sábado, 1 de julho de 2017

JORNAL CIDADE DE SANTOS


SANTOS, 1º DE JULHO DE 1967.

Há 50 anos Santos (SP) ganhava um presente especial: o jornal CIDADE DE SANTOS. O novo diário trouxe na primeira edição um histórico do município e seus vizinhos queridos. Uma edição com 104 páginas (oito cadernos), que frustrou o leitor do dia seguinte, quando foi para as bancas com um número de páginas bem menor, porém não menos instigantes.
Santos teve dois jornais com o título CIDADE DE SANTOS. O primeiro foi fundado no início do século XX e teve vida curta; o segundo circulou entre 1º de julho de 1967 e 15 de setembro de 1987 e foi editado pela FOLHA DA MANHÃ S.A., propriedade dos empresários Otávio Frias (1912-2007) e Carlos Caldeira Filho (1913- 1993). O jornal CIDADE DE SANTOS surgiu em um momento conturbado do país; contribuiu para o rejuvenescimento do jornalismo santista e se caracterizou pela combatividade e incomodou bastante certos círculos. Teve uma história rica e foi um inovador em tecnologia e ocupou um lugar importante na história da Baixada Santista.
O COMEÇO. Em 1967 éramos quase 96 milhões de brasileiros sob a ditadura militar. O Brasil estava sob o comando do general Artur Costa e Silva (1899-1969). À frente do Estado de São Paulo encontrava-se o governador indicado Roberto Costa de Abreu Sodré (1917-1999). O município de Santos tinha 345.630 habitantes. O prefeito era Sílvio Fernandes Lopes (1924-2005) e Álvaro Fontes (1922-1995) presidia a Câmara (19ª Legislatura). A Diocese estava sob o manto de D. David Picão (1923-2009). O mundo dividia-se entre a Guerra Fria e a Guerra (quentíssima) do Vietnã.
Nesse ano Antonio Ággio Jr. era repórter especial da FOLHA DE S. PAULO, então sob o comando do jornalista Cláudio Abramo (1923-1987). Entre os repórteres daquela folha destacava-se Paulo Sérgio Freddi. “Pastor da Igreja Presbiteriana, Freddi era imbatível na elaboração das ‘matérias humanas’ então em moda”, afirma Ággio Jr. Em janeiro daquele ano, Otávio Frias pediu-lhe para organizar uma equipe destinada a preparar um “presente-surpresa” para o sócio, Carlos Caldeira Filho cujo sonho era fazer um jornal em sua cidade natal: Santos.
Freddi, que sabia do carinho e admiração de Ággio Jr. por Caldeira, convidou-o para o projeto. Ággio Jr. aceitou e chamou para a aventura Lenine Severino, amigo e parceiro de grandes reportagens. Lenine trabalhara em O ESTADO DE S. PAULO com Abramo e mudara para o grupo FOLHA, no final da década de 1950.
“Lenine era um pouco mais velho, porém, muito mais sábio e corajoso do que eu. Excedia as obrigações de sua função de repórter de fotográfico, pois ajudava os parceiros de reportagem em campo e na redação das matérias. Era o meu alter ego.” Ággio Jr. conta que Lenine, como em tudo o que fez na vida, entregou-se ao projeto CIDADE DE SANTOS de corpo e alma. “Não tenho dúvida de que suas ideias superaram as minhas e as do Freddi sob vários aspectos e as reforçaram em outros. Sinceramente, eu não iria para Santos sem ele.”
Com o apoio de Cláudio Abramo o triunvirato (Freddi, Lenine e Ággio Jr.) abriu um voluntariado na redação da FOLHA DE S. PAULO para quem se interessasse em participar da criação do novo jornal em Santos. O processo deveria ser sigiloso para não estragar a surpresa de aniversário de Carlos Caldeira. Ou seja, o jornal tinha data marcada para circular: 1º de julho.  Segredo de Polichinelo.

Os primeiros voluntários e os jornalistas que, em seguida, por eles foram convidados ou indicados, eram de São Paulo. “O nome principal foi HORLEY ANTÔNIO DESTRO, homem de banca, tarimbado em redação, copidesque e diagramação. Um verdadeiro mestre em editoria gráfica, com os pés no chão” – conta Ággio Jr. Do núcleo-base participaram JOÃO CARLOS MARADEI, ARLINDO PIVA, ALCI DE SOUZA, FRATERNO VIEIRA, MARINO MARADEI, ANTÔNIO CARLOS SCHIAVETTO, NORIVALDO PIDONE, ROBERTO SOMOGYL, ANTÔNIO UBALDINO, EDUARDO LEITE, ALCIDES DE MOURA TORRES.
  Fraterno Vieira aceitou imediatamente o convite para participar da equipe do jornal CIDADE DE SANTOS. Liderava um grupo integrado por OLAVO DE CARVALHO (aquele mesmo), ADILSON AUGUSTO (“Brasinha”) e ROCO BONFIGLIO. “Defendia uma linha editorial que priorizava o aspecto gráfico através do uso e abuso de espaços em branco para destacar textos e ilustrações. Esse canto de sereia privilegiava a aparência em detrimento do conteúdo. Mas, o que fazer? Era moda, inventada pelo Murilo Felisberto quando trocou a FOLHA pelo JORNAL DA TARDE. Se desse certo, influenciaria a FOLHA DE S. PAULO. Assim, o destino do jornal CIDADE de SANTOS estava traçado como palco de experimentos que, exceto aquele, deram certo e foram usurpados pela Folhona para enriquecer a sua história oficial”, afirma Ággio Jr.
Os participantes da aventura seguiram para Santos entre fevereiro e maio, instalando o quartel general na sucursal da FOLHA, na Rua do Comércio, 32, onde atuavam JOSÉ ALBERTO DE MORAES ALVES BLANDY, EROM BRUM, CARLOS ALBERTO MANENTE, ANTÔNIO MASCARO e ITAMAR MIRANDA, personagens fundamentais para o projeto. EGYDIO ALIBERTI COSTA, dono de uma loja de automóveis e amigo de Blandy, conseguiu que o Sindicato dos Trabalhadores em Distribuidores de Frutas emprestasse o auditório para reuniões de trabalho dos jornalistas.
Em junho Caldeira parou de fingir que ignorava o que se passava na empresa e assumiu parte do projeto, o que foi importante porque ele era santista e conhecia muito bem a Baixada. Ággio Jr. conta que Otávio Frias não gostou da quebra do “sigilo”.  
À medida que se idealizava o novo jornal, se estabeleciam a área administrativa e comercial. PAULO VERGARA foi um dos nomes indicados por Caldeira e, embora inicialmente sem cargo, tornou-se mais tarde diretor da publicação. Ággio Jr. cita Severin, muito competente na área administrativa; entretanto, ela deixou a empresa antes de o jornal ser lançado.
Os diretores de Publicidade e Circulação escolhidos foram CARLOS EDUARDO DE SOUZA PIRES e ADOLFO DIAS DE BARROS, profissionais que se destacaram na função. Entre os contatos e corretores de publicidade destacava-se CARLOS AUGUSTO CALDEIRA, meio irmão de Carlos Caldeira Filho. Adolfo comandava a distribuição dos jornais da empresa pela Baixada Santista e Litoral Sul. Formaram ótimas equipes e contribuíram para transformar o jornal CIDADE DE SANTOS rapidamente numa grande família (e como em toda família teve desentendimentos também).
Nos meses que antecederam o lançamento do diário reuniram-se ao grupo paulistano (por assim dizer) REINALDO MUNIZ, ALCÍDIO LIMA BARBOSA e FRANCISCO SANCHEZ FILHO (“Chiquinho”) entre outros.
Em maio de 1967, Lenine montou o Departamento Fotográfico, com os laboratoristas de São Paulo e os fotógrafos contratados ou já atuantes na Sucursal – ITAMAR MIRANDA, FRANCISCO RUBIO PACO, YASUO KINJO, TATEO IKURA E JOSÉ ESCANDON. Simultaneamente Eduardo Leite e ERASMO LUNA (também da Sucursal) organizavam o Arquivo nos moldes modernos praticados na FOLHA.
Dois meses antes do lançamento do jornal realizaram-se testes de seleção entre estudantes de jornalismo e de Direito. Ággio Jr. conta que a maioria não tinha ideia de como funcionava um jornal.
Nas duas fotos abaixo, Alci, Sampaio e Vergara com o gov. Laudo Natel na redação. No Natal de 1971, a equipe já tem como editor-chefe José Alberto Blandy.  


Plantão de domingo na Redação do jornal. 


Um comentário:

Thiago Da Costa disse...

Boa tarde Hilda, muito interessante o artigo.

Li também ontem partes do documento produzido por ERRE sobre a história do jornal.

Gostaria de lhe fazer algumas perguntas relacionadas aos primeiro anos de atuação do Cidade de Santos para uma pesquisa que faço presentemente para um livro. Podemos nos falar por e-mail ou WhatsApp?