“Todos os
homens, caro Galião, querem viver felizes, mas, para descobrir o que torna a
vida feliz, vai-se tentando, pois não é fácil alcançar a felicidade, uma vez
que quanto mais a procuramos mais dela nos afastamos. Podemos nos enganar no
caminho, tomar a direção errada; quanto maior a pressa, maior a distância.
Devemos determinar, por isso, em
primeiro lugar, o que desejamos e, em seguida, por onde podemos avançar mais
rapidamente nesse sentido. Dessa forma, veremos ao longo do percurso, sendo
este o adequado, o quanto nos adiantamos cada dia e o quanto nos aproximamos de
nosso objetivo. No entanto, se perambularmos daqui para lá sem seguir outro
guia senão os rumores e os chamados discordantes que nos levam a vários
lugares, nossa curta vida se consumirá em erros, ainda que trabalhemos dia
e noite para melhorar o nosso espírito. Devemos decidir, por
conseguinte, para onde vamos nos dirigir e por onde, não sem a ajuda de algum
homem sábio que haja explorado o caminho pelo qual avançamos, porque a situação
aqui não é a mesma que em outras viagens; nestas há atalhos, e os habitantes a
quem se pergunta o caminho não permitem que nos extraviemos. Quanto
mais frequentado e mais conhecido que seja o trajeto, maior é o risco
de ficar à deriva. Nada é mais importante, portanto, que não seguir como
ovelhas o rebanho dos que nos precederam, indo assim não aonde querem que
se vá, senão aonde se deseja ir. E, certamente, nada é pior do
que nos acomodarmos ao clamor da maioria, convencidos de que o melhor é aquilo
a que todos se submetem, considerar bons os exemplos numerosos e não
viver racionalmente, mas sim por imitação.”
“Da Felicidade”, de Sêneca (4 a.C-65 d.C).Editora L&PM
POCKET. Tradução do latim de Lúcia Sá Rebello Ellen Itanajara Neves Vranas.
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