A velhice é um problema. As peças começam a precisar de revisão e
reparos. Às vezes nem se percebe que a visão não é a mesma. O mundo vai
amarelando lentamente sem que o idoso perceba. O oftalmologista se encarrega de
ajudá-lo. Não com bengalas ou cursos de braile, mas com duas cirurgias rápidas
e eficientes. Lá vai o velhinho para uma consulta de avaliação pré-anestésica,
uma conversa boba com um médico que, em vez de ler os exames solicitados,
prefere perguntar tudo de novo ao paciente, que vai ficando impaciente. Na data
combinada, seis horas de jejum sem direito à água, apresenta-se no hospital. No
corredor enorme, os quatro sorteados do dia com seus respectivos acompanhantes
aguardam o grande momento. Nos quartos duplos, enchem-lhe os olhos de colírios,
emprestam-lhe um camisolão sem arte e o levam para o centro cirúrgico – e ele
se sente aliviado por encerrar o papo sem graça e sem fim do seu companheiro de
quarto. Nem meia hora se passa e está de volta para o quarto e para a
recuperação. Todos querem saber o que aconteceu. Vem o chá e as bolachas; a
troca de roupa e bye-bye para todos. No dia seguinte à
operação, realiza-se a convenção dos pós-operados no consultório do médico. Lá
estão oito pessoas – quatro usando um enorme curativo no olho e quatro
acompanhantes ansiosos. Eles querem falar como passaram a noite, as
expectativas e outras amenidades. Prefiro ouvir, mas pergunto a um senhor
acompanhado da esposa se ele tinha miopia (pois a operação reduz drasticamente
o problema) e ele responde que não é viúvo e aponta a senhora ao lado e me diz
o que todos já sabem – é a esposa. Ela o corrige. “Ela perguntou se você é
míope!” Minha amiga cochicha na minha orelha que a próxima operação dele deve
ser de ouvido. Minha vez de entrar. O médico está feliz com o sucesso da
operação, apesar do olho vermelho, do rosto roxo e inchado! Que bom! Agora, não
tenho mais miopia, enxergo longe, em compensação não vejo nada a um palmo do
nariz! Liberada para ir para casa. A rotina será simples: nos primeiros dias
passar as horas olhando a ponta dos pés, mudando da poltrona para o sofá e
vice-versa, pingando colírio a cada três horas. Felizmente, há música para
ajudar a passar o tempo entre uma pingada de colírio e outra...
quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
O COLÍRIO E OS DIAS
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Kakakakakaká....
Postar um comentário