ISSO IMPORTA?
A
paulistana Yde Schloenbach Blumenschein (1882-1963) começou a escrever
aos 13 anos e publicou seus primeiros trabalhos no jornal A TRIBUNA, de Santos, ficando
conhecida pelo pseudônimo de Colombina.
Ela estudou na Alemanha, era poliglota, pianista e cantora. Casou-se, teve dois
filhos e desquitou-se para horror da família e amigos. Considerada poeta
parnasiana, colaborou com as revistas Fon-Fon, Careta e O Malho. Em 1932 fundou
a Casa do Poeta Lampião de Gás, que funcionava na residência dela e onde editou
o jornal O Fanal. A Casa ganhou sede própria em 1948. Yde vivia sozinha,
fumava, organizava saraus literários em casa e frequentava os meios literários,
além de escrever poesia erótica, o que aumentou o preconceito contra ela. O seu
último livro foi “Rapsódia Rubra: Poemas à Carne”.
EXALTAÇÃO
Olhas nos
olhos meus. E eu vejo neste instante
toda a terra
subir a um céu que desconheço.
Olho nos
olhos teus. E fica tão distante
o mundo: e
todo o fel que ele contem, esqueço.
Sorris… e,
contemplando o teu lindo semblante,
o ideal de
minha vida, enfim, eu reconheço.
Falas…
ouço-te a voz, e, impetuosa, radiante,
num gesto de
ternura, os lábios te ofereço.
Beijas a
minha boca. E neste beijo grande
-- como uma
flor que ao sol desabrocha e se expande -- ,
todo o meu
ser palpita e freme e vibra e estua.
Tudo é um
sonho, no entanto; o seu beijo… o meu crime.
Mentirosa
ilusão! Pobre ilusão que exprime
somente o
meu desejo imenso de ser tua!
Há 131 anos nascia no Rio de Janeiro Gilka da
Costa de Melo Machado, que começou a escrever muito cedo e aos 14 anos participou
de um concurso literário promovido pelo jornal A IMPRENSA, usando o próprio
nome e pseudônimos. Ganhou os três prêmios principais. Ficou conhecida como
Gilka Machado. Publicou o primeiro livro em 1915 – “Cristais Partidos”, com
prefácio do poeta Olavo Bilac. Gilka também foi uma das pioneiras da poesia
erótica, o que lhe valeu por parte da crítica o título de “matrona imoral”. A
qualidade do seu trabalho superou o preconceito: ela ganhou o título de “melhor
poetisa do século XX” em um concurso organizado pela revista O MALHO em 1933.
(Um exagero da publicação, pois ainda faltavam 67 anos para o fim do século.) Foi
casada com o poeta Rodolfo de Melo Machado (1885-1923) e teve dois filhos:
Hélios e Heros. A filha tornou-se uma famosa bailarina, conhecida como Eros
Volúsia. Gilka faleceu em 1980.
Ser mulher…
Ser
mulher, vir à luz trazendo a alma talhada
para
os gozos da vida, a liberdade e o amor;
tentar
da glória a etérea e altívola escalada,
na
eterna aspiração de um sonho superior…
Ser mulher, desejar outra alma pura e alada
para
poder, com ela, o infinito transpor;
sentir
a vida triste, insípida, isolada,
buscar
um companheiro e encontrar um Senhor…
Ser mulher, calcular todo o infinito curto
para
a larga expansão do desejado surto,
no
ascenso espiritual aos perfeitos ideais…
Ser mulher, e oh! Atroz, tantálica tristeza!
ficar
na vida qual uma águia inerte, presa
nos
pesados grilhões dos preceitos sociais!
Cristais
partidos (1915)
Nenhum comentário:
Postar um comentário