sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

RUAS DA INFÂNCIA


O aniversário da cidade de Santos me traz muitas recordações boas da infância, que passei no centro histórico. Das primeiras imagens que tive da minha rua sobrou apenas o Centro Português – hoje Centro Cultural Português. Em frente à minha casa havia um belo casarão branco onde funcionava uma entidade feminina que proporcionava educação para moças, inclusive aulas de piano, onde lecionava Dona Oraida do Amaral, mais tarde minha professora de música no Liceu Feminino Santista.
Nossa rua era bem movimentada. Os bondes faziam parte do nosso cotidiano. Havia poucos vizinhos, pois a maioria já mudara para os bairros mais valorizados. O centro decaía entre o final dos anos 1940 e 1950. O comércio se expandia. Havia “A Instaladora” (casa de luminárias), uma casa de quadros, uma cutelaria, o Bazar 1001 e a Padaria Cirilo, que além de pão só vendia leite. Resiste com galhardia a famosa “Farmácia Indiana”.
Quando cheguei à idade escolar, minha tia Odete me levava todas as manhãs para a Escola Portuguesa. Esse trajeto mantém-se quase intacto: a Praça José Bonifácio, o monumento ao Soldado Constitucionalista, a Catedral, o Coliseu, o prédio da Humanitária... Seguíamos pela Rua Braz Cubas e passávamos pelo castelinho do Corpo de Bombeiros e entrávamos na Rua Sete de Setembro, endereço da escola.
Esta era uma rua bem interessante: ali ficavam o Conservatório Musical (um prédio azul que desapareceu), onde minha tia estudara piano e agora dava aulas, uma loja maçônica (Hiram Abif, sei hoje), o Colégio Santista (Marista) e a casa do comerciante e filantropo português Francisco Bento de Carvalho muito bem preservada (esquina com a Rua da Constituição), mas vazia até onde sei. A menos de uma quadra dali, na Rua da Constituição, ficava o Liceu Feminino Santista, onde eu fui estudar mais tarde, e a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, demolida anos depois por causa dos danos causados pela explosão do Gasômetro em 1967.
Mas voltando à Rua Sete de Setembro, vejo que o Prato de Sopa Monsenhor Moreira continua em pleno funcionamento. A Escola Portuguesa ainda existe, mas o prédio foi totalmente descaracterizado. Não é mais a escola da minha infância, que era particular e bem cuidada. Desapareceu o portão prateado que se abria para um jardim muito bonito e que me cativou à primeira vista. O prédio sem graça lembra um caixote em más condições. Hoje é faz parte da rede municipal de ensino.
Mais tarde mudamos para a Vila Nova e fiquei mais próxima do Liceu Feminino que sobrevive em outro bairro apenas como Liceu Santista. Nem sei o que funciona no prédio. Lembro-me de que cantávamos em latim na Igreja Coração de Jesus em algumas datas especiais.

Daqueles dias tenho duas amigas – uma, que me viu crescer, vejo ocasionalmente; e com a outra da Escola Portuguesa troco mensagens. É muito bom saber que temos lembranças em comum. (Fotos: Hilda Prado Araújo.)
Muito bom ver que restam belos prédios daquela época: Rua Amador Bueno.

Confluência da Avenida São Francisco, Rua Senador Feijó e Praça José Bonifácio ao pé do Monte Serrat.
A Biblioteca da Humanitária encontra-se fechada há algum tempo.
Praça José Bonifácio: um caminho da infância.


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