NOVA
CINTRA REVISITADA
Na década de 1970 visitei muitas
vezes o Morro da Nova Cintra para fazer reportagens sobre reivindicações dos
moradores por melhorias urbanas. Frequentei também algumas festas juninas
promovidas pela Igreja de São João. Muito animadas. Se não me falha a memória
foi por essa época que a praça da igreja ganhou o nome de Guadalajara em
homenagem à conquista da Copa do Mundo no México pela seleção brasileira.
O
retorno depois de tanto tempo – quatro décadas – é surpreendente. Lembro-me da
canção de Milton Nascimento (e Lô Borges): “Sei que nada será como antes,
amanhã...” A lagoa da Saudade que era tão bucólica agora faz parte de um
equipamento urbano para lazer dos moradores. Ela compõe a paisagem que se
oferece aos condôminos dos prédios de apartamentos do outro lado da avenida.
Nem sinal dos jacarés que, me
garantiram, viviam por ali. Vejo apenas uma garça solitária tomando sol. Se há
algum crocodiliano no
pedaço, está bem escondido porque o último que ousou aparecer foi em 2004 e nem
pode aproveitar o solzinho porque, após muitas fotografias, as autoridades logo
se mobilizaram para transferi-lo para o Rio de Janeiro. O bicho esperto logo
sumiu.
A lagoa teria se formado na cratera de um vulcão extinto e para
comprovar a teoria dizem que no fundo foi encontrado olegisto especular, minério típico de áreas vulcânicas. Sabe-se lá!
A avenida de acesso ao Morro
prossegue até a Praça Guadalajara onde a igreja amarelinha domina a paisagem. O
comércio é variado; os imóveis, bem conservados e há algumas casas com estilos
modernos e de bom gosto. A população está em torno de sete mil pessoas (IBGE).
A ocupação do morro, que os nativos chamavam de Tachÿ (escarpa escorregadia),
remonta aos tempos da colonização e o nome seria uma homenagem à Sintra
portuguesa. Em meados do século XIX, o português Luis de Matos (1853-1893) estabeleceu-se
no planalto, construiu uma capela que deu origem à Igreja de São João. Luis de
Matos foi o criador, junto com o conterrâneo Luiz Alves Thomaz, do Racionalismo
Cristão filosofia que chegou a ser implantada também no Rio de Janeiro.
A igreja de São João foi erguida com
a ajuda da comunidade, que tinha forte presença portuguesa. Foi assim que
surgiu a tradicional festa junina com comidas e danças típicas portuguesas. A
igreja ficou pronta em 1964; em 1968, passou a fazer parte da
Paróquia de Jesus Crucificado e em 1987 tornou-se Paróquia São João Batista.
Um
bom passeio. Boas lembranças.
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