Os dois jovens conquistaram
em diferentes ocasiões e circunstâncias duas pessoas importantes na vida
política e intelectual brasileira do início do século passado e nenhum dos dois
conhecidos pelo bom gênio. Os jovens nasceram em 1893 e 1898. O mais novo, em
Caruaru (SE) e o outro, em Tatuí (SP).
Belarmino Maria Austregésilo Augusto de
Athayde (1898-1993) tinha 17 anos e preparava-se para ser padre, quando foi dispensado
do seminário da Prainha (CE) porque não tinha vocação para o sacerdócio. O
reitor reconhecia que ele era bem comportado e estudioso, disse-lhe que com essas
boas qualidades seria brilhante em qualquer outra carreira e o aconselhou a ser
jornalista.
Em meados de julho de 1918, Belarmino desembarcou no Rio de
Janeiro, onde foi acolhido por um tio, que o convidou em setembro para um
jantar com o advogado e jornalista Assis Chateaubriand (1892-1968), que já sonhava
em comprar um jornal. A Grande Guerra (1914-1918) terminara e o jornalista, ao
contrário do Belarmino, era pró-Alemanha. Em meio ao jantar, Chateaubriand
defendia os alemães quando o jovem convidado o interrompeu, afirmando que lia os
artigos dele, porém, não concordava em absoluto com aquelas ideias e expôs sua
opinião. A petulância de Belarmino surpreendeu Chateaubriand e logo descobriu
que eles discordavam em quase tudo, mas nem por isso a noite se perdeu. Ao se
despedir, o convidou para ir remar no Clube Guanabara. Continuaram remando vida
afora. A amizade cresceu e mais tarde veio o convite: “Caboclo, quando eu
comprar um jornal, você vem trabalhar comigo”.
Austregésilo de Athayde já escrevia em jornal quando, em 1924, Assis
Chateaubriand apareceu na casa dele e bem a seu modo anunciou: “Caboclo, não
podemos perder tempo! Mãos à obra! Vamos tomar posse de O JORNAL. Acabei de
comprar aquele diário e quero você como testemunha na hora de sacramentar o
negócio”.
Austregésilo de Athayde e Assis Chateaubriand mantiveram uma relação
profissional e de amizade que durou 44 anos. Professor, jornalista, cronista e ensaísta,
Austregésilo de Athayde sempre teve total liberdade de expressão nos DIÁRIOS
ASSOCIADOS, um privilégio em se tratando de Chateaubriand.
NUMA TARDE de 1920,
Paulo de Oliveira Leite Setúbal (1893-1937) entrou na redação da REVISTA DO
BRASIL, propriedade do ranzinza Monteiro Lobato (1882-1948), com suas poesias debaixo
do braço. Nem esperou para mostrá-las ao editor. Entrou declamando seus versos
e “aquele faiscamento recém-chegado do interior, cheirando à natureza, numa
euforia sem intermitência” conquistou o pai do Visconde de Sabugosa*. Monteiro
Lobato escreveu depois sobre “a tremenda força de sua simpatia, irradiante,
inundante e avassalante”, que o levou a editar sem pestanejar a coletânea de
poesias que ganhou o título de “Alma Cabocla”, com ilustrações a bico de pena
de Antônio Paim. Paulo Setúbal não era apenas muito simpático. Era um poeta. O
livro foi um sucesso imenso. A edição de três mil exemplares esgotou-se em um
mês, o que levou a mais duas edições com a mesma tiragem nos meses seguintes. Mais
tarde ele se dedicou ao romance histórico (“A Marquesa de Santos”, “As
maluquices do Imperador” entre outros) com igual sucesso.
Austregésilo
de Athayde, membro da Academia Brasileira de Letras, cadeira 8, ocupante 3.
Paulo
Setúbal, membro da Academia Brasileira de Letras, cadeira 31, ocupante 3.
*Lobato começou a escrever para crianças apenas
em 1931.
Nenhum comentário:
Postar um comentário