Parece que foi
ontem. Cinquenta anos de O PASQUIM! O “tabloide especializado em humor corrosivo”
é muito bem lembrado na mostra que acontece no SESC São Paulo, na unidade
Ipiranga. Aliás, unidade escolhida bem a calhar, já que o bairro do Ipiranga
foi palco da Independência do Brasil registrada por Pedro Américo em quadro muito
bem guardado no Museu Paulista da USP e que faz parte da história do Pasquim.
Houve uma época de festivais de música no Rio e em São Paulo. Em 1970,
tempos da ditadura militar, o Festival Internacional da Canção no Rio de
Janeiro chegava ao quinto ano com muito sucesso. Concorrentes e vencedores à
parte, o maestro Erlon
Chaves (1933-1974) e sua Banda
Veneno roubaram a cena quando apresentaram a música de Jorge Ben (Jorge Ben-Jor)
"Eu quero mocotó!", sem
nenhuma chance de classificação. Se a música fez um grande sucesso, a
apresentação do grupo constituiu um show especial, que culminou com o maestro
beijado e acariciado por um grupo de loiras vestidas com malhas cor da pele. É
bom que se explique que mocotó era gíria para joelho feminino, que as
minissaias revelavam, e também eufemismo para outras partes da anatomia feminina.
Erlon Chaves foi parar na delegacia de
polícia, acusado de assédio e pornografia e suspenso de suas atividades por um
mês!
O PASQUIM não perdeu tempo. Atacou como só ele sabia fazer: publicou um desenho do quadro “Independência ou Morte”, de Pedro Américo (1843-1905), em
que D. Pedro gritava “Eu quero mocotó”. O cochilo da censora de plantão na
redação valeu-lhe a perda da função. Foi substituída por um general da reserva (ninguém
menos que o pai da Garota de Ipanema) que também acabou despedido por deixar
passar entrevista com uma antropóloga americana que afirmava que havia racismo
no Brasil. Os militares resolveram transferir a censura para o Centro de
Informações do Exército em Brasília.
Esta é apenas uma das muitas e muitas histórias desse semanário que foi
sem dúvida “o maior fenômeno editorial da imprensa brasileira”, como afirma, na
apresentação da exposição, o jornalista Sérgio Augusto, colaborador do
semanário. “E ainda que nos primeiros tempos fosse mais folgazão, gozador,
festivo e atento a questões de comportamento, aos poucos se deixou contaminar
pelo inevitável: a indignação política. Sem, contudo, abrir mão do velho
preceito de Horácio: o riso é a melhor arma contra todas as imposturas” ‒ ainda
citando Sérgio Augusto.
Só para dar água na boca, algumas frases:
Na terra de cego, quem lê o PASQUIM
é rei.
Um jornal sem família, sem
tradição, sem propriedade.
O Pasquim - sempre em alta graças ao
nosso baixo nível.
O avião está caindo, mas a paisagem
é ótima.
Os idealizadores do PASQUIM: Jaguar ‒ Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe
(1932) e Tarso de Castro (1941-1991). O primeiro número circulou em 29
de junho de 1969.
Enfim, foi o riso contra a impostura. Uma exposição imperdível.
SESC-IPIRANGA
Rua Bom
Pastor, 822.
Entrada
gratuita. Fecha às segundas-feiras.
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