sexta-feira, 14 de agosto de 2020

REFLEXÕES SOBRE O ISOLAMENTO

Quase 150 dias em isolamento social, saindo apenas para as compras necessárias, quando aproveito para ver o que acontece pela vizinhança e desfrutar o sol. Se no início pensei em diário, logo abandonei a ideia pela rotina desinteressante da vida entre quatro paredes embora tenha empregado meu tempo para ler bastante, fazer visitas virtuais a museus e galerias, ouvir música, assistir a filmes clássicos e tentar achar algo bom na TV e... Lavar as mãos. Entretanto, importante mesmo foi me distanciar aos poucos das redes sociais, que se tornaram pouco interessantes, embora nas primeiras semanas muita gente ao redor do mundo tenha produzido vídeos bastante criativos. 

Ao vivo e em cores nas minhas saídas necessárias vejo os conhecidos do bairro e sempre trocamos ideias à distância, protegidos por máscaras. Causa tristeza ver o número de avisos informando a mudança ou fechamento de pequenos negócios do bairro, cartazes caseiros oferecendo serviços. Se mercados e mercadinhos florescem graças ao sistema de entrega domiciliar, cabeleireiros e bancas de jornal têm encontrado dificuldades para continuar ‒ pelo menos por aqui nos arredores.

As leituras têm sido muito agradáveis e bem variadas. Como os excelentes “Conquistadores”, de Roger Crowley e “Patriotismo”, de Yukio Mishima. Ou reler “Modesta Proposta” de Jonathan Swift e “Os três mosqueteiros”, Alexandre Dumas. Folheei sem grande entusiasmo o livro de João Rossi e Paulo de Assunção sobre SÃO PAULO IMPERIAL.

Numa tarde chuvosa, por insistência do jornaleiro comprei Agatha Christie e, como era de esperar, li e não gostei. Em compensação comprei e me diverti com “The Rubber Band”, de Rex Stout. Aliás, por causa de uma revista (“Signos de um novo tempo. A São Paulo de Ramos de Azevedo.”) me dispus a caminhar sete quilômetros (ida e volta) da minha casa à Praça João Mendes. Um dia de sol quente, ruas quase vazias. Valeu o sacrifício. Sacrifício, sim, porque a volta não foi das mais entusiasmantes já que não peregrinava pela cidade há meses... E me recuso a entrar em ônibus ou táxis.

Logo no início do que achavam que seria uma quarentena (quarenta dias) estava em meio do livro "História da Loucura", de Michel Foucault. Acho que preciso reler alguns capítulos por causa da experiência enlouquecedora de não poder ir ao cabeleireiro cortar o cabelo, uma exigência diária que o espelho me fazia... Quando foi autorizada a reabertura dos salões, subi a pé até a Estação Ana Rosa do metrô, tomei uma chuveirada de desinfetante que juram durar três horas e desci duas estações depois para caminhar ao encontro de minha cabeleireira de confiança... Ah! Quando saí, era outra pessoa e o mundo parecia ótimo, apesar da ameaça do Coronavirus pairar pelo Planeta.

Não custa tentar: antes de passar pela catraca, uma chuveirada de desinfetante.


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