domingo, 31 de março de 2024

DOMINGO DE SOL

 

Domingo cheio de sol. Céu azul! Quando era criança, na Páscoa, além do ovo tradicional de chocolate, eu ganhava um presente e, desde que aprendi a ler, era um livro de Monteiro Lobato. Guardo todos até hoje. Dessa época, lembro das músicas eruditas que as rádios transmitiam na sexta-feira, das refeições à base de peixe – bacalhau de preferência, servidas em um ambiente sério, de poucas palavras. No sábado, ouviam-se fogos na hora do almoço – era o início da malhação do judas – geralmente uma personalidade em desgraça no momento, que a garotada "castigava". Hoje seria difícil escolher. À noite, havia bailes de Aleluia – na verdade, bailes de Carnaval promovidos por muitos clubes da cidade. A semana, dita santa, terminava com o almoço da família no domingo, mas logo cedo o “coelho” deixava o ovo colorido para mim, mais ou menos como Papai Noel. Muitas vezes ouço relatos de pessoas magoadas ou desapontadas por terem sido levadas a acreditar em Papai Noel ou no coelho. Acho que nunca acreditei nas lendas, pois fiz a transição para a vida adulta sem choque com a realidade, talvez porque sempre tenha gostado da encenação. Até hoje gosto do bom velhinho... Quanto ao ovo, não ligo mais há muitas décadas. Chocolate é chocolate, não importa a forma. Um ótimo domingo para todos.



domingo, 24 de março de 2024

BANHO EM DOMICÍLIO

 

Em casa faziam-se as compras da mercearia e da farmácia por telefone. Isso em meados do século passado, época em que o cartão de crédito era a caderneta, onde o comerciante anotava os valores e enviava um papel para o cliente acompanhar os gastos. No fim do mês, acervam-se as contas. Agora, em tempos de internet e celular, tudo está disponível on line. Você só precisa sair da poltrona para receber a encomenda. Quem nunca usou o sistema, foi impelido pela pandemia a adotar o tal delivery. Acho que me enganei quando achei que se entregava de tudo em domicílio, pois não conhecia a aventura comercial de Monsieur Villete, um parisiense que em 1819 implantou em Paris uma inovação alemã: “bain à domicilie”. A empresa entregava em casa ou apartamento do interessado todo o equipamento necessário para o banho – banheira, roupão e um lençol, água quente, morna ou fria, como desejado. Após o banho tudo era levado embora e a água servida, geralmente, era escoada por uma mangueira da banheira até a sarjeta. M. Villete se comprometia a atender tanto quem morava em casa como em apartamento, mesmo no último andar do prédio! (Imagino a vizinhança!) Não devia ser um serviço barato e mesmo assim em 1838, quando Paris tinha mais de um milhão de habitantes, somente mil pessoas encomendaram os banhos domiciliares.

É bom lembrar que havia as casas de banho públicas para quem fizesse muita questão de limpeza. “Cada um tem suas próprias regras para o banho: alguns tomam banho a cada oito dias, outros, a cada dez, outros, uma vez por mês, e muitos banham-se uma vez por ano, por oito ou dez dias seguidos, quando tempo está adequando.”! M. Dejean, Traité des odeurs, 1777. Fonte: George Vigarello (1941).


"A banheira" (1886), tela de Edgar Degas.


sábado, 23 de março de 2024

SANTOS, 1930.

 

Fevereiro. Tirei a tarde para pesquisar a coleção do jornal A TRIBUNA, de Santos, na Hemeroteca do Arquivo do Estado. Folheio o livrão de janeiro/fevereiro de 1930. Uso luvas. O papel amarelado e seco exige manuseio cuidadoso. Meu interesse é genérico. Fatos curiosos, personagens anônimos que um dia (bom ou mau) viraram notícia. Algumas coisas despertam lembranças adormecidas da minha infância, sobras de conversas familiares.

Como a notinha do bilhete premiado vendido pelo “Chalet Brasil”, situado na rua do Rosário (João Pessoa), 7. Sim, as casas lotéricas eram chamadas de chalés, mas eu tinha a impressão de que a denominação abrangia também as casas de jogo do bicho, o que o Michaelis confirma. O fato é que uma das características da cidade de Santos são os chalés, construções simples de madeira, geralmente, sobre pilastras de concreto, que ainda existem em alguns bairros da cidade – como Jabaquara e Marapé. Uma das minhas tias morava em um gracioso chalé no bairro do Macuco. 

Chalés, bairro do Jabaquara. Foto: Hilda Araújo, 2016.

NATAL DOS GRILOS – Ah! Bons tempos em que os proprietários de automóveis se mobilizavam para dar “caixinha” de Natal para os inspetores de veículos do município. Objetivo: “proporcionar aos referidos inspetores um dia feliz, no seu lar modesto”. A notícia é da edição de janeiro, anterior ao dia de Reis, e informa que a administração do jornal, atendendo a pedidos dos leitores, “aceita qualquer importância que os interessados queiram destinar ao fim aludido”. E os grilos? Bem, era assim que a população se referia aos guardas de trânsito. Provavelmente por causa do apito... 

AO PÉ DE ANJO – Achei que era uma sapataria, mas a imagem tosca do clichê me fez ler o anúncio minimalista, espremido em um canto de página. Em seis linhas e meia informa que “ninguém supera a casa em vendas, compras, reformas, peças sobressalentes, linhas de todas as cores e escola de bordados”. E ainda atende em domicílio! Ah! trata-se de uma casa de máquinas de costura e o nome refere-se às costureiras e bordadeiras que usam os pés para operar o equipamento que ornou milhares de lares. Em casa tínhamos uma Singer, mas nunca se pôde dizer que eu fosse um pé de anjo.





https://www.youtube.com/watch?v=DyDlGpH8kNA

quarta-feira, 20 de março de 2024

AS CORES DO OUTONO

Para nós que vivemos em um país tropical cheio de cores e flores o ano todo, o outono é uma estação de temperatura mais amena que o verão, que está cada vez mais quente. No Hemisfério Norte, entretanto, o outono proporciona um espetáculo inesquecível de cores.

 

CANÇÃO DE OUTONO

No entardecer da terra,
O sopro do longo outono
Amareleceu o chão.
Um vago vento erra,
Como um sonho mau num sono,
Na lívida solidão.

Soergue as folhas, e pousa
As folhas volve e revolve
Esvai-se ainda outra vez.
Mas a folha não repousa
E o vento lívido volve
E expira na lividez.

Eu já não sou quem era;
O que eu sonhei, morri-o;
E mesmo o que hoje sou
Amanhã direi: quem dera
Volver a sê-lo! mais frio.
O vento vago voltou.

                  Fernando Pessoa


Praga, República Checa, 2010. Foto: Hilda Araújo.


Berlim, 2010. Foto: Hilda Araújo.

Bonn, Alemanha, 2010. Foto: Hilda Araújo.

NOVOS CAMINHOS


Que tal explorar a Zona Leste da cidade? Deixar a zona de conforto e ir mais adiante? Que tal um dos bairros mais antigos da cidade? São Miguel Paulista. No metrô Paraíso, me informo que tenho de tomar o trem no Brás. Os trens metropolitanos são muito bons e limpos. Caminho pelos corredores da estação de onde partem três linhas – a 10 Turquesa, a 11 – Coral e a 12 – Safira, mas não vejo a indicação das plataformas de embarque e quem me socorre é a mocinha de um quiosque de doces. Safira é a minha cor. O trem está na plataforma e tem poucos passageiros, mas algumas pessoas, não entendo o motivo, preferem sentar-se no chão. O ar condicionado é um alívio. Acho um lugar e me acomodo. Logo depois chega uma senhora, senta-se ao meu lado, ajeita-se e me pergunta se o trem vai para São Miguel. Sorrio e digo que esperava que sim, porque não vi ninguém para confirmar. Entra um senhor e ela pergunta se era aquele o trem, ele confirma e senta-se do outro lado. Ela já vai me dizendo que vão a um hospital, enquanto mexe no bolso externo da bolsa e resmunga que tentaram roubá-la pois o zíper estava fechado quando saiu de casa. Ela ri porque estava vazio.

            A viagem começa e a primeira parada é velha conhecida: Tatuapé (Caminho dos tatus), um bairro de IDH bastante elevado (0,936). Passamos por Engenheiro Goulart, onde se encontra o Parque Ecológico do Tietê cuja finalidade é preservar a várzea do rio Tietê. Pobre rio! Quem seria esse engenheiro? A homenagem é a Aristides de Oliveira Goulart, engenheiro e militar brasileiro, formado em 1890. Em 1893 foi cedido pelo Exército à Estrada de Ferro Central do Brasil e retornou ao serviço militar em 1896, mas voltou à empresa ferroviária em 1899 e por lá ficou até 1910, quando reingressou no Exército onde permaneceu até a reserva dois anos depois como general.

            Próxima estação: USP/Zona Leste. Merece uma visita especial. Vamos a Comendador Ermelino. A estação foi inaugurada em 1926 e o nome é uma homenagem ao terceiro filho do conde Francisco Matarazzo. Durante a I Guerra, ficou no comando do grupo enquanto o pai manteve-se na Itália. O distrito já fez parte de São Miguel, emancipou-se em 1959. Característica: bairro-dormitório.

            Minha vizinha muda para o banco do lado do companheiro. Chegamos a São Miguel Paulista. A viagem durou 40 minutos. Ao sair do trem sou envolvida pelo ar quente e sufocante desse último dia de verão. Pergunto pela praça do forró e fico aliviada por saber que é perto. Na verdade, a estação é praticamente na praça cujo nome verdadeiro é Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra. Na calçada em frente, muitos vendedores ambulantes. Meu destino é a Capela dos Índios, a segunda antiga de São Paulo, século XVI, mas está fechada, sem contar que está protegida por uma cerca. Terei que voltar – abre às quintas-feiras e aos domingos. Vou visitar a matriz, mas essa é outra história. 



Capela de São Miguel Arcanjo, São Miguel Paulista. Foto: Hilda Araújo.

quinta-feira, 14 de março de 2024

ALBERT EINSTEIN

A circunferência de um círculo dividida por seu diâmetro tem sempre o mesmo valor 3,14159265358... É o que chamam de constante matemática, representada pela letra grega π (PI). O primeiro estudo científico sobre o valor do PI é atribuído ao grego Arquimedes (287-212 a.C.), mas até hoje não se tem o valor definitivo do PI, que pode chegar a trilhões de dígitos! Considerado um número irracional por não ser uma dízima periódica, é usado para o cálculo de área, volume e comprimento de figuras geométricas arredondadas. E daí, perguntarão muitos? Hoje é o dia do PI ou π, comemorado em alguns países. O motivo seria a forma como os americanos escrevem as datas, ou seja, hoje é 3/14. (Quanta imaginação!) Mas há um fator que poderia explicar melhor a escolha da data para a “comemoração” do dia do PI: o nascimento do físico Albert Einstein (1879-1955).

O 145º aniversário de nascimento de Albert Einstein - E=mc2.


CHARLES DICKENS

 

“Aos doze anos eu era grumete e já havia enfrentado muitas tempestades na vida, no sentido literal e no sentido figurado do termo. Sempre fui de opinião – a partir do momento em que pude formar uma opinião – que um homem que só entende de um assunto é quase tão enfadonho quanto o que não entende de assunto algum. Por essa razão, ao longo da minha vida, procurei aprender tudo o que podia e, embora eu não seja um homem culto, tenho orgulho em dizer que são muitas as coisas pelas quais nutro um vivo interesse.” O NAUFRAGIO DO GOLDEN MARY, de Charles Dickens e Wilkie Collins.

 E este é só o começo... Uma deliciosa aventura.

“Naufrágio de um cargueiro”. Óleo sobre tela do britânico William Turner (1775-1851). Acervo: Calouste Gulbenkian, Lisboa.



quarta-feira, 13 de março de 2024

NO TEMPO DOS CHAPÉUS

              


A foto, publicada no jornal A TRIBUNA de Santos em janeiro de 1930, à primeira vista, parece anúncio de uma chapelaria. Não se engane: trata-se do registro da primeira transmissão de um jogo de futebol pelo telefone na cidade e que foi promovida pelo jornal santista. Um aglomerado de elegantes  todos de terno e chapéu. Ricos ou pobres, a indumentária era obrigatória. A partida entre Paulistas e Cariocas reuniu uma multidão em frente de A TRIBUNA. A disputa realizou-se no Parque São Jorge, em São Paulo, e o árbitro da contenda (como se dizia) foi o sr. Carlos Martins da Rosa, do Rio de Janeiro. A Seleção Paulista contou com Athiê, Grané e Del Debbio; Pepe, Amilcar e Serafini; Ministrinho, Heitor, Gambinha, Feitiço e De Maria. A Seleção do Rio tinha Jaguaré, Sylvio e Itália; Tinoco, Fausto e Fortes; Paschoal, Doca, Russinho, Nilo e Teóphilo. Os paulistas venceram por 4x2.

         A primeira transmissão de rádio no Brasil aconteceu em 1922, como parte das comemorações do centenário da Independência e, no início dos anos 1930, havia 29 emissoras de rádio em funcionamento no país, transmitindo óperas, músicas e programas instrutivos. Em Santos nesse ano havia apenas a pioneira Rádio Clube. Os aparelhos ainda eram um produto caro e quem tinha precisava ser assinante da estação transmissora.

CURIOSIDADES: ainda lembro dos comentários em casa sobre as qualidades de Feitiço. Athiê tornou-se mais tarde presidente do Santos F.C. na fase áurea do clube e fez carreira política, quando o entrevistei várias vezes.

Ah! Se você tiver tempo e boa vista, tente localizar uma ou duas mulheres entre os torcedores.

Legenda da foto de A TRIBUNA.

Lisboa, 2023. Foto: Hilda Araújo.


terça-feira, 12 de março de 2024

QUEM FOI A PRIMEIRA?

 ISSO IMPORTA?

A paulistana Yde Schloenbach Blumenschein (1882-1963) começou a escrever aos 13 anos e publicou seus primeiros trabalhos no jornal A TRIBUNA, de Santos, ficando conhecida pelo pseudônimo de Colombina. Ela estudou na Alemanha, era poliglota, pianista e cantora. Casou-se, teve dois filhos e desquitou-se para horror da família e amigos. Considerada poeta parnasiana, colaborou com as revistas Fon-Fon, Careta e O Malho. Em 1932 fundou a Casa do Poeta Lampião de Gás, que funcionava na residência dela e onde editou o jornal O Fanal. A Casa ganhou sede própria em 1948. Yde vivia sozinha, fumava, organizava saraus literários em casa e frequentava os meios literários, além de escrever poesia erótica, o que aumentou o preconceito contra ela. O seu último livro foi “Rapsódia Rubra: Poemas à Carne”.

EXALTAÇÃO

Olhas nos olhos meus. E eu vejo neste instante

toda a terra subir a um céu que desconheço.

Olho nos olhos teus. E fica tão distante

o mundo: e todo o fel que ele contem, esqueço.

 

Sorris… e, contemplando o teu lindo semblante,

o ideal de minha vida, enfim, eu reconheço.

Falas… ouço-te a voz, e, impetuosa, radiante,

num gesto de ternura, os lábios te ofereço.

 

Beijas a minha boca. E neste beijo grande

-- como uma flor que ao sol desabrocha e se expande -- ,

todo o meu ser palpita e freme e vibra e estua.

 

Tudo é um sonho, no entanto; o seu beijo… o meu crime.

Mentirosa ilusão! Pobre ilusão que exprime

somente o meu desejo imenso de ser tua!


Há 131 anos nascia no Rio de Janeiro Gilka da Costa de Melo Machado, que começou a escrever muito cedo e aos 14 anos participou de um concurso literário promovido pelo jornal A IMPRENSA, usando o próprio nome e pseudônimos. Ganhou os três prêmios principais. Ficou conhecida como Gilka Machado. Publicou o primeiro livro em 1915 – “Cristais Partidos”, com prefácio do poeta Olavo Bilac. Gilka também foi uma das pioneiras da poesia erótica, o que lhe valeu por parte da crítica o título de “matrona imoral”. A qualidade do seu trabalho superou o preconceito: ela ganhou o título de “melhor poetisa do século XX” em um concurso organizado pela revista O MALHO em 1933. (Um exagero da publicação, pois ainda faltavam 67 anos para o fim do século.) Foi casada com o poeta Rodolfo de Melo Machado (1885-1923) e teve dois filhos: Hélios e Heros. A filha tornou-se uma famosa bailarina, conhecida como Eros Volúsia. Gilka faleceu em 1980. 



Ser mulher…

Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada

para os gozos da vida, a liberdade e o amor;

tentar da glória a etérea e altívola escalada,

na eterna aspiração de um sonho superior…


Ser mulher, desejar outra alma pura e alada

para poder, com ela, o infinito transpor;

sentir a vida triste, insípida, isolada,

buscar um companheiro e encontrar um Senhor…


Ser mulher, calcular todo o infinito curto

para a larga expansão do desejado surto,

no ascenso espiritual aos perfeitos ideais…


Ser mulher, e oh! Atroz, tantálica tristeza!

ficar na vida qual uma águia inerte, presa

nos pesados grilhões dos preceitos sociais!

Cristais partidos (1915)



sexta-feira, 8 de março de 2024

SANTOS, OUTROS TEMPOS.

 

Continuo folheando o centenário jornal santista, um bom exercício para conhecer uma época e avaliar os avanços (ou retrocessos) da sociedade em geral. No verão de 1930, as senhoritas estavam alvoroçadas com o concurso de Miss Brasil, instituído pelo jornal A NOITE, do Distrito Federal/Rio de Janeiro, e que em São Paulo era patrocinado pelo jornal A GAZETA. A eleita concorreria ao título de Miss Universo, cujo prêmio era de dez mil dólares, e teria a viagem custeada pelo jornal carioca. As concorrentes tinham que ser brasileiras, ter entre 18 e 25 anos e não podiam ser ou ter sido artistas de teatro, cinema ou outras diversões pagas. As inscrições terminavam em 30 de março. Em Santos, o jornal A TRIBUNA divulgava a competição e a lista das mais votadas da cidade. No dia 15 de janeiro, Joanna Pasquarelli de Rosato liderava as inscritas, com 168 votos – bem distante da mais votada paulistana, srta. Odette Novaes, do bairro da Liberdade, com 682 votos. O nome de uma candidata chama minha atenção: Zezinha Rezende. Seria nossa poeta Maria José Aranha de Rezende (1911 —1999), que sempre foi chamada carinhosamente de Zezinha Rezende? Por que não? Ela foi muito bonita. O concurso terminou com a vitória da gaúcha Yolanda Maria Sabage Pereira (1910-2001), que ganhou o título não reconhecido de Miss Universo, realizado no Texas naquele ano. 



E para encerrar uma crônica de um autor anônimo. Passa quase desapercebida a justificativa para os salários menores para as mulheres. 






quinta-feira, 7 de março de 2024

SANTOS, 1930: OS CARROS ESTÃO CHEGANDO.

 

Em 1930, no Brasil, automóveis eram artigos de luxo e poucos rodavam pelas ruas das grandes cidades. Entre os proprietários de carros já existiam os amantes da velocidade que organizavam corridas em lugares afastados, como Praia Grande, sempre atraindo público. Nem sempre as corridas (rachas?) acabavam bem, como naquele domingo, 26 de janeiro daquele ano. Adelson Barreto era dono de um veículo esportivo conversível da Chrysler, conhecido como Baratinha, e Antônio Domingues Pinto Jr. tinha um Hudson nº 25, mas quem o dirigia era o jovem José Santos Soeiro. Eles competiam há algum tempo e aquela seria a prova decisiva – a baratinha estava invicta. Dessa vez o Hudson estava à frente e, como se não bastasse, ao fazer o retorno próximo ao rio Piassaguassu, Soeiro perdeu o controle do carro que capotou várias vezes e foi lançado à distância, gravemente ferido. O sr. Quíncio Peirão, que assistia à competição, percebendo a gravidade do acidente, prestou os primeiros socorros à vítima, que foi transportada para o hospital na avenida Conselheiro Nébias. O acidente foi notícia de destaque no jornal A TRIBUNA (Hemeroteca do Arquivo Público do Estado de São Paulo).

Quíncio Peirão (1884-1936), considerado herói da revolta paulista de 1932, foi um dos primeiros práticos da barra de Santos, exercendo a função como autônomo. 

Um Chrysler de 1928. 
By HombreDHojalata – Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=39276448

HABILITAÇÃO NOVA

O professor Johann Schult, da Escola Alemã, em São Paulo, havia comprado recentemente um Chevrolet (Placa: 10.674-P) e resolveu aproveitar uma folga para fazer um passeio em Santos. Convidou os colegas de trabalho Werner, Bader e Demer – Demer levou a esposa, Louise. Os excursionistas partiram cedo para Santos, onde visitaram os pontos pitorescos da cidade e em seguida foram para São Vicente, atravessaram a ponte Pênsil e tomaram o rumo da praia de Paranapuã, mas no caminho pararam no Bar Prainha para um “ligeiro piquenique”, segundo o noticiário do  jornal no dia seguinte (5/01/1930). O grupo foi para a praia onde passou um bom tempo: “a beleza natural do lugar foi motivo de êxtase por parte dos visitantes, que ali ficaram em contemplação por mais algum tempo, até que foi resolvido o regresso, afim (sic) de tomarem outro rumo”. O sr. Bader reconheceu os riscos de manobra num local estreito e saiu do veículo, convidando os outros passageiros a imitá-lo. Nada feito: “os demais permaneceram sobre as almofadas do veículo”.

O prof. Schultz, que certamente não era mestre em direção, fez uma manobra infeliz e o carro só não caiu no mar porque um providencial tronco de árvore impediu a queda. O veículo, entretanto, capotou. Demer (45 anos) e Werner (33) ficaram feridos com gravidade e levados para o Hospital de São José. A sra. Louise faleceu no local. O motorista Schult não sofreu nem um arranhão.




quarta-feira, 6 de março de 2024

EXPRESSO AEROPORTO

 

Desde que foi inaugurado tive curiosidade em conhecer o Expresso Aeroporto da CPTM, que tem início na estação Barra Funda, parando apenas na Luz, CECAP (Guarulhos) e Aeroporto. Na volta, para na estação do Brás. Ontem, embarquei na estação da Luz para conhecer o trem e o trajeto. O serviço tem integração tarifária com o sistema metro-ferroviário.

Houve uma época (anos 1940/60) em que as pessoas costumavam ir ao aeroporto de Congonhas para ver aviões decolando e pousando... O lugar virou um ponto de atração da cidade com restaurantes e bares disputados com vista para a pista, sem contar os famosos bailes carnavalescos. Hoje os aviões são visíveis apenas das salas de embarque, junto aos fingers.

Não estava interessada em aviões. Aliás, aeroportos são tão enfadonhos quanto shopping centers. E caríssimos. Não era a única sem mala na plataforma de embarque da estação da Luz: funcionários das empresas aéreas e prestadoras de serviços se misturavam aos viajantes. Tentei lembrar dos trens para o aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, que parte da Gare du Nord, ou, de Roma para o Aeroporto Leonardo da Vinci, que sai da estação Termini. É claro que o trem paulista é novíssimo em comparação com os dois citados, mas constato que é muito melhor e confortável. Está cheio e todos os passageiros estão sentados.

Aproveito a paisagem lá fora. Tento reconhecer os lugares – bem poucos conheço na Zona Leste – Penha e Tatuapé são meu limite. Nas imediações da Luz, resquícios da era de ouro da indústria paulista – algumas chaminés e armazéns de tijolinhos vermelhos abandonados. Localizo o campus da USP-Leste, que ainda não conheço, mas vejo que o acesso é bem fácil. Uma novidade é parada CECAP, já em Guarulhos. Precisei pesquisar, pois fui apenas umas três vezes a Guarulhos a serviço. Trata-se do Parque CECAP – sigla do projeto Caixa Estadual de Casas para o Povo, implantado em 1968, sob a supervisão dos arquitetos Villanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha e Fábio Penteado. Além do conjunto habitacional com características modernistas, no bairro encontram-se o Terminal Turístico de Guarulhos, o SESC e Hospital Geral de Guarulhos. Seria bom lembrar que Guarulhos é o segundo município mais populoso do Estado de São Paulo – 1 291 784 habitantes.

Enfim, chegamos as Aeroporto Internacional de São Paulo “André Franco Montoro”. Há um ônibus gratuito que leva os passageiros até os terminais 1, 2 e 3. Aí termina o conforto: sardinhas ficam mais confortáveis em suas latas. Desci no Terminal 2, fui até a área de check-in e a única coisa que me chama atenção é o Super-Homem no corredor. Ele não voa mais? A capa não funciona? Nada é como antes...

O movimento de passageiros é pequeno, mas como sempre as aparências enganam: por ano passam por lá cinquenta milhões de passageiros! Diariamente há 830 pousos e decolagens! (Será que as do Super-Homem contam?)

A paisagem do entorno é sem graça, um riacho barrento (Baquirivu) corre sem pressa. Corre? De longe parece morto. Desço para tomar um cafezinho (R$ 12,10) e embarcar no próximo ônibus para a estação ferroviária.




A linha EXPRESSO AEROPORTO funciona das 5 horas à meia-noite diariamente. A passagem custa R$ 4,40 por trecho e o tempo previsto para o trajeto completo é de 35 minutos.

TRAJETO

SENTIDO AEROPORTO: Estação Palmeiras-Barra Funda > Estação Luz > Estação CECAP Guarulhos-> Estação Aeroporto-Guarulhos.

VOLTA: Estação Aeroporto-Guarulhos > Estação CECAP Guarulhos > Brás > Estação Luz > Estação Palmeiras-Barra Funda.

terça-feira, 5 de março de 2024

HEITOR VILLA-LOBOS

Heitor Villa-Lobos é para mim o maior compositor brasileiro. A data de seu nascimento foi escolhida para ser o DIA NACIONAL DA MÚSICA CLÁSSICA. Nasceu no dia 5 de março de 1887, nos estertores do Império, participou da Semana de Arte Moderna de 1922, passou duas temporadas na Europa – uma delas financiada por Carlos Guinle. Um talento reconhecido internacionalmente. Morreu em 1959.


https://www.youtube.com/watch?v=R0us7Zof_a0

segunda-feira, 4 de março de 2024

MIRIAM MAKEBA


Um dia para lembrar a sul-africana Zenzile Miriam Makeba – Miriam Makeba (1932-2008), cantora, compositora, ativista pelos direitos humanos e embaixadora Boa Vontade da ONU. 



 https://www.youtube.com/watch?v=SBH_u-vEK30

domingo, 3 de março de 2024

CHAMA O SÍNDICO!

Tudo tem história e histórias. Eis uma música cheia de referências de época. Jorge Ben Jor teria tido a ideia em jantar com Washington Olivetto, publicitário fundador da W/Brasil, após show na agência. E na conversa comentaram sobre a confusa situação política do país, que vivia a crise do Plano Collor, contou Olivetto em entrevistas. O publicitário em tom de brincadeira disse que, se o Brasil fosse um condomínio, o síndico poderia ser o Tim Maia – que era conhecido por ser bem descomprometido. E para sua surpresa, Jorge disse que em certa ocasião, por causa de problemas no condomínio com uma escada, Tim Maia comentara que se fosse síndico, o prédio seria mais organizado. A conversa gerou a música “Alô, alô, W/ Brasil!” que Jorge Ben Jor compôs algum tempo depois, traçando um panorama geral político e social do Brasil e do Rio de Janeiro. Lá estão Fernando, o Belo (Collor), Cabral 1, que “descobriu a filial” (o Pedro Álvares) e o Cabral 2, que “se deu mal” (o escândalo do affair entre ministros da Justiça e Economia) e o aviso “Lá da rampa mandaram avisar, que todo dinheiro será devolvido quando setembro chegar”, uma referência à devolução corrigida da poupança confiscada. (Ainda há pessoas que têm dinheiro a receber do Plano Collor implantado em 1991.) 

Mais detalhes sobre a música:

https://novabrasilfm.com.br/notas-musicais/curiosidades/dia-do-sindico-a-historia-da-musica-w-brasil/


https://www.youtube.com/watch?v=bkM1u4GxHzw&list=RDbkM1u4GxHzw&start_radio=1