quarta-feira, 5 de agosto de 2020

FÉRIAS NA ITÁLIA

Vez por outra assisto à série sobre aeroportos internacionais da National Geographic que mostra os bastidores desses locais, revelando o trabalho cotidiano dos funcionários, esclarecendo questões legais, os equipamentos disponíveis para promover a segurança de todos, traçando o perfil de passageiros e, em alguns lugares, como no Brasil, Peru e Colômbia, com ênfase na luta contra o crime organizado.

A produção caprichada inclui alguns momentos de bom humor, como o impedimento da primeira viagem internacional de Trevor, um sapo, porque não havia garantia de que pudesse desembarcar no México. Ou os frangos assados na bagagem de uma senhora, sem falar de outra que trouxera quase toda feira do país que visitara para deixar no lixo do aeroporto de Nova Iorque.

Ou ainda o caso das quatro senhoras procedentes da República da Moldávia que atraíram a atenção da imigração italiana no Aeroporto Leonardo Da Vinci (Roma). Eram simples ‒ no trajar e na atitude; idade indefinida, mas com certeza acima dos cinquenta anos. Não se conheciam, haviam se encontrado por acaso no aeroporto, mas suas histórias eram exatamente iguais: ajudar uma irmã doente durante três meses na Itália.

Levadas para a entrevista individual tentaram convencer um experiente agente sobre o motivo de suas viagens. Quando ele pediu à primeira que escrevesse o nome da irmã, ela se atrapalhou, parecia não lembrar, mas acabou escrevendo algo no papel. Quanto dinheiro tinha para a estadia: € 100. Enfim, ela ganhou o bilhete de volta à Chisinau capital da Moldávia. A segunda contou a mesma história de uma irmã doente e tinha a mesma quantia da primeira. Novo bilhete de volta. A terceira não foi diferente; entretanto, a última se mostrou mais despachada, convenceu o agente a levá-la à ATM para mostrar o saldo do seu cartão e no caminho bem à vontade já foi colocando a mão na cintura do rapaz, que riu divertido, mas tratou de se livrar polidamente. E ela que garantira ter € 1.000, tinha precisamente € 994. Na entrevista, estava confiante, afinal tinha € 1.000 e até desenhou na mesa com o dedo o valor que lhe parecia aceitável para os três meses. Em vão. Entrada recusada.

Na sala onde esperariam a ordem de deportação, nem um pouco abaladas por terem os planos frustrados e as irmãs não poderem contar com a ajuda delas, as quatro se confraternizaram e até fizeram uma foto “das férias na Itália”. O agente comentou que se elas não se conheciam como afirmaram, depois da aventura italiana certamente seriam amigas para sempre.

A Moldávia estava perdida em algum escaninho da minha memória, talvez relacionada a alguma guerra no Leste Europeu, aprendida durante a época escolar. Nem sabia que  havia se tornado um país (3,5 milhões de habitantes) cuja capital é Chisinau...

Foto: Hilda Araújo. Aeroporto Internacional Leonardo da Vinci, Roma, 29 de junho de 2019.

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