terça-feira, 12 de março de 2024

QUEM FOI A PRIMEIRA?

 ISSO IMPORTA?

A paulistana Yde Schloenbach Blumenschein (1882-1963) começou a escrever aos 13 anos e publicou seus primeiros trabalhos no jornal A TRIBUNA, de Santos, ficando conhecida pelo pseudônimo de Colombina. Ela estudou na Alemanha, era poliglota, pianista e cantora. Casou-se, teve dois filhos e desquitou-se para horror da família e amigos. Considerada poeta parnasiana, colaborou com as revistas Fon-Fon, Careta e O Malho. Em 1932 fundou a Casa do Poeta Lampião de Gás, que funcionava na residência dela e onde editou o jornal O Fanal. A Casa ganhou sede própria em 1948. Yde vivia sozinha, fumava, organizava saraus literários em casa e frequentava os meios literários, além de escrever poesia erótica, o que aumentou o preconceito contra ela. O seu último livro foi “Rapsódia Rubra: Poemas à Carne”.

EXALTAÇÃO

Olhas nos olhos meus. E eu vejo neste instante

toda a terra subir a um céu que desconheço.

Olho nos olhos teus. E fica tão distante

o mundo: e todo o fel que ele contem, esqueço.

 

Sorris… e, contemplando o teu lindo semblante,

o ideal de minha vida, enfim, eu reconheço.

Falas… ouço-te a voz, e, impetuosa, radiante,

num gesto de ternura, os lábios te ofereço.

 

Beijas a minha boca. E neste beijo grande

-- como uma flor que ao sol desabrocha e se expande -- ,

todo o meu ser palpita e freme e vibra e estua.

 

Tudo é um sonho, no entanto; o seu beijo… o meu crime.

Mentirosa ilusão! Pobre ilusão que exprime

somente o meu desejo imenso de ser tua!


Há 131 anos nascia no Rio de Janeiro Gilka da Costa de Melo Machado, que começou a escrever muito cedo e aos 14 anos participou de um concurso literário promovido pelo jornal A IMPRENSA, usando o próprio nome e pseudônimos. Ganhou os três prêmios principais. Ficou conhecida como Gilka Machado. Publicou o primeiro livro em 1915 – “Cristais Partidos”, com prefácio do poeta Olavo Bilac. Gilka também foi uma das pioneiras da poesia erótica, o que lhe valeu por parte da crítica o título de “matrona imoral”. A qualidade do seu trabalho superou o preconceito: ela ganhou o título de “melhor poetisa do século XX” em um concurso organizado pela revista O MALHO em 1933. (Um exagero da publicação, pois ainda faltavam 67 anos para o fim do século.) Foi casada com o poeta Rodolfo de Melo Machado (1885-1923) e teve dois filhos: Hélios e Heros. A filha tornou-se uma famosa bailarina, conhecida como Eros Volúsia. Gilka faleceu em 1980. 



Ser mulher…

Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada

para os gozos da vida, a liberdade e o amor;

tentar da glória a etérea e altívola escalada,

na eterna aspiração de um sonho superior…


Ser mulher, desejar outra alma pura e alada

para poder, com ela, o infinito transpor;

sentir a vida triste, insípida, isolada,

buscar um companheiro e encontrar um Senhor…


Ser mulher, calcular todo o infinito curto

para a larga expansão do desejado surto,

no ascenso espiritual aos perfeitos ideais…


Ser mulher, e oh! Atroz, tantálica tristeza!

ficar na vida qual uma águia inerte, presa

nos pesados grilhões dos preceitos sociais!

Cristais partidos (1915)



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