Outro dia escrevi sobre os pobres e vagabundos da Idade Média e lembrei de “Vernônia”, do escritor norte-americano William Kennedy (1928). A história se passa em 1938, quando os Estados Unidos enfrentavam ainda as consequências da Grande Depressão (1929). O personagem Francis Phelan tinha sido um jogador de beisebol promissor, mas sua vida mudou completamente quando causou duas mortes – uma delas do filho recém-nascido por acidente. A narrativa começa muitos anos depois, num inverno em Albany, quando Francis luta contra a miséria, o alcoolismo e a consciência, que o faz confrontar seus demônios. Com ele e um grupo de miseráveis para os quais a vida reservou só dissabores, percorremos abrigos de caridade, motéis desprezíveis, ruas imundas e bares desoladores.
Francis vive um realismo
fantástico em que encontra e conversa com seus mortos; os vivos às vezes
demonstram solidariedade. Ou o exploram, como o advogado que defende Francis, exige
o pagamento dos serviços e para receber o dinheiro arranja-lhe um emprego no
cemitério. É nesse ponto que começa a história, uma história de resistência e
daí Ironweed, o título original do livro, nome de uma planta da família
dos girassóis, cuja haste ereta é bastante firme. Em português ironweed é
vernônia...
Se você pensa que é um
livro horrível, engana-se. Há um toque de humor e sarcasmo nos diálogos dessas
pessoas. É um livro para reflexão sobre a vida, a sociedade em que vivemos e a
incapacidade para escapar das eventuais armadilhas com que nos deparamos ao
longo da existência. É impossível não ter um envolvimento emocional com os
personagens.
“Vernônia” é um ótimo
livro. Um livro que foi recusado por treze editores com a justificativa de que
ninguém queria ler sobre vagabundos. Graças aos protestos do ex-professor de William
Kennedy, o Prêmio Nobel Saul Bellow que a Viking Press publicou a obra. Os
outros editores devem ter ficado bem aborrecidos com o resultado: o Pulitzer,
Prêmio da Fundação MacArthur entre outras honrarias, como a adaptação para o
cinema em 1987 – roteiro do próprio Kennedy e direção de Hector Babenco.
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