quinta-feira, 7 de março de 2024

SANTOS, 1930: OS CARROS ESTÃO CHEGANDO.

 

Em 1930, no Brasil, automóveis eram artigos de luxo e poucos rodavam pelas ruas das grandes cidades. Entre os proprietários de carros já existiam os amantes da velocidade que organizavam corridas em lugares afastados, como Praia Grande, sempre atraindo público. Nem sempre as corridas (rachas?) acabavam bem, como naquele domingo, 26 de janeiro daquele ano. Adelson Barreto era dono de um veículo esportivo conversível da Chrysler, conhecido como Baratinha, e Antônio Domingues Pinto Jr. tinha um Hudson nº 25, mas quem o dirigia era o jovem José Santos Soeiro. Eles competiam há algum tempo e aquela seria a prova decisiva – a baratinha estava invicta. Dessa vez o Hudson estava à frente e, como se não bastasse, ao fazer o retorno próximo ao rio Piassaguassu, Soeiro perdeu o controle do carro que capotou várias vezes e foi lançado à distância, gravemente ferido. O sr. Quíncio Peirão, que assistia à competição, percebendo a gravidade do acidente, prestou os primeiros socorros à vítima, que foi transportada para o hospital na avenida Conselheiro Nébias. O acidente foi notícia de destaque no jornal A TRIBUNA (Hemeroteca do Arquivo Público do Estado de São Paulo).

Quíncio Peirão (1884-1936), considerado herói da revolta paulista de 1932, foi um dos primeiros práticos da barra de Santos, exercendo a função como autônomo. 

Um Chrysler de 1928. 
By HombreDHojalata – Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=39276448

HABILITAÇÃO NOVA

O professor Johann Schult, da Escola Alemã, em São Paulo, havia comprado recentemente um Chevrolet (Placa: 10.674-P) e resolveu aproveitar uma folga para fazer um passeio em Santos. Convidou os colegas de trabalho Werner, Bader e Demer – Demer levou a esposa, Louise. Os excursionistas partiram cedo para Santos, onde visitaram os pontos pitorescos da cidade e em seguida foram para São Vicente, atravessaram a ponte Pênsil e tomaram o rumo da praia de Paranapuã, mas no caminho pararam no Bar Prainha para um “ligeiro piquenique”, segundo o noticiário do  jornal no dia seguinte (5/01/1930). O grupo foi para a praia onde passou um bom tempo: “a beleza natural do lugar foi motivo de êxtase por parte dos visitantes, que ali ficaram em contemplação por mais algum tempo, até que foi resolvido o regresso, afim (sic) de tomarem outro rumo”. O sr. Bader reconheceu os riscos de manobra num local estreito e saiu do veículo, convidando os outros passageiros a imitá-lo. Nada feito: “os demais permaneceram sobre as almofadas do veículo”.

O prof. Schultz, que certamente não era mestre em direção, fez uma manobra infeliz e o carro só não caiu no mar porque um providencial tronco de árvore impediu a queda. O veículo, entretanto, capotou. Demer (45 anos) e Werner (33) ficaram feridos com gravidade e levados para o Hospital de São José. A sra. Louise faleceu no local. O motorista Schult não sofreu nem um arranhão.




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