sexta-feira, 2 de setembro de 2016

100 ANOS DA LAVAPÉS

Nos tempos coloniais, a viagem de Santos para São Paulo pelo caminho do Padre José terminava com um pequeno ritual que simbolizava a passagem da área rural para a urbana: a lavagem dos pés num córrego que dividia as duas zonas. Afinal, o caminho não era pavimentado e era de bom tom chegar à cidade de pés limpos e assim chamavam o lugar de “lava pés”. A expressão acabou se popularizando e quando virou uma rua ela não poderia ter outro nome a não ser Lavapés. A Rua Lavapés acabou de completar um século de existência (Lei nº 972 de 24/8/1916). Situa-se no distrito do Cambuci, que pertence à Subprefeitura da Sé.
O Cambuci, por sua vez, herdou o nome tupi (kamu'si) da árvore abundante na região e que significa pote, vaso ou urna por causa da semelhança do fruto com esses objetos indígenas. A árvore é uma Campomanesia phaea da família das mirtáceas, nativa da Mata Atlântica; as flores são brancas e os frutos, comestíveis. (Carne moída com Cambuci é muito saborosa.) No princípio, chamavam de “Pote” o largo que deu origem ao bairro, mais tarde mudaram para Largo do Cambuci, que acabou sendo oficializado em dezembro de 1906.
No início do século passado, indústrias se instalaram na região, atraindo trabalhadores que se instalaram nas imediações. Com a expansão e mudança do perfil da cidade, o bairro decaiu, afastando os moradores mais antigos. Atualmente, o Cambuci é um bairro misto – comercial e residencial. Aos poucos os imóveis antigos vão cedendo espaço aos condomínios de alto padrão.
A Igreja da Glória, situada no ponto mais alto do Cambuci, data de 1893. As obras foram realizadas com o apoio da família Assumpção e Silva, que doou o terreno à Mitra do Arcebispado de São Paulo. Durante a revolta tenentista ocorrida em 1924, quando tropas legalistas bombardearam a cidade, os revoltosos se abrigaram na igreja que foi alvo da artilharia aérea – a torre de ardósia e o altar foram atingidos e as paredes externas foram perfuradas pelos projéteis. Em consequência desse fato, em 1925, a igreja foi reformada e o revestimento da torre foi substituído por zinco que em 1968 foi trocado por alumínio.
O Colégio Marista Nossa Senhora da Glória foi fundado em 11 de fevereiro de 1902 para atender aos filhos dos operários italianos das redondezas. Começou a funcional na Rua dos Lavapés até que em 1955, foi inaugurado o prédio na Rua Justo Azambuja, fruto da doação de Isamel Dias, o que possibilitou a ampliação dos cursos. 
O Hospital Cruz Azul é outro equipamento importante do bairro. Em 28 de julho de 1925 mulheres paulistas lideradas pelo coronel Pedro Dias de Campos resolveram criar a Fundação Cruz Azul de São Paulo para proporcionar assistência permanente às famílias de soldados da Força Pública (Polícia Militar). O terreno do Cambuci para a construção do hospital foi doação do comerciante José Sampaio Moreira.
        Há ainda o Balneário Cambuci, há mais de 50 anos, proporcionando atividades de lazer e esporte para a população e uma tradicional casa de dança de salão – a Casa do Sargento (Rua Scuvero, 195) que promove bailes às quartas-feiras, sextas e sábados.
        O morador mais famoso do bairro foi o pintor Alfredo Volpi (1896-1988), que nasceu em Lucca (Itália). A família imigrou para o Brasil em 1897, estabelecendo-se no Cambuci. Volpe recebeu o premio de melhor pintor nacional da 2ª Bienal de São Paulo (1953). Morou também no bairro o presidente Jânio da Silva Quadros (1917-1992).

Pintura de 1897 exposta na Igreja da Glória.


NOTURNO
Luzes do Cambuci pelas noites de crime. . .
Calor! ... E as nuvens baixas muito grossas, 
Feitas de corpos de mariposas,
Rumorejando na epiderme das árvores...
Mário de Andrade.


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