terça-feira, 3 de dezembro de 2019

NOITES DE DEZEMBRO

Sinos cantando... Noites de Dezembro.
Dlin ... Dlon... É a procissão que vai passando...
Recordar é sofrer! Quando me lembro
Antes de me lembrar, já estou chorando.

À luz dos combustores fumarentos,
Numa piedosa e mística atitude,
Levanta-se, nos seus esbatimentos,
A Igreja da Senhora da Saúde.

Lá dentro, no interior, o triste choro
Do órgão velho soltando uns sons antigos.
E na porta da entrada ouve-se o coro
Dos que pedem cantando, dos mendigos.

E o luar bate cá fora nas calçadas,
Um luar de trovadores e poetas...
As estradas estendem-se... as estradas
Na precisão de suas linhas retas.

As árvores do pátio, em simetria,
Velhas, fingindo eterna mocidade,
Dão sombra a quem procura a sombra fria
E a mim que vivo longe, - dão saudade.

Dezembro. Mês das festas... A humildade
Da gente pobre que se agita em bando
Nas noites da minha terra!...Que saudade!...
Dlin... Dlon... é a procissão que vai passando...

O pernambucano Olegário Mariano Carneiro da Cunha (1889-1958) foi um poeta festejado em seu tempo e não só pela crítica, mas especialmente pelo grande público, que se compraz até hoje com suas poesias escritas numa linguagem acessível sem, contudo, perder a elegância. Olegário Mariano é o autor dos versos para várias músicas de Joubert de Carvalho (1900-1977). Em 1931 escreveu  “De Papo pro Á”, que Gastão Formenti (1894-1974) gravou. Aliás, Formenti já havia gravado “Tutu Marambá” da mesma dupla em 1929.
     Mas ele é conhecido, sobretudo, como “o poeta das cigarras”. Seu livro “Últimas Cigarras” (uma coletânea) teve seis edições (1915,1916, 1920, 1924, 1931 e 1950). Houve uma época em que na escola as crianças sabiam de cor a poesia “A Cigarra e a Formiga”. Bons tempos.



Olegário Mariano foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1921 e ocupou a Cadeira 21. 

Nenhum comentário: