Assim, à toa,
lembrei-me de Dona Zulmira, professora de Português do Liceu Feminino Santista,
que costumava dar um visto no caderno para conferir se fazíamos o dever de
casa. Era uma senhora baixinha, gordinha e de cabelos brancos, que à medida que
passava de uma carteira para outra dizia, ameaçadoramente, que os erros
saltavam a seus olhos instantaneamente. Eu, com 12/13 anos, acreditava,
piamente. Suas aulas eram ótimas. Guardo até hoje o caderno do segundo ano e
ainda o consulto e por isso sei que ela nos enganava. Encontrei erros aqui e
ali. Seus ensinamentos só nos enriqueceram e mesmo aqueles que se mostraram
dispensáveis têm um lugar especial na minha memória.
Como o verbo apropinquar/apropinquar-se cuja conjugação aproximava-se de
um trava-língua. Nunca o usei, mas às vezes me vem à memória. Uma memória que,
com o tempo, vai se tornando estranha. Capta nos seus escaninhos palavras que
saíram de moda ou são de pouco uso. Como no dia em que passando por uma vitrine
vi o objeto que pareceu o presente ideal para um velho amigo em busca de
novas atividades. Entrei e perguntei o valor do almofariz à balconista que me garantiu não ter
produto. “Não? Há um na vitrine.” Ela se surpreendeu e pediu que lhe
mostrasse. Saímos e mostrei-lhe o almofariz de pedra. “Ah! Pilão!” Pensei com
meus botões por que escolhera logo almofariz? Sei lá... Ou como no dia em que
só me ocorria a palavra em inglês que, no momento não me ajudava em nada... Pensei em moscar-me ‒ ah! Outro verbo dos
tempos de Dona Zulmira, que não se apiedava de nossa ignorância e, nós, meninas
do Liceu, resfolegávamos depois de conjugar esses verbos tão irregulares...
A lição é de 4 de março de 1957.
O Liceu Feminino Santista abriu as portas para
os meninos e assim teve o nome mudado para Liceu Santista; mas mudou de
endereço também deixando a Vila Nova (Rua da Constituição) para o Jose Menino
(Avenida Francisco Glicério). As lembranças permanecem com as meninas, já não
tão meninas. (Foto: Hilda Araújo.)
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