CASA
DE MÁRIO
(Casas
paulistanas)
“Na rua Aurora eu nasci
Na aurora de minha vida
E numa aurora cresci.
No largo do Paissandu
Sonhei, foi luta renhida,
Fiquei pobre e me vi nu.
Nesta rua Lopes Chaves
Envelheço, e envergonhado
Nem sei quem foi Lopes Chaves.
Mamãe! me dá essa lua,
Ser esquecido e ignorado
Como esses nomes da rua.”
Joaquim Lopes Chaves nasceu em Jacareí (SP) em
15 de janeiro de 1833, era filho do barão de Santa Branca, comendador Francisco
Alves Chaves e de Gertrudes Lopes Chaves. Formou-se em Direito no Largo de São
Francisco, residiu em Taubaté, onde iniciou carreira política. Mas não foi a
política que o tornou famoso em todo o Brasil, mas o fato de em 1916 ter seu
nome atribuído a uma rua paulistana onde residiu um extraordinário morador que
a cantaria em prosa e verso: Mário de Andrade (1893-1945).
A
rua do Bom Retiro já existia desde o final do século XIX, quando Mário nasceu,
mas as casas de esquina datam da segunda década do século XX. A família Andrade
morou na Rua Aurora (onde Mário nasceu) e no Paissandu. Em 1921 Maria Luísa de
Andrade, a mãe de Mário, vendeu o imóvel do Paissandu e comprou as duas casas
da Rua Lopes Chaves. Mário, tios e primos instalaram-se na casa da esquina
(hoje nº 546). Ele só deixou a casa quando foi trabalhar no Rio de Janeiro (1938-1942)
e como disse em uma crônica premonitória (por assim dizer) de 1931: "Saí desta morada que se chama ‘O Coração Perdido’ e
de repente não existi mais".
Mário de Andrade morreu na casa que tanto amava. Na tertúlia que
organizava em 25 de fevereiro de 1945 subiu correndo as escadas em busca de
alguma preciosidade para mostrar aos amigos, sentiu-se mal e nem houve tempo
para socorro. Ele imprimiu sua personalidade à casa que se tornou um ponto de
encontro de intelectuais. A ideia do mobiliário surgiu quando, folheando uma revista alemã, viu o trabalho do arquiteto Bruno Paul (1874-1968). Desenhou os móveis do escritório e mandou fazer em madeira de lei no
Liceu de Artes e Ofícios.
Nunca foi rico, mas reuniu um acervo
importante, afundando-se muitas vezes em dívidas para conseguir livros e obras
de arte. A parte mais importante das coleções
dele encontra-se no Instituto de Estudos Brasileiros da USP – manuscritos,
biblioteca e coleção de artes visuais, além de peças do mobiliário e sua
máquina de escrever. Depois de passar por restauro, a casa da Lopes Chaves foi
reaberta ao público ano passado, quando se completaram 70 anos da morte do
antigo morador. Para a
ocasião foi organizada a exposição permanente “A morada do coração perdido”,
com objetos pessoais. Particularmente tocante é a saleta onde se encontra o piano
(belo) de candelabros. Na parede lateral externa da casa foi colocada uma silhueta
de Mário de Andrade, baseada no desenho da artista norte-americana Beatrix Sherman (1894-1975), que se acha no IEB. O trabalho artesanal foi
feito em chapa de metal, mede sete metros de altura e pesa 300 quilos.
Entrada gratuita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário