segunda-feira, 17 de agosto de 2020

ARTE E POLÍTICA

No dia 30 de junho de 1939 realizou-se, no Grand Hotel National em Lucerna (Suíça), um leilão de 126 pinturas e esculturas. As obras reunidas neste evento eram de 39 artistas modernos entre os quais Matisse, Picasso, Van Gogh, Klee, Kokoschka e Braque. Era um leilão incomum tanto por causa da origem das obras como pelo contexto político em que se realizava. As obras pertenciam aos principais museus públicos da Alemanha e o dinheiro arrecadado, todos sabiam, financiaria o Partido Nazista, embora o leiloeiro garantisse que os lucros seriam destinados aos museus alemães. O salão do hotel reuniu mais suíços curiosos do que grandes compradores e a arrecadação foi muito abaixo da esperada. Os museus dilapidados de obras-primas modernas que os nazistas consideravam “degeneradas”, naturalmente, não viram a cor do dinheiro. 

        O lote de pinturas incluía entre outras preciosidades “O bebedor de absinto” e o “Acrobata e o jovem arlequim”, de Picasso; o “Autorretrato de Van Gogh”; “Banhistas com uma tartaruga”, de Matisse. O jornalista e editor americano Joseph Pulitzer III (1913-1993) adquiriu “Banhistas com uma tartaruga” por 9.100 francos suíços. “Desejando salvar essa arte para a posteridade, eu comprei - que ousadia!” - comentou depois.

        Os nazistas lucraram com a “arte degenerada” para financiar seus desígnios e durante a ocupação da Europa lançaram-se avidamente ao saque de obras de arte de pessoas, instituições e empresas. À frente da quadrilha que se formou estavam Adolf Hitler (1889-1945) e H. Goering (1893-1946), os verdadeiros degenerados. Essa história é meticulosamente contada por Lynn H. Nicholas em seu livro “Europa saqueada. O destino dos tesouros artísticos europeus no Terceiro Reich e na Segunda Guerra Mundial” (São Paulo: Companhia das Letras, 1996), que estou relendo desta vez me debruçando nas obras de arte perdidas e recuperadas, graças à ação de aliados e de alemães, mas isso é outra história.

ABAIXO: “Acrobata e o jovem arlequim” e “O bebedor de absinto”, de Picasso (1881-1973). Esta última obra foi vendida por 42,1 milhões de euros em leilão realizado em 2010 em Londres.





Henri Matisse (1869-1954): “Banhistas com uma tartaruga”.

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