segunda-feira, 20 de julho de 2020

FARINHA, OVO, MEL, LEITE E FERMENTO.

Comemorar aniversário é coisa que provavelmente o homem faz desde que aprendeu a organizar um calendário. Os persas muitos séculos antes da era cristã consideravam que a data mais importante na vida de uma pessoa era o dia do seu nascimento e por isso aproveitavam a ocasião para comer e beber com os amigos. Isso em um tempo em que a comida era escassa e, portanto, cara. Na Bíblia, os aniversários citados são dignos de páginas policiais. No Gênesis, o Faraó no dia do seu aniversário manda matar o padeiro. (O escriba esqueceu-se de colocar o nome do Faraó.) Nos Evangelhos, Mateus conta que Herodes na festa de seu aniversário, entusiasmado com a dança de Salomé, promete dar-lhe o que ela quisesse como recompensa. A perversa pede-lhe nada menos que a cabeça de João Batista. Por essas e outras durante muito tempo o costume de comemorar o dia do nascimento foi abominado pela Igreja que considerava coisa de pagão, mas a tradição parece ter vencido as resistências religiosas.
Onde tem bebida há, claro, muita cantoria. E se perde nos tempos o uso das libações seguidas das chamadas canções de beber ou coretos de mesa (como dizem os mineiros). Muito antes de o europeu aportar neste novo mundo, os ameríndios já se dedicavam à arte de beber e cantar. Infelizmente perdemos os registros dessas raízes e temos que nos contentar com o “Happy Birthday To You” ou “For hes a jolly good fellow” que, segundo o Guinness Book, são as duas canções mais populares do mundo. Então naquele tempo distante alguém (uma mulher?) misturou farinha, ovos, mel, leite e fermento, assou a massa e surgiu o bolo, feito especialmente para ocasiões festivas, pois é absolutamente inútil em se tratando de alimento. Bolo vem de bola e, portanto, tem que ser redondo. O motivo é simples: facilita na hora de dividir a iguaria entre os convidados.
Que importa se surgiu em aniversários e foi levado para os casamentos ou vice-versa? Importante é que foram sendo acrescentados novos ingredientes e o bolo foi se aprimorando. Quando o convidado está indo embora, não se deve esquecer de lhe entregar o tradicional pratinho com algumas guloseimas servidas na festança. A lembrança ou a prova para aqueles que não compareceram por algum motivo. Ou simplesmente gentileza do anfitrião. O costume é japonês, portanto, deve ser milenar, mas chegou ao Brasil através dos colonizadores portugueses que o trouxeram de suas andanças por Catai séculos atrás. Tão gostoso quanto o bolo de aniversário dividido com os amigos é descobrir que por trás de nossos mais simples gestos há uma história que se perde no tempo. 
O velho e bom “Parabéns a Você” chegou ao Brasil em 1942 – época da política de boa vizinhança de Roosevelt. Na época, a Rádio Tupi do Rio de Janeiro lançou um concurso para escolher a letra para a canção americana de 1893. Quem venceu foi a farmacêutica paulista de Pindamonhangaba Bertha Celeste Homem de Mello (1902 ‒1999). (A letra correta é Parabéns a você/ nesta data querida./ Muita felicidade, /muitos anos de vida.)
(Publicada em 2013.)

2 comentários:

Nilton Tuna disse...

Por falar nisso, Feliz Aniversário! Aproveite para fazer um bolo e nos mande uma foto depois. Beijos.

Hilda Araújo disse...

Muito obrigada, Nilton!Saudade de nossos papos e cervejas natalícios. Vou tentar achar uma varinha mágica e invocar os ingredientes para ver se eles se consubstanciam em forma de bolo. Beijos.