de abril de 2017

DIA DA TERRA


        Apenas uma data porque maltratamos impiedosamente nossa casa e, não satisfeitos, estamos em busca de outro planeta que, se nos acolher, sofrerá as consequências da ação desse grande predador que somos. Cientistas calculam a idade dessa maravilhosa bola navegante em 4.54 bilhões de anos. (Foto: Nasa.)

terça-feira, 18 de abril de 2017

DIA NACIONAL DO LIVRO INFANTIL E DIA DE MONTEIRO LOBATO.


Quando era criança, sempre quis ser Emília, aquela boneca de pano atrevida que pertencia a Narizinho e atormentava a vida de todos no Sítio do Pica-pau Amarelo – de Dona Benta ao Visconde de Sabugosa. Inesquecível a aparência que o haitiano André Le Blanc (1921-1998) deu à Emília, até hoje para mim a melhor ilustração da boneca. Eu tinha uns nove anos quando ganhei o primeiro livro de Monteiro Lobato (1882-1948) e já havia lido os belos contos de fadas europeus repletos de princesas, fadas, bruxas e príncipes. Um maravilhoso mundo do faz-de-conta, mas a turma do sítio era muito mais próxima da realidade apesar da magia que campeava por aquelas terras. 






Depois da obra de Lobato, minha história infantil preferida é Peter Pan, obra de sir James Mattew Barrie (1860-1937) que conheci graças ao maravilhoso desenho de Walt Disney, lançado em 1953, mas a que assisti tardiamente. Continuo apreciando a literatura infanto-juvenil. Recentemente, tenho me divertido com a coleção Pequeno Filósofo da Martins Fontes.











domingo, 16 de abril de 2017

UM FILME INESQUECÍVEL

Não precisa ser Páscoa para assistir ao musical norte-americano dirigido por Charles Walters e que tem como protagonistas Ann Miller, Fred Astaire e Judy Garland.  "Desfile de Páscoa" estreou em 1948 e nunca perdeu o frescor. Ótima diversão em qualquer época do ano. 

 


sábado, 15 de abril de 2017

PORQUE HOJE É SÁBADO!

"Onda que vens e que vais
Mar que vais e depois vens,
Já não sei se tu me atrais,
E, se me atrais, se me tens."
(Fernando Pessoa)


Swimming boys, óleo sobre tela do alemão Max Liebermann (1847-1935).


sexta-feira, 14 de abril de 2017


CÉU PAULISTANO


"Nuvem do céu, que pareces
 Tudo quanto a gente quer,
Se tu, ao menos, que me desses,
O que se não pode ter!"

OBRA POÉTICA de Fernando Pessoa: "Quadras ao gosto popular". 
Foto: HPPA, 2016.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

DIA DO BEIJO

Amigos, amados e amantes aproveitem e troquem esse carinho na escala correspondente aos laços que os unem. Como tudo nos tempos atuais, o beijo também está banalizado. Dois ou três quando se encontra algum conhecido, ao se despedir da tia para ir à padaria da esquina ou quando se acaba de ser apresentado a um completo estranho em uma festa?
No caso dos amantes o cinema tirou o beijo das alcovas. Na rua, no metrô, na praça, enfim, em qualquer lugar – mesmo nos mais improváveis, há pessoas dando vazão à paixão. No escurinho do cinema?  Os tempos do drive-in já passaram. Haverá beijos drive-through?  Sei lá, sejam felizes.
O primeiro beijo da história do cinema foi em 1896 e os protagonistas foram John C. Rice e May Irwin. O título do filme? “O beijo”, de 1896. O ator John Barrymore (1882-1942) no filme “Don Juan” em 1926 bateu um recorde ao dar 191 beijos em diferentes mulheres, o que totalizou um beijo a cada 53 segundos. Haja fôlego!
Foram Jane Wyman (1917-2007) e Regis Toomey (1898-1991) que deram o beijo mais longo do cinema: três minutos e cinco segundos. O filme era “You’re in the Army now” (A serviço de sua majestade), rodado em 1941. Em “From here to eternity” (A um passo da eternidade), Burt Lancaster (1913-1994) e Deborah Kerr (1921-2007) acenderam o fogo na plateia com uma cena tórrida nas areias do Havaí. Era 1953 e o filme levou oito estatuetas do Oscar.
E assim durante todo o período romântico do cinema nenhum filme era bom se no final não houvesse um beijo – foram os bons tempos do happy end. A história do beijo no cinema está resumida no belíssimo filme italiano “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tornatore (1988).
Em fevereiro de 2005, a atriz Natalie Portman (1981) e o ator israelense Aki Avni (1967) foram expulsos da área do Muro das Lamentações em Jerusalém onde filmavam Zona Franca por causa de uma cena de beijo. Os religiosos ortodoxos acusaram o casal de imoralidade

O grande beijo do século XX foi fotografado por Alfred Eisenstaedt (1898-1995) para a revista LIFE. Aconteceu em agosto de 1945 em Times Square, Nova Iorque: durante as comemorações do final da guerra o marinheiro entusiasmado com a vitória surpreende uma enfermeira com um beijo audacioso. A foto conquistou o mundo pela expressividade. Os dois nunca foram identificados, mas ninguém se incomodou com isso. 

Civitavecchia, Itália.

A um passo da eternidade...

quarta-feira, 12 de abril de 2017

PÁSCOA E OVOS

               
Abril sem duas sextas-feiras seguidas, graças aos feriados cristão (14) e cívico (21). Se as pessoas estão realmente ligadas à simbologia religiosa da Páscoa não tenho ideia, mas certamente há uma correria geral para comprar ovos de páscoa. Quanto a Joaquim José da Silva Xavier quero crer que seja devidamente reverenciado nas escolas por sua participação em um importante momento histórico do Brasil, porém, sou cética. Creio que o interesse quase geral é pelo feriado e as suas possibilidades.
Os povos antigos do hemisfério norte comemoravam a chegada da primavera na primeira lua cheia da nova estação. Os judeus celebravam a partida do Egito rumo a Jerusalém (Pessach) também na primeira noite de lua cheia da primavera. Como Jesus teria morrido na sexta-feira da páscoa judaica, a igreja católica instituiu a semana santa no ano de 325 (Conselho de Niceia): quinta-feira de endoenças, sexta-feira da paixão (morte de Jesus); sábado de aleluia (ressurreição) e domingo a páscoa (celebração da vida). A páscoa é uma festa móvel, baseada no calendário lunar, assim como o carnaval cuja data depende da lua cheia da primavera (outono aqui no hemisfério sul).
Em muitas culturas o ovo é considerado símbolo do nascimento e da vida. Quando viram os portugueses comendo ovos os nativos brasileiros ficaram horrorizados, segundo historiadores; entretanto, apreciaram muito os galináceos em geral. A pintura de ovos de galinha é uma tradição praticada por gregos e egípcios e comum na Europa muito antes do advento do cristianismo.
Nos dias atuais, graças aos apelos publicitários, as pessoas querem mesmo ovos de chocolate bem recheados de guloseimas – alguns até incluem algum mimo não comestível. No ano passado a produção girou em torno de 80 milhões de ovos ou 20 mil toneladas de chocolate!
Muito antes de a publicidade mover o mundo, a paixão de um homem por uma mulher induziu a criação de um ovo muito especial. Resumo da ópera: Maria Feodorovna, mulher do czar Alexandre III da Rússia, era apaixonada desde criança por um ovo decorativo da tia, princesa Guilhermina da Dinamarca. Em 1885 Alexandre III para surpreendê-la encomendou um ovo ao joalheiro Peter Carl Fabergé. A parte externa era esmaltada de branco, o que lhe conferia a aparência de um ovo de verdade; porém quando o ovo era aberto revelava a gema de ouro; a gema, que também se abria, escondia uma minúscula galinha e uma réplica de diamante da coroa imperial russa.
Maria Feodorovna e a família Romanov se encantaram com o valioso e criativo presente de Páscoa. Fabergé foi incumbido de criar todos os anos um ovo, ou melhor, uma joia na forma de ovo. O filho do casal, Nicolau II, prosseguiu com a tradição. Foram criadas cinquenta peças, mas só restam 43 – dez permanecem no Kremlin; o primeiro e mais oito ovos podem ser vistos no Fabergé Museum (S. Petersburg, Rússia); The Rose Trellis Egg encontra-se no Walters Art Museum (Baltimore, USA), cinco são propriedade do Virginia Museum of Fine Arts e os demais fazem parte de coleções particulares.



 

terça-feira, 11 de abril de 2017

AO LONGO DE UM RIO: 1975

A primeira cidade da rota do barco Benjamim Guimarães é SÃO ROMÃO, que surgiu em 1668 com o nome de Santo Antonio da Manga, depois tornou-se Vila Risonha de Santo Antônio da Manga de São Romão e quando foi elevada à categoria de cidade em 1923 teve o nome reduzido para S. Romão. Vamos em frente.

"E a formosa cidade de SÃO FRANCISCO, a quem o rio olha com tanto amor", nos dizeres do escritor Guimarães Rosa. São Francisco foi fundada em 1887. É famosa pelo pôr do sol, mas o que não falta é um belo entardecer ao longo do rio. O espetáculo do nascer do sol também se renova diariamente. Chegamos a PEDRAS DE MARIA DA CRUZ, na época distrito de Januária (cidade desde 1992). O nome da cidade é homenagem a Maria da Cruz, educadora e benemérita do século XVII. Quem nasce em Pedras de Maria da Cruz? Pedrenses.

Chegamos a JANUÁRIA. Boa parte dos passageiros se abastece com o principal produto da cidade: cachaça. A malvada é essencial para ajudar a enfrentar a comida de bordo. A cidade foi fundada no século XVII. A Igreja da Nossa Senhora do Rosário, construída em 1688, é uma das mais antigas de Minas.

O barco toma o rumo de ITACARAMBI – (rio das pedras arranhadas), famosa pela Gruta Olhos d’água; Matias Cardoso – distrito na época, elevada á cidade em 1993. O nome é homenagem ao bandeirante. Passamos por MANGA cuja origem também é o bandeirantismo. O lugar teve vários nomes até a instalação do município em 1923.

Chegamos à Bahia. Porta de passagem é CARINHANHA, que se tornou vila em 1832 e cidade em 1909. Numa curva do rio surge uma torre medieval. Visão estranha naquele sertão. Chegamos a BOM JESUS DA LAPA, cidade santuário que atrai dois milhões de turistas/ano. O lugar tem origem com a chegada por volta de 1680 do português Mendonça Mar, que se instalou na gruta onde viveu em isolamento até que garimpeiros o encontraram e espalharam a notícia do homem santo. Mendonça Mar (ironia do destino sua vida à beira-rio) tinha uma bela visão do São Francisco a partir da gruta.

Navegar é preciso como diz o poeta. Passamos por PARATINGA (rio branco em tupi) e IBOTIRAMA (flor promissora) ambas formadas no século XVIII; MORPARÁ e COPIXABA. Chegamos à BARRA – antiga Vila de São Francisco de Chagas da Barra Grande do Rio (ufa!). A história do lugar remonta a um arraial do século XVII, mas só se tornou cidade em 1873 e mais tarde parte do seu território foi desmembrada para formar outras cidades entre as quais Pilão Arcado e Carinhanha à margem do rio. Anotação: “cidade das casas rebuscadas, tres igrejas e três praças – as árvores ficam na rua ao redor da praça. Pessoas se oferecem para guiar os turistas”.

Depois de Ibiraba chegamos a XIQUE-XIQUE – o nome provém de um cacto comum na região. Quase meia-noite. Cidadezinha agitada. Nos barzinhos ou botecos, o rock corre solto. Grande decepção. Nada de música regional. Enfim,os xiquexiquenses têm direito de apreciar um bom rock.

A viagem prossegue para SALDANHA – nenhuma anotação. No dia 29 de janeiro chegamos a PILÃO ARCADO, que já estava em processo de abandono – atracadouro quebrado, porcos soltos pelas ruas, nenhum armazém funcionando. Chama atenção as pedras cor-de-rosa. Essa cidade não existe mais. A população foi transferida no final daquele ano para a nova Pilão Arcado, planejada e construída pelo Governo Federal, por meio da CHEFS. A antiga cidade com origem no século XVII foi inundada por causa da construção da barragem de Sobradinho.

Destino igual tiveram REMANSO, SENTO SÉ, CASA NOVA e SOBRADINHO. Muito estranho saber que estava vendo pela última vez aquelas cidades – as cidades originais. Angustiante para os moradores que veriam suas histórias de vida desaparecerem completamente sob as aguas do rio... E o futuro como seria? Espero que tenha sido melhor.

Chegamos a Petrolina (PE) no final de janeiro. Os passageiros com destino a Juazeiro (BA) do outro lado do rio tiveram direito a transporte a bordo de um pau-de-arara – outra experiência irrecusável.zeiro (BA) do outro lado do rio tiveram direito a transporte a bordo de um pau-de-arara – outra experiência irrecusável. 
Pôr do sol na cidade de São Francisco (MG). Foto: Prefeitura.
New Orleans, 2013: matando saudade do  S. Francisco no barco do rio Mississipi. 
Foto: Hilda Araújo.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

NAS ÁGUAS VERMELHAS DO SÃO FRANCISCO

Em 1819, o botânico e naturalista francês Auguste Saint-Hilaire (1779-1853) fez uma viagem até a nascente do rio São Francisco a partir do Rio de Janeiro. A aventura originou o livro “Viagem às nascentes do Rio São Francisco e pela província de Goiás”, publicado em 1848 em Paris. O rio São Francisco nasce na serra da Canastra em Minas Gerais e percorre 2.863 km até o Oceano Atlântico depois de atravessar a Bahia, fazendo a divisa desse estado com Pernambuco e mais adiante faz a divisão entre os estados de Alagoas e Sergipe. O velho Chico, o chamado rio de integração nacional, tem 36 afluentes, sua bacia hidrográfica, a terceira maior do Brasil, banha 503 municípios e abrange sete estados. O rio é navegável em dois trechos: o médio entre Pirapora (MG) e as cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) tem 1.371 km; e  o baixo, com 208 km, vai de Piranhas (AL) ao Atlântico.

Em janeiro de 1974 empreendi a aventura de Pirapora a Petrolina a bordo da gaiola Benjamim Guimarães, barco a vapor movido a rodas de pás, fabricado em 1913 pelo estaleiro James Rees, de Pittisburgh, Pensilvânia (EUA). Barco lotado – populações ribeirinhas, estudantes do eixo Rio/São Paulo/Minas e alguns turistas estrangeiros dormindo em redes no convés por Cr$ 94 – uma ninharia. Uma cabine de primeira classe custava   Cr$ 1.000,00, mas não era tão animada. Duração da viagem: seis ou sete dias. A passagem incluia três refeições por dia e o passageiro da geral tinha que levar o próprio prato, talher e copo na bagagem. (Lembro de um operário que fazia as refeições no capacete). Uma multidão aguardava a hora do embarque e assim que se alcançava o convés era preciso pendurar a rede para garantir o lugar. Aos retardatários, o chão! E o chão logo estava repleto de mochilas.

Partimos no dia 25 de janeiro. Para quem não sabe a gaiola é um barco dotado de uma caldeira que produz energia para mover as rodas de pás que funcionam como mecanismo de propulsão. O primeiro vapor a navegar pelo São Francisco foi o “Saldanha Marinho”, importado dos Estados Unidos em 1871 e montado em Barbacena (MG). Benjamim Guimarães singrava bravamente pelas águas barrentas do rio parando rapidamente aqui e ali para pegar ou deixar passageiros ou em estadas mais demoradas para se prover de lenha para abastecer a caldeira voraz.

O São Francisco ofereceu-me uma gama de paisagens inesquecíveis e algumas irrecuperáveis porque desapareceram com a construção da barragem de Sobradinho. Foram vinte e três localidades ao longo dos 1.371 km até Petrolina.

O Benjamim Guimaraes é tombado pelo patrimônio histórico local e estadual, e atualmente, passa por reformas. O nome é homenagem a Benjamim Ferreira Guimarães (1861-1948), industrial, banqueiro e filantropo mineiro. 


Foto: Prefeitura de Pirapora (MG).









sábado, 8 de abril de 2017

PORQUE HOJE É SÁBADO

"Festa no Arraial", obra de  Anita Malfatti, óleo sobre madeira, década de 1940.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

MÉDICOS A SERVIÇO DA JUSTIÇA

Ele é o médico com quem ninguém quer marcar consulta embora nenhum dos seus clientes tenha queixas contra ele, mas tampouco nenhum o recomende. Não importa se é homem ou mulher, bonito ou feio, competente ou não. Não diria que ele é de matar, pois, afinal, quase todos chegam à sala dele quando já morreram. Trata-se naturalmente do médico legista, uma especialização que ganhou notoriedade há alguns anos, quando algumas séries policiais americanas de TV deram destaque à importância da medicina legal nas investigações criminais.
Hoje é o dia do médico legista: em 7 de abril de 1886 foi criada a a perícia médico-legal por meio da lei nº 18. Na verdade, o médico legista é responsável pelo exame de corpo de delito em vítimas vivas ou mortas. Elabora laudos que permitem a análise de fatos ocorridos durante o crime, identifica armas usadas, causa da morte e até pode fornecer características do criminoso, ajudando na investigação. O erro do legista na necropsia pode causar grandes problemas de justiça.
David McCallum, Jr. (1933): NCSI.

Atualmente, quase todas as séries policiais incluem o profissional em suas histórias. O mais simpático personagem é o médico velhinho de NCSI, Donald "Ducky" Mallard, interpretado pelo ator escocês David McCallum, Jr. (1933). Personagem pioneiro em entabular longas conversas com os clientes em sua mesa. Pioneiro porque o sucesso do seu personagem levou outras séries a copiarem o modelito. Robert Joy (1974) no papel de Sid Hammerback em CSI New York também como o Duck adora contar histórias fora do contexto.

Em CSI Miami o personagem de Khandy Alexander (1957) é Alexx Woods, muito exagerada (na linha do canastrão David Caruso) em suas conversas com os mortos. O legista de CSI David Al Roberts, vivido por Robert David Hall (1947), gosta de rock e frequentemente está às voltas com as próteses das pernas.
Sacha Alexander (1973) deixou NCSI quando a personagem dela foi morta e acabou na mesa do Duck; mas a atriz retornou à ativa como Maura, legista da série Risolis & Isles – uma patricinha inteligente e complicada. 
Tamara Taylor.

Em matéria de legista elegante nesse mundo de ficção o prêmio fica com Tamara Taylor (1970), da série Bones. A série é baseada na experiência da norte-americana Kathleen Joan Reichs, antropóloga forense (especialista na identificação de corpos humanos) que é a criadora da personagem presente em seus vários livros de ficção. Na TV Bones é interpretada por Emily Deschanel (1976).


Em Castle, a atriz Tamala Jones (1974) interpreta a legista Lanie Parish temperamental namorada de um detetive. CCH Pounder, que estrelou o delicioso “Bagdá Café” (filme de Percy Adlon – 1987), é Loretta Wade, a médica legista de NCSY New Orleans.
E para encerrar, na série canadense de época Mistérios do detetive Murdock, a função de legista cabe a uma médica feminista Julia Ogden (Hélène Joy, 1978) e tão inovadora na profissão quanto o detetive Murdock.
Os meus seriados preferidos são Bones, NCSI e Mistérios do detetive Murdock. 


quinta-feira, 6 de abril de 2017

DIA MUNDIAL DA SAÚDE
Segunda-feira, 6 de abril de 1970: comecei meu estágio no jornal CIDADE DE SANTOS, após uma entrevista relâmpago com chefe de redação Argemiro Pereira de Paula na semana anterior. Estava no último ano da faculdade, era extremamente tímida. Nilton Tuna, colega de classe e grande amigo até hoje, me falara da vaga de estágio. Durante a conversa De Paula aproveitou um momento de distração e colocou em minha bolsa um grampeador. Saí satisfeita por ter conseguido o estágio, mas em casa achei o objeto estranho, me assustei e voltei imediatamente para devolvê-lo. Divertido com a situação, contou para a redação que eu havia voltado para devolver o grampeador. Risadas gerais. Começava ali uma grande campanha contra a minha timidez, chefiada por Alci Souza, João Sampaio, Itamar Miranda e o próprio De Paula entre outras pessoas.
No dia 6, me apresentei ao chefe de reportagem Mário Skrebys que deu à repórter Ercília Pouças Feitosa, – desde então amiga de todas as horas –, a companhia da foca durante o dia de trabalho. Difícil de esquecer a data porque ela foi entrevistar o secretário de Saúde de Santos Áureo Rodrigues para uma reportagem sobre o Dia Mundial da Saúde (7 de abril). Acho que aprendi direitinho com ela as primeiras lições práticas da profissão, porque fui contratada em junho daquele ano.
Um dia importante porque encontrei um caminho do qual nunca me afastei e onde fiz amigos muito queridos. O jornalismo foi um grande aprendizado de vida.
Enfim, a Organização Mundial de Saúde (OMS) foi criada em 7 de abril de 1948, data escolhida para divulgar questões de saúde em âmbito mundial. O lema da campanha deste ano é “Depressão: vamos conversar”. 

sábado, 1 de abril de 2017


CHEGOU ABRIL

                              Mês de lagartear ao sol, como dizia Monteiro Lobato (1882-1948). 








Abril: iluminura das Riquíssimas Horas do Duque de Berry, c. 1415.  O livro, um belo e luxuoso breviário ou livro de devoções, foi encomendado pelo duque, João da França (1340-1416), aos irmãos Limbourg. O destaque da obra é o belíssimo calendário que reproduz as atividades de cada mês e a imagem do céu que lhe corresponde. Na Europa é primavera, tempo de vida ao ar livre e tempo de os noivos trocarem alianças diante da família e convidados. Museu Condé, Chantilly (França).