domingo, 6 de maio de 2018


 LÁ VEM O BONDE! LÁ SE FOI O BONDE...

Foto: Novo Milênio.
“Naquela manhã de sol, veio gente das ruas vizinhas e muita gente de longe. Inaugurava-se a primeira linha, entre o largo de São Bento e o fim da Barão de Limeira (Chácara do Carvalho). Linha da ‘Barra Funda’[...] No topo da coberta, adiante e atrás, duas pequenas bandeiras brasileiras. Na direção do bonde, o conselheiro Antônio Prado, prefeito da cidade. Ao lado, um instrutor, um motorneiro de boa figura, alourado, com bordados de cor de ouro novo nas mangas do uniforme cinzento e do boné. Conclui de mim para mim que era o presidente da companhia [...] Nalgumas esquinas tocavam bandas de música e noutras soltavam-se foguetes.”*
Essa foi a lembrança que o garoto Jorge Americano (1891-1969) guardou daquela manhã de 7 de maio de 1900, quando foi inaugurada a primeira linha de bondes elétricos de São Paulo, que ligaria o Centro à Barra Funda. O presidente da The São Paulo Railway, Light and Power Co. Ltda, Robert Brown, estava junto do prefeito conselheiro Antonio Prado (1840-1929) na festança, mas certamente não usava o uniforme ataviado. Ao presidente da província de São Paulo Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848-1919) coube a tarefa de acionar a usina geradora de energia instalada pela Light na Rua São Caetano.
O trecho inaugurado tinha cerca de dois quilômetros, mas quando a linha estivesse concluída deveria ter, aproximadamente, dez quilômetros de extensão, o que em 1900 seria uma verdadeira viagem para o Oeste. Atualmente, de metrô pode-se ir da estação São Bento ao terminal da Barra Funda em cerca de 20 minutos de carro – caso o trânsito esteja bom.
Foi um dia muito importante para a cidade. A mobilidade da população dependia de carruagens (próprias ou de aluguel), de boas pernas e dos bondes puxados a burro. É verdade que o metrô londrino já era quarentão naquela época, mas no Brasil não se pensa em planejamento (a qualquer prazo). Automóveis, no início do século passado, eram raros e vistos como equipamento esportivo. Sem contar que só milionários (como Álvares Penteado e Santos Dumont) podiam ter carros.
Enfim, por aqui o bonde foi posto de lado em nome do progresso movido a diesel e pneus, empurrado pela indústria automobilística ávida por lucros; interessante é que se modernizou na Europa, incluiu-se entre os transportes que pouco poluem, é confortável e sobe bravamente ladeiras íngremes. Sou fã incondicional de bondes.

*A Capital da Vertigem, Uma história de São Paulo de 1900 a 1954”, obra de Roberto Pompeu de Toledo, Objetiva, 2015.

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