segunda-feira, 30 de dezembro de 2024
ERIC HOBSBAWM
[...] “Para deixar bem claro: o
objetivo de se traçar a evolução histórica da humanidade não é antever o que
acontecerá no futuro, ainda que o conhecimento e o entendimento histórico sejam
essenciais a todo aquele que deseja basear suas ações e projetos em algo melhor
que a clarividência, a astrologia ou ao franco voluntarismo. O único resultado
de uma corrida de cavalos que os historiadores podem nos contar com absoluta
confiança é o de um páreo já corrido. Menor ainda é a possibilidade de
descobrirem ou inventarem legitimações para nossas esperanças – ou receios –
quanto ao destino do humano. A história não é uma escatologia secular, quer
concebamos seu objetivo como um progresso universal interminável, como uma
sociedade comunista ou o que seja. Isso são coisas que lemos nela, mas podemos
deduzir dela. O que ela pode fazer é descobrir padrões e mecanismos da mudança
histórica em geral, e mais particularmente das transformações das sociedades
humanas durante os últimos séculos de mudanças radicalmente aceleradas e
abrangentes. Em lugar previsões ou esperanças, é isso que é diretamente
relevante para a sociedade contemporânea e suas perspectivas.”
"Sobre História", Eric Hobsbawm
(1917-2012). S. Paulo: Companhia das letras, 1998.
ERIC HOBSBAWM (1917-2012) foi um dos maiores historiadores contemporâneos. Nasceu no Egito, mas como o pai era inglês tinha cidadania britânica.
domingo, 29 de dezembro de 2024
CHARLES ASTOR
Costumava atravessar a rua Charles
Astor (Vila Mariana), que parece mais uma praça, e fiquei curiosa sobre o personagem
homenageado pela cidade. Aliás, assim costumam ser as homenagens das câmaras de
vereadores: sapecam o nome nos logradouros públicos cujas placas não dão a
mínima informação sobre pessoa que mereceu a deferência. E o homenageado
permanece ignorado pela maioria da população
Charles Astor foi o introdutor do
paraquedismo no Brasil e idealizador da criação do Serviço de Busca e Salvamento
da Força Aérea Brasileira – PARA-SAR – FAB*. Charles Astor (ou Achiles Hypólito
Garcia, seu nome verdadeiro) nasceu em 1900 em Castiglione, atual Bou Ismaïl, na
Argélia, então colônia francesa. Ele praticou vários esportes, foi artista de
circo e infante da Legião Estrangeira da França, onde se tornou piloto,
instrutor de paraquedismo e acrobata aéreo, tudo isso quando a aviação começara
há pouco mais de uma década.
Depois que deixou a Legião
Estrangeira, Astor preferiu se dedicar às acrobacias aéreas e viajou pelo mundo
fazendo shows. Ele desembarcou no Brasil em 1928, onde o paraquedismo, além de
ser visto como esporte, era pouco difundido, pois o material era escasso,
custoso, de difícil acesso e de baixa qualidade. Ele foi a primeira pessoa a
saltar de paraquedas no Brasil e em 1929 ficou famoso por atravessar a baía de
Guanabara fazendo acrobacias aéreas.
Astor difundia o uso de
paraquedistas nas operações de salvamento desde o início da década de 1940, com
a II Guerra em curso; uma ideia que não foi concretizada por causa dos riscos e
porque poucos tinham a coragem necessária para praticá-lo, ainda mais em
situações extremas e sem o devido treinamento. Astor foi convidado em 1941 pelo
ministro Salgado Filho para ser Instrutor de Ginástica Acrobática e de
Paraquedismo para os cadetes da Aeronáutica na antiga Escola de Aeronáutica
(Campo dos Afonsos). Ele, entretanto, não desistiu e em 1947 apresentou um
plano de preparação de paraquedistas para salvamento e resgate em um congresso
da Federação Aeronáutica Internacional, realizado em Petrópolis (RJ). Além de
receber menção honrosa, a ideia inspirou a criação dos serviços de salvamento
em outros países. Astor ficou conhecido na antiga Escola de Aeronáutica como o
Velho Águia e muitos dos seus ex-alunos tornaram-se oficiais.
Como escritor, sua obra mais conhecida é “Estórias Rudes”, livro em que conta sua experiência na Legião Estrangeira de forma romanceada. Durante 30 anos foi chefe da seção de Livros Raros da Editora Civilização Brasileira. Ele faleceu em 1972.
Astor foi casado com Elgita Leite Ribeiro. Normalista mineira, Elgita em 1940 mudou para o Rio de Janeiro, onde trabalhou no Diário da Noite; tirou brevê pelo Aeroclube e foi aluna de paraquedismo de Astor piloto. Em 1954 foi a primeira mulher a pilotar um avião de caça no Brasil e em 1959 em Paris tornou-se a primeira sul-americana e a quarta mulher do mundo a ultrapassar a barreira do som voando em um caça pilotado por Henry Suisse, famoso piloto de teste.
Fontes: CORREIO DA MANHÃ e “Homens de Honra – A História do PARA-SAR” – Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica. Rio de Janeiro, 2019..
*A
sigla Para-SAR significa Paraquedismo e Busca e Salvamento – SAR é a abreviação
do inglês Search and Rescue.
sábado, 28 de dezembro de 2024
UM PASSEIO À NOITE
Sampa
ontem à noite. O Teatro Municipal (1911), o Shopping Light, (1929) e o Anhangabaú.
Triste mesmo é o estado em que se encontra a Praça do Patriarca que, apesar dos
enfeites, não tem graça nenhuma. A rua Direita, vazia. Papai Noel se despedia no
Largo do Café... Não tive ânimo de ir até o Largo de São Bento – lojas fechando
e ruas com pouco movimento.
Edifício Matarazzo, sede da Prefeitura.
quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
FIM DA INVESTIGAÇÃO
Perguntei
à bibliotecária se ela poderia recomendar algum livro gênero policial moderno e
recebi três indicações. Nas estantes, distraidamente, dei uma folheada em dois
ou três livros e escolhi um escocês de quem nunca ouvira falar – Ian Rankin
(1960). Depois do almoço comecei a leitura. A trama parecia interessante e fui
me embrenhando por delegacias, pubs, problemas familiares do investigador até
que cansei, pois o autor se estende em fatos irrelevantes e já estava na página
100 sem que nada acontecesse, embora o detetive já tivesse ouvido dezenas de
pessoas. (Que falta fazem Raymond Chandler, Dashiell Hammett, Rex Stout, Andrea
Camilleri!) Fui espiar quantas páginas tinha o livro e, se não estivesse
sentada, cairia de costas: 538! Tratei de ler o final e dispensei Rankin. Na
quarta capa, a apresentação diz que ele entra na “história profunda de Edimburgo”,
mas a cereja do bolo, entretanto, foi descobrir que ele é “mestre do moderno romance
policial climático”. Nem sabia que havia o antigo...
domingo, 22 de dezembro de 2024
NATAL BRANCO
sábado, 21 de dezembro de 2024
VERÃO
O verão chegou hoje bem cedo a bordo de um céu nublado. Que o
Sol desembarque logo (vitamina D natural) por aqui, afinal é tempo de praia de
vida ao ar livre.
A VIDA DO VIAJANTE
“Minha vida é andar
por esse país
Pra ver se um dia descanso feliz
Guardando as recordações das terras onde passei
Andando pelos sertões e dos amigos que lá deixei
Chuva e sol, poeira
e carvão
Longe de casa, sigo o roteiro
Mais uma estação
E alegria no coração...”
CARMEN MIRANDA E PAPAI NOEL
É um recadinho à toa, recadinho à toa de Papai Noel
Recadinho que você vai ver
Que parece de criança que não tem o que fazer ..."
sábado, 14 de dezembro de 2024
THE ROCKETTES – "TOY SOLDIER DANCE"
O Radio City Music Hall faz parte do Registro Nacional de Lugares Históricos e fica no Rockefeller Center em Nova Iorque, e vai comemorar no próximo dia 27 de dezembro 92 anos. The Rockettes é uma companhia feminina de dança de precisão, criada em 1933, e esta coreografia foi apresentada em 2016. O vídeo não é profissional e, embora tenha dois pequenos problemas – um de iluminação e a senhora que resolveu tirar o casaco no meio do espetáculo –, vale a pena assistir até o final.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2024
DANÇA DOS BRINQUEDOS
O
escritor alemão Ernst Theodore Amadeus Hoffmann (1776-1822) é o autor de “Quebra-nozes
e o rei dos Camundongos”, um conto infantil de Natal que inspirou Piotr Ilich
Tchaikovski (1840-1893) a compor a música de um balé quase sempre encenado no
Natal. Motivo simples: a história começa na véspera do Natal quando uma menina
ganha do padrinho um quebra-nozes na forma de soldadinho, mas os irmãos dela o
danificam, Triste, ela vai dormir e ao acordar percebe que o quebra-nozes
ganhara vida, mas a alegria é interrompida por um barulhão causado pelos ratos no
porão. O soldadinho convoca os brinquedos para a luta contra as ratazanas e
ganha a batalha. Para surpresa da menina ele se transforma em um príncipe que a
leva para conhecer o Reino das Neves e dos Doces. O bailarino Lev Ivanov
(1834-1901) foi o autor da coreografia original do balé que estreou em 1892 em S.
Petersburgo, Rússia.
“Dança dos brinquedos”
domingo, 8 de dezembro de 2024
SÃO SILVESTRE
Hoje comecei a estudar o percurso da Corrida São Silvestre, que ocorre (hum!) no último dia do ano. Os atletas percorrem 15 km atravessando bairros tradicionais da cidade como Bela Vista, Vila Buarque, Santa Cecília, Campos Elíseos, Pacaembu ... Já caminhei por quase todas as ruas do trajeto. Só não me lembro da rua Norma Pieruccini. Uma pena que os corredores não possam desfrutar de alguns lugares muito especiais ou com grandes histórias!
Os corredores – esperam-se pouco mais de 37 mil participantes – partem da avenida Paulista com rua Augusta, em direção à avenida Dr. Arnaldo. Uma avenida peculiar, com dois lados bem distintos – um concentra as principais unidades da USP dedicadas ao ensino e pesquisa na área da saúde e atendimento médico à população, e do outro, o Cemitério do Araçá que se estende em direção à avenida Pacaembu, enfeitada com o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho. Dr. Paulo foi o comandante da vitória da seleção brasileira de 1958 na Suécia, quando o mundo conheceu Pelé. Seguimos pelas ruas Major Natanael e Desembargador Paulo Passaláqua; passamos pela avenida Mário de Andrade – o poeta da Pauliceia Desvairada–, continua pela Av. Abraão Ribeiro, Viaduto Pacaembu até a desconhecida (para mim) rua Norma Pieruccini. A avenida Rudge conheci logo que mudei para São Paulo; depois temos o Viaduto Orlando Murgel e já estamos na Av. Rio Branco, antes da rua Helvetia (onde ficava a agência do Banco Antônio de Queirós onde recebíamos o pagamento da Folha da Manhã). Quem não conhece a Av. Ipiranga “não é bom da cabeça ou doente do pé”. Chegamos à rua Barão de Limeira, endereço da Folha de S. Paulo. A Av. Duque de Caxias me remete aos tempos do Terminal Rodoviário da Luz, um monstrengo por onde passavam mais de três mil ônibus por dia conforme o anúncio do empreendimento nos anos 1960. Agora, rua Rego Freitas do famoso “Som de Cristal”, onde o pessoal da boemia se divertia dançando, mas que o tempo levou; das ruas Marquês de Itu e Bento Freitas chegamos ao Largo do Arouche do “Gato que Ri” e da feira de flores. Eis a rua Vieira de Carvalho, que tem como guardião o “Índio Caçador”, obra do escultor João Batista Ferri; agora é a vez da Praça da República, uma das mais bonitas de São Paulo, com lagos cercados por prédios históricos e modernos de arquitetura marcante. Avenidas Ipiranga e São João – a mais famosa esquina paulistana; o Largo do Paissandu com a igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, o tradicional Ponto Chic – não dá tempo para saborear um delicioso “bauru” –, e o prédio do antigo cine Paissandu; hora e vez da rua Conselheiro Crispiniano, endereço que todos os fotógrafos conheciam, pois ali se concentrava o comércio de equipamentos fotográficos. A Praça Ramos de Azevedo é o ponto de encontro dos amantes de ópera e ballet; passamos rapidamente pela rua Cel. Xavier de Toledo, Viaduto Nove de Julho, Rua Maria Paula – onde fica a Câmara Municipal de São Paulo. Enfim, a Av. Brigadeiro Luís Antônio com seus teatros tradicionais: Brigadeiro-Jardel Filho, Renault, Bibi Ferreira e Bandeirantes; após o Viaduto 13 de Maio chegada à Av. Paulista.
Ah! Não participarei da corrida. Detesto correr.😊
Vista da avenida Paulista a partir do Túnel José Roberto Fanganiello Melhem, que a liga à rua Consolação e av. Dr. Arnaldo.
quinta-feira, 5 de dezembro de 2024
DIA DE CÃES
Hoje o
ônibus estava cheio e monótono. Acho que se poderia dizer que estava cheio de
monotonia, ideal para se ficar de olho na rua, onde sempre tem algo interessante
acontecendo. Dito e feito! Na Praça General Polidoro, agora reduto canino,
devidamente cercada de grades para que os atrevidos não fujam. O discóbolo (ele
parece consultar o celular) estava cercado pelos funcionários da prefeitura que
limpavam o espelho d´água, enquanto um senhor com problema em um dos pés
manquitolava apoiado em uma bengala, acompanhado do cão. O cão estava muito
feliz com o espaço, pois corria de um lado para outro, voltava para perto do
dono que lhe fazia um agrado e o amigo saía em nova carreira até retornar para novo
carinho. O ônibus demorara no ponto porque um passageiro pedia detalhes do
percurso e, enfim, prosseguiu. Vamos pela rua Pires da Mota, passamos pela rua
dos Perdões (gosto do nome dessa via) e entramos na Bueno de Andrade. Quase na
esquina fica uma loja que tem um nome bem-humorado (ingrediente de que
precisamos muito nos últimos tempos): “Coisas e Coisinhas da Carla”. Tipo bazar
pelo que leio na placa. Acho que chegamos à Liberdade, afinal há vários
estabelecimentos com esse nome. Há lanchonetes e alguns restaurantes – como o
Jericó, de comida nordestina.
Por
ali nada de prédios muito altos – a maioria tem dois andares, com o térreo com
uso comercial. Um casarão é sede de uma escola infantil e mais adiante outro
casarão, que deve ter tido tempos melhores, parece uma casa de cômodos, mas ainda
é simpático.
No
início da rua funcionou durante muitos anos uma loja Laffer, famosa casa de
móveis, fundada em 1927 e que funcionou até 2022. O prédio está completamente
abandonado, sobrou apenas a placa do estacionamento para clientes. Ali, se virar à direita, vai-se para o Lavapés;
para a esquerda, encontra-se o final da rua da Gloria, já no bairro da
Liberdade – completamente decadente. O coletivo (como diria um amigo meu) logo
entra na rua Conselheiro Furtado em direção à praça João Mendes.
Os passageiros sobem e descem. Continuo observando o cenário urbano e então eu o vi à janela da sala de apartamento – a mais ampla, envidraçada e com cortinas semicerradas. Tranquilo – eram ainda dez e meia da manhã e o almoço ainda não devia estar pronto. Ele olhava o movimento da rua com muita atenção e fiquei imaginando o que o interessava tanto lá embaixo – o apartamento devia ser no quarto ou quinto andar. Tive vontade de descer do ônibus para fotografá-lo, mas corria o risco de me atrasar muito e ele também poderia se recolher. Ele era um cachorro vira-lata de porte médio, pelagem bege, estava com as patas dianteiras descansando no parapeito da janela como uma pessoa faria e como pessoa ele estava muito atento aos acontecimentos lá embaixo. Cães são meus animais domésticos preferidos e esse me conquistou!
domingo, 24 de novembro de 2024
TOULOUSE-LAUTREC
Paris tem sido uma referência cultural para o Ocidente. Há muitas coisas que nos remetem ao século XIX, por exemplo, período em que se destaca a figura de Toulouse-Lautrec, um artista que registrou com ideias inovadoras e um traço ousado a vida noturna da capital francesa. Ele nasceu no dia 24 de novembro de 1864. Era portador de uma doença que se caracteriza pela fraqueza dos ossos e a baixa estatura, resultado de um histórico de endogamia na família. Desde jovem frequentou a vida boêmia, especialmente o Moulin Rouge, famoso cabaré parisiense onde retratou personagens variados – artistas e frequentadores. Produziu intensamente, apesar da vida desregrada. Morreu aos 36 anos.
sábado, 23 de novembro de 2024
FLCÇÃO CIENTÍFICA
“– Para
falar a verdade, o que me leva a acreditar que não existem habitantes nesta
esfera é que me parece que nenhum ser sensato estaria disposto a morar aqui
– Bem, nesse
caso – disse Micrômegas –, talvez os seres que o habitem não tenham juízo.”
Um
alienígena para outro ao se aproximarem da Terra, em “MICRÔMEGAS, UMA HISTÓRIA
FILOSÓFICA”, de Voltaire (1694-1778. Ficção científica já no século XVIII.
Provavelmente o primeiro filme de ficção científica foi obra de um francês também: “Viagem ao Redor da Lua” (1902) teve roteiro e direção de Georges Méliès. A história é baseada no livro de Julio Verne (Viagem ao redor da Lua) e de H.G. Wells (Os primeiros homens na Lua).
domingo, 17 de novembro de 2024
CARONAS
Não sou pessoa sociável. Admiro todos aqueles desconhecidos que sentam
ao meu lado em locais públicos e me contam a vida em cinco minutos ou seus
problemas pessoais do momento. Como conseguem? Cresci ouvindo advertências sobre
estranhos e, como era tímida, o conselho caiu como uma luva. Até hoje abordo desconhecidos apenas para pedir informações, mas às vezes as situações fogem do controle.
A primeira empresa em que eu trabalhei em São Paulo editava a revista Panorama
da General Motors do Brasil. Um dia surgiu uma reportagem de última hora em S.
José dos Campos e, como o relações públicas tinha outro compromisso, me
arranjaram carona com um funcionário que estava indo para a fábrica no Vale.
Conversar sobre o quê? Nunca o tinha visto mais gordo e nem o veria de novo! Foi uma longa e entediante viagem.
Anos depois, em outra empresa, fui escalada para cobrir uma visita do secretário estadual
do meio ambiente a Guarujá. Novamente, problema com veículos e desta vez fui de
carona num carro da companhia, mas com uma colega de outro departamento. Na
Baixada, passamos a manhã em reuniões com prefeito e vereadores. Após almoçar, durante
o cafezinho o secretário teve a ideia de visitar o Lixão da Alemoa em Santos,
que há anos empesteava a entrada da cidade – todo o lixo coletado no município era
depositado numa área a céu aberto. E lá fomos nós para o lixão de Santos, vestidos
adequadamente para cobrir reuniões de gabinetes. O secretário não deixou por
menos: entrou no depósito e ao cortejo nada mais restou do que acompanhá-lo. Eu
já conhecia o lugar dos tempos do jornal CS, mas nunca pisara lá onde o quadro
era de horror, sem contar o cheiro insuportável. Para coroar o dia, minha
colega informou que ficaria em Santos. Estava eu a pé, a mais de 70 km de casa e cheirando
a lixo porque os sapatos estavam encharcados com o chorume. Depois de muita
conversa, conseguiram um carro para me trazer de volta e ainda me deixar em
casa, já que nenhum taxista me aceitaria naquelas condições.
Não me lembro qual era a reportagem e mais uma vez fui de carona com um colega e amigo, que dirigia um carro importado. Saímos da empresa e em plena avenida Faria Lima (acho), ele recebeu uma chamada do nosso chefe que exigia a presença dele imediatamente. Como estávamos perto do local do evento, ele me deu a notícia de que ia a pé e que eu levasse o carro. Entrei em desespero porque nunca havia dirigido carro automático. Meu amigo não se comoveu e me deu a mais rápida aula de direção de que se tem notícia e sumiu. Eu me vi no meio do trânsito congestionado em um carro alheio (e caro) que mal sabia conduzir. Conseguimos chegar aos trancos e barrancos – eu e o veículo – inteiros. Ainda bem porque na ocasião nem lembrei que ele não me dera os documentos do carro.
ANOS 1990.
Uma amiga muito querida me deu carona na saída do trabalho. Final de tarde, estávamos na
Faria Lima (outra vez). Na época, não sei se ainda é assim, junto ao canteiro
central havia um estacionamento. Ultrapassamos o cruzamento e o farol fechou.
Quando abriu, o carro não se animou a continuar. Sufoco porque onde estávamos
iria causar irritação e buzinadas dos motoristas apressados. Ela me disse com
naturalidade para eu empurrar o carro enquanto ela tentava fazê-lo
andar. Saí, pensando com meus botões que, sendo incapaz de tirar um estepe do
porta-malas de um fusca, eu duvidava ter força para empurrar o carro grande.
Felizmente, não precisei me esforçar porque o farol da rua transversal abriu e
o primeiro a aparecer na pista em que estávamos foi um jipe do Exército com
três recrutas. A ação foi muito rápida e eficiente (creio que faz parte de
exercícios da tropa): dois desceram, correram para o carro, empurraram para o
acostamento e voltaram acelerados para o jipe. Acenamos e agradecemos quando eles
passaram por nós com todo trânsito atrás deles...
quinta-feira, 14 de novembro de 2024
SAPOPEMBA
Como
o sol havia voltado, pensei em ir até lá para conhecer o Parque Zilda Arns que
tem sete quilômetros de extensão. O melhor caminho é sempre o metrô: fui até a
estação Vila Prudente e embarquei no monotrilho – Linha Prata com destino ao
Sapopemba. Até aí nada demais porque em 2014, quando o metrô promoveu visitas
do público às duas primeiras estações prontas fui conhecer a novidade.
Parece que esta é a única linha de monotrilho operando no Brasil e a primeira no mundo destinada ao transporte público com alta capacidade. Ao contrário do sistema tradicional em que os trens correm sobre dois trilhos, neste caso é usado um único trilho. Como as estações são elevadas – a altura varia entre doze e quinze metros, e os vagões têm janelas mais amplas, é possível ter uma visão panorâmica da região. O trem trepida de vez em quando. A surpresa foi a quantidade de conjuntos habitacionais ao longo do percurso, mas escapam da vista as calçadas. Foi apenas quando vi do lado oposto o trem sobre as pilastras em direção à Vila Prudente, dando a impressão de que está solto, que me lembrei de que estava bem longe do solo. Uma bonita imagem.
No
terminal da estação Sapopemba, ninguém conhece o Parque Zilda Arns. Insisto no
número que peguei na internet. Indicam um ônibus que vai para o Belém. Belém? “A
senhora senta ali na frente e vai olhando a numeração” – aconselha o motorista
gentilmente. São Paulo consegue ser sempre surpreendente. Por ser imensa,
ignoramos muito sobre ela. O trabalho paisagístico dado à avenida no trecho por
onde passa o monotrilho diminui o impacto da obra no ambiente: arborização
ladeia a ferrovia suspensa e sob ela há uma ótima ciclovia. Do parque nem sinal.
O monotrilho segue por um lado e o ônibus pela avenida famosa. Resolvo
continuar até o Belém, onde pegarei o metrô. Enquanto observava o comércio, as
pessoas em suas rotinas para lá e para cá, lembrei-me de uma palavrinha que,
por preguiça, não anotei: linear, e da informação de que o parque tem sete
quilômetros de ‘extensão’. Claro que eu havia passado pelo parque – já que um
parque linear acompanha rios, canais e até uma via expressa! A questão é que um
dia terei que voltar para conhecer melhor as outras atrações, além da ciclovia,
que ele oferece.
terça-feira, 12 de novembro de 2024
A POESIA DE OLGA SAVARY
ÁBACO
quinta-feira, 7 de novembro de 2024
CHOVE
Eu insisto em não carregar guarda-chuva. Estava
na Vila Madalena, quando a chuva começou. Consegui uma carona de guarda-chuva
até o ponto de ônibus mais próximo: Barra Funda, onde desci e peguei o ônibus
para Ana Rosa... Há muito tempo não enfrentava os problemas de trânsito em dia
chuvoso em Sampa. Lá fora a chuva continua animada. E aqui dentro também. Já
troquei de banco duas vezes. A vedação de algumas janelas é precária. No
primeiro ônibus, uma senhora reclama porque tiraram o guarda-chuva da bolsa dela,
mas bastou uma ligação para descobrir que foi a filha. A menina e os
passageiros ouviram toda a indignação da mãe, que estava indo trabalhar. O
segundo ônibus rendeu uma enxurrada de palavrões de dois estudantes atrasados
para uma prova – se for teste de bom comportamento, zero para a dupla. Vejo lá
fora a Casa das Rosas entre os pingos de chuva pendurados nas janelas. Logo
estarei em casa.
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
O PARCEIRO IDEAL
No baile, é simples assim: o parceiro ideal é aquele com quem você gosta de dançar ou aquele com quem você sente segurança ao deslizar pelo salão. E – surpresa! – pode nem ser uma pessoa que dance bem.
Naturalmente,
há algumas coisas essenciais que podem ajudar muito os dançarinos a se tornarem
parceiros mais agradáveis, tanto nas academias como nos salões: as boas
maneiras. Ou seja, aquelas normas de comportamento, que tornam a vida de todo
mundo melhor, a velha etiqueta.
Eis alguns lembretes:
- Se por qualquer razão a dama não quiser dançar com um
cavalheiro que a tenha escolhido, ela não deve aceitar logo em seguida, o
convite de outra pessoa para dançar aquela música. Estar esperando por
alguém é uma boa desculpa.
- O cavalheiro nunca deverá usar a dama como suporte e
evitar todo tipo de falha que o torne antipático.
- O cavalheiro, após dançar com uma
dama, nunca deve abandoná-la no meio do salão. Deve levá-la de volta à
mesa, aos amigos ou apresentá-la a outro parceiro, sempre com os devidos
agradecimentos.
- A dama deve reservar a primeira e a última dança para
dançar com quem a acompanhou ao baile.
5. É de bom tom que o cavalheiro se aproxime de uma dama para dançar por
meio de uma apresentação. Mas se não houver um intermediário, ao abordar a
dama, deve pedir licença para depois fazer o convite.
6. Não ponha as mãos nos bolsos da calça. É um hábito feio e deselegante.
7. Dance de acordo com as normas. Discrição é uma qualidade. Evite atitudes
íntimas e exibicionistas com o parceiro.
8. Cabe ao cavalheiro dirigir a dama, evitando aborrecimentos com esbarrões
nos demais. A direção a seguir deve ser sempre a dos outros: a da direita ou
sentindo anti-horário.
9. Evitar pisadas e joelhadas, pois se isto acontece, a dama por instinto
de defesa, torna-se esquiva, fugindo aos pisões e encontrões, resultando daí,
desinteligência no dançar.
10. Nunca se esqueça de que você não está
sozinho no salão.
11.
Enfim, um bom hálito é essencial.
Le Moulin de la Galette, Auguste Renoir (1841-1919). Musée d'Orsay, Paris.
sábado, 2 de novembro de 2024
ARTE E MORTE
LITERATURA
“Uma pá e uma enxada,
Uma enxada e um lençol;
Um buraco cavado em terra
A tal hóspede bem convém.”
Shakespeare: Hamlet, (Ato V). Tradução: Oscar Mendes
A bela tapeçaria de Bayeux de 69 metros de comprimento e 60 cm de largura, bordada em linho, narra a conquista normanda da Inglaterra e esta é a penúltima cena em que um cavaleiro normando golpeia Harold II, rei da Inglaterra (1066), na batalha de Hastings. O trabalho está exposto no Musée de la Tapisserie, em Bayeux, França. O trabalho, que foi elaborado entre 1070-1080, está detalhado no site do professor Dr. Ricardo Costa:
https://www.ricardocosta.com/tapecaria-de-bayeux-c-1070-1080
"O enterro
do Conde Orgaz" (1586), tela do espanhol El Greco (1541-1614). Igreja de S. Tomé,
Toledo (Espanha).
"A morte de Marrat" (1793) é uma tela de Jacques-Louis
David (1748-1825), exposta no Musée Royaux des Beaux Arts, em Bruxelas. O jornalista
foi assassinado por Charlotte Corday durante a Revolução Francesa por motivos
políticos. David era amigo pessoal de Marat.
"A Harvest of Death", fotografia de Timothy H. O’Sullivan feita entre 4 e 7 de julho de 1863, Batalha de Gettysburg, durante a Guerra Civil americana. Foto: Google Art Project – Wikipedia.
“A morte de um soldado” (193), foto do
correspondente de guerra Robert Capa (1913-1954), durante a Guerra Civil
espanhola.
MÚSICA
REQUIEM, Mozart.
https://www.youtube.com/watch?v=MafAZeag1_0
quinta-feira, 31 de outubro de 2024
"O MEU TEMPO É SÓ MEU”
Para terminar outubro, a poesia de Arnaldo Antunes (1960): “o meu tempo não é o seu tempo”.
"O meu tempo não é o seu
tempo.
O meu tempo é só meu.
O seu tempo é seu e de qualquer pessoa,
até eu.
O seu tempo é o tempo que voa.
O meu tempo só vai onde eu vou.
O seu tempo está fora, regendo.
O meu dentro, sem lua e sem sol.
O seu tempo comanda os eventos.
O seu tempo é o tempo, o meu sou.
O seu tempo é só um para todos,
O meu tempo é mais um entre muitos.
O seu tempo se mede em minutos,
O meu muda e se perde entre outros.
O meu tempo faz parte de mim,
não do que eu sigo.
O meu tempo acabará comigo
no meu fim."
A bailarina fazia parte de uma exposição na BMA há alguns anos.