O filosofo Sêneca (4 a.C.?-65 d.C.) em uma das cartas ao amigo Lucílio conta como se descobriu velho ao visitar a casa de campo. Lá observou o edifício em ruínas e o zelador disse-lhe que não negligenciara seus deveres. A propriedade era velha. “Esta vila foi construída por mim: qual será o meu futuro se tão podres estão as pedras do meu tempo?” Mais adiante o filosofo descarregou a raiva no jardim, quando viu os plátanos sem folhas, com os ramos secos e os troncos áridos. Mais uma vez o zelador explicou que não deixou de cuidá-los, mas aquelas eram árvores muito velhas. “Que fique entre nós: eu as plantara, eu vira suas primeiras folhas.” À porta encontrou um ancião decrépito e ficou chocado ao saber que ele era o filho do zelador e que fora o seu preferido. “Este homem está delirando! O meu preferido tornou-se criança novamente? Mas, sim, pode ser, pois vejo que os dentes estão caindo.”
Ele não esconde o espanto: ”... onde quer que eu fosse, parecia-me evidente a minha velhice (...). Passada a surpresa reflete sobre a nova condição: “(...) abarquemos e amemos a velhice: é cheia de prazeres, se sabemos fazer uso dela. Agradabilíssimos são os frutos de fim de estação; a infância é mais bela quando está por terminar; o último gole de vinho é o mais agradável aos que gostam de beber, aquele que entorpece, que dá à embriaguez o impulso final.
De cada prazer, o melhor é o fim. É doce a idade avançada, nas não ainda sob a decrepitude, e também eu penso que o período extremo da vida tem os seus prazeres ou, ao menos, no lugar dos prazeres, não sentir mais necessidade deles. Como é doce ter se cansado e abandonado os desejos!”
Lúcio Anneo Sêneca nasceu em Córdoba (Espanha), foi educado em Roma, tornou-se advogado e mais tarde membro do Senado e magistrado encarregado das finanças.
“Da Velhice” em APRENDENDO A VIVER, Sêneca.
Editora L&PM.
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