domingo, 24 de agosto de 2025

PARQUE BUENOS AIRES

 

O veranico é um convite para sair sem destino pela cidade. Depois de explorar o reduto da Sé, expandi minhas caminhadas para Higienópolis, pois há muito tempo queria ir ao Parque Buenos Aires. Quando mudei para São Paulo ainda era Praça Buenos Aires, mas em 1987 tornou-se parque e está inserido no quadrilátero formado pelas Ruas Piauí, Bahia, Alagoas e Avenida Angélica. Visitei o lugar há muitos anos, passei por lá muitas vezes, mas não me lembrava do interior.

Metrô até a estação Higienópolis e saída pela Rua Piauí, que no início ainda tem algumas pequenas casas e prédios antigos com varandas e venezianas de madeira. Boa parte da quadra é do Mackenzie. Atravesso a Rua Itambé (pedra afiada em Tupi). Do lado par da Piauí várias casas graciosas resistem à verticalização. A quadra após a Rua Sabará já não tem casas, com exceção da Casa Rodrigues Alves, na esquina com a Rua Itacolomy. O casarão foi construído no início do século passado, pertenceu à família do presidente Francisco de Paula RODRIGUES ALVES (1841-1919), que governou o Brasil no período de 1902 a 1906. Em algum momento a propriedade passou para o Instituto Nacional da Previdência Social; entre 1965 e 2003 foi sede da Divisão de Ordem Política e Social (Dops) e da Polícia Federal; em 2012 foi tombada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp).

Lá se encontra também o Edifício Piauí (428), construção de 1952, que foi o primeiro projeto do arquiteto Artacho Jurado em Higienópolis. Ele morou com a família no apartamento de cobertura.  

            Enfim, o Parque Buenos Aires, que foi inaugurado em 1913 com o nome de Praça Higienópolis, na gestão do Prefeito Raimundo Duprat, que contratou o paisagista francês Joseph-Antoine Bouvard. O objetivo era a preservação da vista do vale do Pacaembu. Abundante área verde em que se destacam sibipirunas, canelas e um enorme jequitibá-rosa, espelhos d’água e várias obras de arte – entre elas Mãe (Caetano Fraccaroli), Tango (Roberto Vivas) e Emigrantes (Lasar Segall) – dão um toque especial ao logradouro. Em 1992 o Parque foi tombado pelo Conpresp.

Eis um parque como deveriam ser todos: frequentado por moradores em busca de tranquilidade. Nada de correrias (pelo menos não vi). Alguns casais namorando; amigas conversando; algumas pessoas lendo, outras cochilando; babás cuidam de crianças bem comportadas que aproveitam a tarde quente de agosto.

Na saída vejo a geladeira velha de porta escancarada. Uma “biblioteca” onde se pode depositar livros para doar e pegar o que interessa sem burocracia. Espio as doações – só livros didáticos... Hora de ir embora. Tarde proveitosa.


Árvores frondosas dão sombra e proteção.

Lasar Segall.

Doação de livros.

sábado, 16 de agosto de 2025

ADONIRAN BARBOSA

 

Adoniran Barbosa, nome artístico de João Rubinato (1910-1982), foi o tema da Caminhada Noturna pelo Centro Histórico desta quinta-feira (14). Umas trinta pessoas – jovens, adultos e idosos; casais ou pessoas sozinhas interessadas em andar pela cidade e conhecer História e histórias de São Paulo se concentraram às 20h em frente à Biblioteca Mário de Andrade. Noite fria. Todo mundo bem agasalhado. Começa a caminhada pela famosa – São João com Ipiranga, onde tem uma escultura simpática de Adoniran e seu cãozinho Peteleco bem na porta do Bar da Brahma, depois fomos para a Rua Aurora, onde ele morou de 1949 a 1966, no apartamento do Edifício Santa Ignez, mas resolvi não continuar, pois minhas sextas-feiras começam às 5h30.   

Durante o passeio acabei conversando com uma senhora que mora no Centro, costuma fazer as caminhadas. Está curtindo seus 75 anos. Ela me conta que trabalhou num salão de beleza de propriedade de um francês. Ele exigia que as funcionárias se trajassem com elegância. Maquilagem caprichada. O uniforme elegante incluía luvas. “As clientes eram todas da elite paulistana.”  Não gosta de ficar em casa e sempre encontra programas culturais e nos finais de semana vai caminhar no Minhocão. “É muito bom ver todo aquele movimento de gente para lá e para cá, uns de bicicleta, outros com seus bichinhos ou correndo ...”. Ela conhece o Centro Histórico muito bem. É baiana, radicada em São Paulo há longos anos. De repente está falando da beleza arquitetônica dos prédios antigos e lamenta o fim do glamour que existia na região.

Pausa na Praça Júlio de Mesquita, onde o grupo admira a beleza da Fonte Monumental, que tem várias histórias – foi a primeira obra pública de São Paulo criada por uma mulher, a artista campineira Nicolina Vaz de Assis Pinto do Couto (1866-1941); o chafariz estava destinado para a Praça da Sé, mas acabou sendo instalado na Praça Vitória, antigo nome da Júlio de Mesquita. Ao longo dos anos o monumento sofreu muitas depredações e Adoniran Barbosa registrou e lamentou o mau comportamento das pessoas na música ROUBARAM A LAGOSTA: “...é melhor ficar seca ou molhada/ Do que ser derretida ou roubada”.

Novo destino: Rua Aurora cuja decadência se acentua. Ah! Lá está o prédio do Cine Áurea, inaugurado em 1957 e que no final do século exibia apenas filmes “adultos” ou de sexo explícito. A Rua dos Gusmões, ali perto, também fez parte do repertório de Adoniran – "Essa mulher sabe que por ela/ Sou capaz de tudo/ Sou capaz até/ De atravessar a rua dos Gusmões/ LENDO ALI BABÁ E OS 40 LADRÕES".

O grupo agora vai para o viaduto Santa Ifigênia. Não me chamo Eugênia, nem nasci ou cresci e muito menos conheci meu primeiro amor por ali, mas concordo com Adoniran – o Viaduto é muito bonito. Eu me despeço da senhora baiana, mas ela também vai para os lados da avenida Rio Branco, onde pegarei meu ônibus e ela prosseguirá.

https://www.youtube.com/watch?v=M-vE6ycLKK8 

Foto de 2024. Quinta, à noite, estava cercado por frequentadores da casa.



Busto do compositor: Praça Dom Orione, Bela Vista. 2019.




 



quinta-feira, 14 de agosto de 2025

DANDO NA VISTA

Estou começando a ficar preocupada. Desde que me aposentei = tenho me dedicado à dança, andanças e passeios pela cidade. Minha amiga Sheila, quando me visita e vamos ao Recanto Doce, costuma perguntar se vou me candidatar a algum posto tal quantidade de “D. Hilda, bom dia!” ou “Olá, D. Hilda” que ouvimos no trajeto de 300 m. Dou risada. Moro aqui há 42 anos!

Hoje, entretanto, depois de passar por uma papelaria na Sé, resolvi ir ao supermercado que tem na Rua Conselheiro Furtado para comprar frutas. Qualquer ônibus me servia. Na fila para subir no primeiro que apareceu, uma simpática senhora quer me dar passagem. Agradeço, explico que prefiro ficar no fim. Assim que subo a vejo acomodada no banco junto à janela: “Não se preocupe, seu banco preferido não foi ocupado” – diz ela e aponta para trás. Meu banco? “Sim, aquele em que a senhora costuma viajar.” Trocamos algumas gentilezas e desço logo adiante. O banco preferido é o solitário. E eu nunca a vi mais gorda.

Frutas compradas, subi a ladeira até a Avenida da Aclimação, um dos três ônibus que me servem acabara de passar; me estatelei no banco do ponto dos ônibus. Depois de uma manhã gélida, eu sufocava dentro do agasalho e gostaria de ficar lá recuperando o fôlego; mas eis que surge o ônibus que costumo tomar na ida para o SESC, o motorista acena me animando para subir. Agradeço e ele e o cobrador logo estão num papo entusiasmado e me incentivam a participar. Despeço-me e desço no “meu ponto”. Nova surpresa. Um senhora nissei, miudinha e com um delicado chapéu rosa, emparelha comigo, sorri e comenta:

“A senhora anda muito! Vejo a senhora passando várias vezes por dia. É muito bom.” Conversamos um pouco até eu chegar ao meu destino e ela prossegue – mora mais adiante.

E eu achando que sou discreta...

Praça João Mendes.

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

ARTISTAS MIRINS

 

O Macaulay Culkin, o garotinho que estrelou “Esqueceram de mim” em 1990, fará 45 anos este mês. É, o tempo passa, e os atores infantis de sucesso crescem. Muitos têm talento suficiente para prosseguir na carreira; outros mudam de profissão como Pablo Calvo Hidalgo (1948), garoto espanhol que ficou famoso ao estrelar Marcelino, Pão e Vinho, em 1953. Aos 16 anos, deixou o cinema e formou-se em engenharia. Ao chegar à adolescência John Leslie Coogan Jr. (1914-1984) já havia faturado US$ 4 milhões. Ele estrelou O Garoto (1921), dirigido por Charles Chaplin; teve problemas com a família por causa do dinheiro, mas revelou-se na maturidade um bom ator. Um dos seus últimos papéis foi Tio Chico na série Família Adams (1964).

A garotinha Shirley Temple (1928-2014)) manteve uma carreira regular até 1949 – só em 1932 ela fez nove filmes. Afastou-se do mundo artístico para concorrer ao Senado dos Estados Unidos – perdeu, mas tornou-se delegada das Nações Unidas e depois embaixadora americana em Gana e na Tchecoslováquia (atual República Tcheca). Em 1985, reapareceu nas telas.

Mickey Rooney (1920-2014)) é um exemplo de sucesso. Começou aos 7 anos e foi considerado pelo livro Guiness dos Recordes como o ator com a mais longa carreira no palco e nas telas. Aliás, por causa da baixa estatura e seu rosto juvenil continuou interpretando adolescentes por muito tempo (o que não o agradava). Foi premiado com Oscar, Globo de Ouro e Emmy. Contracenou com as garotinhas Elizabeth Taylor (1932-2011) e Judy Garland (1922-1969). As pequenas atrizes conseguiram um grande sucesso profissional, mas tiveram vidas bem diferentes – Taylor uma vida sentimental atribulada e Garland lutando contra as drogas.

Elizabeth Taylor e Mickey Rooney (ele já estava com 24 anos), em "A mocidade é assim".

William Aaker (1943) ninguém conhece, mas ficou famoso como o pequeno Cabo Rusty, parceiro do cão pastor alemão na série Rin tin tin. Ele se manteve em atividade entre 1951 e 1963, período em que atuou em 18 filmes e 22 séries de TV. Charles William Mumy Jr. (1954), o Will da série Perdidos no Espaço, é ator e músico. Lucas Daniel Haas (1976) também mantém uma carreira sólida depois de ter estreado aos 9 anos em A Testemunha (1985) ao lado de Harrison Ford. Baldes de lágrimas garantiram a fama a Rick Schroder (1970), o garoto escolhido para o papel de T.J. em O Campeão (1979). Schroder continua no ramo, também dirigindo filmes. Angus T. Jones (1993) começou cedo a carreira de ator, mas o sucesso surgiu com a série Two and a Half Man, quando estava com dez anos. O papel valeu-lhe prêmios e em 2010 era o ator mirim mais bem pago da tv americana. Por questões religiosas, abandonou a série e pouco tem atuado desde então.

No Brasil, lembro da turma do Sítio do Pica-pau Amarelo na década de 1970 cujo elenco era formado por Júlio César Vieira da Cunha e Silva (1964) no papel de Pedrinho. Só Rosana Garcia (1964), como Narizinho, e Suzana Abranches (1961), como Emília, continuam no meio artístico. Outros atores mirins: Samuel Melo (1990), Xande Valois (2004), André Luís Franbach (1997); Sérgio Malheiros (1993), Felipe Bragança (2001), José Victor Pires (1999) e João Vitor Silva (1996).

Não é possível esquecer o menino de rua Fernando Ramos da Silva (1967-1987), que atuou em Pixote – A Lei do Mais Fraco (Hector Babenco, 1981). Depois de algumas participações em outros trabalhos, ele voltou para as ruas e foi assassinado.

Lee Aaker com Rin-tin-tin.

sábado, 9 de agosto de 2025

ANDY WARHOL

 

Quarta-feira, Andy Warhol teria completado 97 anos. Ele nasceu em Pittsburgh, Pensilvânia e faleceu em 1987 em Nova York. Warhol se destacou na chamada Pop Art, nos anos cinquenta do século passado e ainda hoje causa polêmica. Até o final de agosto é possível visitar a exposição Andy Warhol POP ART! na FAAP, que reúne cerca de seiscentas obras dele originais, inclusive Marilyn Diptych.

Campbell’s Soup Cans para ele. A obra é de 1962.

“Se você quiser saber tudo sobre Andy Warhol, basta olhar para a superfície das minhas pinturas e filmes, e para mim, e lá estou eu. Não há nada por trás disso.” Andy Warhol, O Outro do East Village , 1966.

ACERVO do Museu de Arte Contemporânea de NY.


Andy Warhol POP ART! na FAAP, 31 de julho.



Andy Warhol POP ART! na FAAP, 31 de julho.


quarta-feira, 6 de agosto de 2025

PALACETE DO CARMO

 

Um dia ele foi o Palacete do Carmo, construído nos anos vinte do século passado na esquina da Praça Clóvis Bevilacqua com a Rua Roberto Simonsen, no Centro Histórico de São Paulo. Abandonado há anos, atualmente, ele parece estar se desfazendo aos poucos e me causa sensação de insegurança cada vez que passo por ali. A revista VEJA publicou em 14/08/2020 matéria sobre a negociação de um grupo de investidores com a Arquidiocese de São Paulo, proprietária do Palacete, da reforma do prédio que tem cerca de 3.900 m². O projeto, que incluiria a restauração da ala histórica e a construção de um moderno anexo, na época, ficaria em torno de duzentos milhões de reais, mas parece que não deu certo.

Um dó ver uma parte da história da cidade se degradar dia a dia... O abandono deu à natureza um espaço e no topo do prédio observam-se alguns arbustos viçosos.



segunda-feira, 4 de agosto de 2025

VELHICE E SOLIDÃO

 

Dizem que santo de casa não faz milagres, caso do filme neorrealista UMBERTO D (1952), dirigido por Vitorio de Sica e que na época a Itália não soube apreciar. Um filme que, infelizmente, ainda retrata o tratamento dado à velhice em vários países. Uma história banal de abandono e solidão narrada e interpretada com extrema sensibilidade e autenticidade. O próprio De Sica afirmou que o filme foi mal visto na Itália pós-guerra, pela abordagem dos problemas sociais envolvendo aposentados e idosos. De Sica dedicou o filme ao pai.

Humberto D foi indicado para a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1952; ganhou o prêmio de melhor Filme Estrangeiro da Associação de Críticos de Arte de Nova York em 1955 e indicado ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro da Academia Britânica de Artes do Cinema e Televisão em 1957; Carlo Battisti, que não era ator, mas professor de Linguística, venceu o Prêmio NBR – National Board of Review – de Melhor Ator de 1957. Em 2005 foi incluído na lista ALL TIME 100 Movies da revista TIME.

|Achei maravilhoso.


quinta-feira, 31 de julho de 2025

BONS DE CONVERSA

 

Eu já disse e repito. Admiro muito pessoas que estão sempre dispostas conversar não importa quem seja o ouvinte (ou ouvintes). Elas sabem como iniciar a prosa e mesmo que você não tenha a mesma habilidade, isso não as intimida. Ao longo desses anos tenho encontrado muitas dessas pessoas que se sentam ao meu lado na condução e logo estão me contando suas vidas. Nem preciso pesquisar para dizer que ônibus e pontos de ônibus são onde as encontro mais; depois esquinas onde aguardo para atravessar ruas e seguem as salas de espera.  

Foi num ponto de ônibus na Avenida Ricardo Jafet, que encontrei Francisca. Eu pretendia esperar o Jardim Saúde-Parque D. Pedro II, que deve fazer a mesma rota do cometa Halley. Estava disposta a esperar uns dez minutos e se ele não aparecesse, minha opção era o metrô. Quando cheguei ao ponto um senhor estava perguntando a uma senhora baixinha, cerca de cinquenta anos, pelo tal ônibus e comentei que ele costumava demorar muito.  Ela disse que ele iria passar em cinco minutos, pois era o horário que costumava sair do emprego. Fiquei mais animada e, como teria que voltar na semana seguinte, memorizei o horário. Dito e feito. Uns dez minutos depois surgiu o difícil.

Quando retornei dias depois, estava pensando na vida quando a senhora apareceu, conversou com a moça que, por falta de um banco, sentara no meio-fio, mas logo foi premiada com a chegada do ônibus. A senhora me reconheceu, se aproximou e iniciou a conversa. Nos cinco ou dez minutos de espera, soube que se chama Fran, trabalha nas imediações, sai sempre naquele horário para pegar a netinha na escola e de quebra ainda me recitou todos os horários do Jardim Saúde. O ônibus apareceu. Ela subiu, foi saudada festivamente pela tripulação, se aboletou no banco da rainha –nome que dei ao banco da frente que fica no topo de dois degraus – e começou uma longa conversa bem humorada com motorista e cobrador. Eu a encontrei outras vezes e ela no meio de uma das histórias comentou que pelo menos o nome ela sabe assinar.  Não resisti e a incentivei a fazer um curso de alfabetização. Toda sorridente me disse que faz parte dos planos dela.

Fran é uma daquelas pessoas que enfrenta as dificuldades da vida sem lamúrias e distribui simpatia por onde passa.   

terça-feira, 29 de julho de 2025

A COBERTURA DO SHOPPING LIGHT

 

Ao fundo do lado direito, o prédio do antigo Othon Palace Hotel e o Edifício Matarazzo com o jardim suspenso.


Creio que nunca a meteorologia foi tão popular. Há algum tempo surgiu a possibilidade se “seguir” pessoas e sites e sei mais lá o quê. Tempos atrás seguir alguém era um caso de importunação; porém, de uns tempos para cá virou moda. Confesso que não sigo nada nem ninguém. Comento isso porque praticamente todas as pessoas que encontro me informam sobre as condições do tempo para amanhã, para o final de semana ou do mês, o que me leva à conclusão que “seguem” algum site meteorológico. Sem contar meu computador que, sem ser consultado, exibe na barra inferior, a temperatura do momento. No aparelho de TV, o Google exibe a hora e a temperatura. A Defesa Civil faz um bom trabalho, alertando sobre tempestades e enchentes.

Abro a janela e lá está um céu azul, um ventinho gelado... Irei visitar a cobertura do Shopping Light (Rua Coronel Xavier de Toledo, 23), porque ontem, passando por lá, vi a placa com o convite para a visita, mas não quis esperar até o meio-dia, hora em que começam a funcionar o elevador histórico (pantográfico) e o restaurante (considerado por dois anos consecutivos como o melhor de São Paulo pela revista VEJA).

Fiz um caminho diferente da Sé para o Anhangabaú – via Rua Benjamin Constant, que está com as entranhas abertas – trabalhadores trocam encanamento e fiação do subsolo. Paro para um cafezinho amigo na Líbero Badaró antes de atravessar o viaduto. Como ainda faltam cinco minutos para meio-dia vejo algumas vitrines no shopping.

No hall do elevador estranhei muito a fila para ir à cobertura, mas descobri que o pessoal ia mesmo para o quinto andar, espaço gastronômico do shopping. Pensei com meus botões que teria sido mais rápido se eles tivessem usado as escadas rolantes.

Enquanto aguardo o elevador, vejo a placa pedindo aos passageiros paciência com a demora porque, afinal, o equipamento tem 96 anos. Que ninguém se espante com a idade dele, pois funciona muito bem. Apenas as luzes do mostrador dos andares por onde ele passa não funciona, o que deixaria Mr. Mackenzie aborrecido, já que ali era a sede e ele diretor da poderosa The São Paulo Tramway, Light and Power Co. Ltd., responsável pelo fornecimento de energia da cidade.

Desembarquei em um hall muito elegante, atendida por uma jovem simpática e fui até a varanda ver a paisagem urbana. Não me surpreendi muito com o fato de já ter visto cenários mais bonitos do centro da cidade – como o que oferece o Edifício Matarazzo, logo ao lado, com seu jardim suspenso; ou do alto do Sampaio Moreira na Rua Boa Vista ou ainda do prédio Martinelli na esquina da São João com São Bento. Basta olhar da Praça Ramos para observar que o Edifício Alexandre Mackenzie, inaugurado em 1929, está ladeado por prédios mais altos e modernos tanto do lado da Rua Xavier de Toledo quanto do lado da Praça do Patriarca. Ele tem nove andares e cinquenta metros de altura – o CBI Esplanada em frente tem 31 andares e 110m de altura.

Como a visita não demorou muito e o sol estava agradável caminhei até a Avenida São Luís para pegar condução. Foi um ótimo início de tarde.

Ah! O acesso ao restaurante da cobertura é pela Rua Formosa, 157. Tem estacionamento.

Vista da Praça do Patriarca.






sábado, 26 de julho de 2025

Anjos Desavisados

“Anjos Desavisados”, escultura de bronze do artista canadense Timothy Schmalz (1969), inaugurada em 29 de setembro – Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados, na Praça de São Pedro no Vaticano. Setembro, 2024.




sexta-feira, 25 de julho de 2025

IVANHOÉ E ROBIN HOOD

 

Estou na fase de amenidades. Ontem assisti ao filme americano Ivanhoé, o Vingador do Rei (1952), uma adaptação do romance de Sir Walter Scott (1771-1832), que li na adolescência. A direção foi de Richard Thorpe (1896-1991). No elenco encabeçado por Robert Taylor (1911-1969), tem Elizabeth Taylor (1932-), no frescor dos seus 20 anos, mas ainda uma atriz imatura. A experiente John Fontaine (1917-2013) parece mais a mãe aborrecida com o namoro da filha do que a noiva enciumada.

Dizem que Walter Scott foi quem criou o romance histórico – ou seja, usou elementos da história inglesa recheados de paixões e intrigas. No caso, a época é o século XII. A Inglaterra era governada por João Sem Terra, irmão do rei Ricardo I, mais conhecido como Ricardo Coração de Leão. Ricardo, após participar da III Cruzada (1189-1182), no retorno para casa, foi sequestrado pelo rei Leopoldo da Áustria que o manteve preso. O romance (e o filme) trata apenas do episódio do resgate – Ivanhoé em busca de Ricardo, já considerado morto, o encontro do monarca e a luta para levantar a quantia exorbitante estipulada para sua libertação. O filme mostra os cavaleiros medievais em justas – competições em arenas (liças), e torneios munidos de lanças bem animados. Tudo promovido pelo João Sem Terra e seus acólitos. 

Ivanhoé é um personagem lendário e, quanto ao rei Ricardo verdadeiro, ele pouco se importou com o fato de que a Inglaterra foi à bancarrota para pagar o seu resgate, pois logo em seguida atravessou o Canal Inglês para cuidar de interesses ingleses na Normandia (França) e nunca mais retornou - o que o filme não conta. É um bom filme para diversão e, quem sabe, despertar o interesse de alguém por História  a real é bem diferente. Assisti à série feita para TV (1958) estrelada por Roger Moore (1927-2017).


                                  

Ontem, foi a vez de outro “capa e espada”: As Aventuras de Robin Hood (1938), que recebeu três Oscar – melhor trilha musical original, melhor direção de arte e melhor edição de filme. Errol Flynn interpretou Robin e Olivia de Havilland, Lady Marian; a direção ficou primeiro com William Keighley, logo substituído por Michael Curtiz. As cenas das batalhas entre os nobres e os plebeus são muito boas. O arqueiro responsável pelos lançamentos foi Howard Hill (1899-1975), o maior profissional de arco e flecha de sua época. Ele interpretou o capitão dos arqueiros derrotado por Robin Hood, que consegue partir uma flecha ao meio. Em tempos de fantásticos efeitos especiais é bom saber que, na verdade, foi Hill quem realizou a proeza. A cena foi feita em apenas uma tomada! Um ótimo entretenimento.  Acima o arqueiro Howard Hill.


sábado, 19 de julho de 2025

DIA NACIONAL DO FUTEBOL

Dia Nacional do Futebol: 19 de julho. A data escolhida refere-se à fundação do Sport Club Rio Grande, da cidade de Rio Grande (RS), há 125 anos. O “Vovô”, como é chamado, continua firme e forte em ação.

    Com todo respeito ao “Vovô”, eu prefiro homenagear nesse dia a Seleção Brasileira de Futebol que venceu a Copa do Mundo em 29 de junho de 1958, na Suécia.

    Feola (técnico), Djalma Santos, Zito, Belini, Nilton Santos, Orçando, Gilmar, Garrincha, Didi, PELÉ, Vavá e Zagalo. 

   Fizeram também parte da seleção: Castilho, De Sordi, Oreco, Moacir, Joel, Dida, Mazzola (86 anos), Moacir (89) e Pepe (90 anos) e Dino Sani (93 anos).

    E lá se foram 67 anos ...

terça-feira, 15 de julho de 2025

CERBÈRE E WALTER BENJAMIN


Cerbère está situada nos Pirineus Orientais (França), na fronteira com a Espanha, em uma região cuja ocupação se perde no tempo. Há ruínas pré-históricas e, naturalmente, os romanos estiveram por lá. Aliás, o nome da cidade está relacionado à mitologia greco-romana, segundo a qual o cão Cérbero é o guardião do Hades (inferno). Mas existe muita discussão sobre o assunto e outras explicações, mas gosto desta porque me parece bem óbvia. 

A cidade fica em uma pequena baia no Mediterrâneo e, além da paisagem marítima, o que se destaca são os arcos da ferrovia, construída em 1880 (Eiffel). A rodovia corta a cidade, desce o morro por uma plataforma que cobre o cais e a marina. Duvido que alguém chegue de trem à cidade e desça a pé até a Avenida General De Gaulle sem que a população toda saiba. 

A economia baseia-se na vinicultura e no turismo – pesca, mergulho submarino e praias. Cerbère tem 1.560 habitantes* que, tradicionalmente, fazem a sesta. A vida retoma seu curso depois das 16h30. Da varanda do hotel ouço os sinos da igreja (que fica na encosta do morro) que chamam para alguma cerimônia; vejo o pai com o filho aproveitando o fim de tarde na praia, onde um pequeno grupo pratica mergulho. Aparecem algumas pessoas na praça onde se destacam hotel, restaurante, loja de lembranças...

Em um canto da praça há um grupo de esculturas em homenagem aos produtores rurais, que por longo tempo tiveram de fazer à mão o transbordo dos produtos agrícolas (especialmente laranjas) comercializados entre Espanha e França. O motivo: a diferença de bitola das duas ferrovias, que impedia a circulação de trens entre os dois países.

Há dois monumentos em homenagem aos cinco ferroviários fuzilados pelos nazistas durante a II Guerra Mundial (1939-1945). As lembranças do conflito estão presentes na cidade – Avenue du General De Gaulle, Rue 18 de Juin 1940 (data em que o general De Gaulle deu início à Resistência) etc.

        Na verdade, lembrei-me dessa viagem, ao ler um ensaio de Walter Benjamin sobre os livros e seus colecionadores.

Crítico, ensaísta e filósofo Walter Benjamin (1892-1940) teve uma vida atribulada. Judeu alemão, filho de comerciantes, com a ascensão do nazismo, seu trabalho deixou de ser publicado na Alemanha e em 1935 refugiou-se na França. Em 1939 havia perdido a cidadania alemã e estava praticamente na miséria. Com a deflagração da guerra e a posterior ocupação da França pelos alemães em 1940, Benjamin decidiu fugir com um grupo de amigos para Portugal, via Espanha, para se estabelecer nos Estados Unidos.

As dificuldades dessa viagem até Cerères deterioraram ainda mais seu estado de saúde e de espírito de Benjamin. Na última parte da jornada, ele mal aguentou subir os Pirineus e quando jornada clandestina terminou no posto de fronteira da Espanha – Cerbère-Portbou, todos foram barrados porque era essencial o visto francês de saída. Sem cidadania alemã e sem documentação francesa, a situação do escritor era dramática. Os fugitivos conseguiram permissão para ficar aquela noite na aldeia próxima. Benjamin, entretanto, sentiu-se encurralado – não podia sair da França nem voltar – e decidiu que o único caminho era a morte e para isso usou morfina. Foi uma agonia lenta.  Horas depois de sua morte, o grupo fugitivo conseguiu autorização para prosseguir viagem. Antes, porém, eles cuidaram dos despojos do companheiro de jornada e pagaram o funeral no cemitério de Portbou (Espanha).

Walter Benjamin nasceu em 15 de julho de 1892 em Berlim e morreu em 26 de setembro de 1940 em Cerbère.

         *Pelo censo de 2018, 1.351 habitantes. Crônica de 2006, ano em que cheguei à França procedente da Espanha. .


segunda-feira, 14 de julho de 2025

JÚLIO CÉSAR

Semana passada circulando na livraria da Unesp vi e comprei “Júlio César”, de Shakespeare (1564-1616). Nos anos de 1980, quando ainda existia o vendedor de livros e enciclopédias, que visitava residências, escritórios, redações e escolas com clássicos da literatura mundial, comprei dois livros com as principais tragédias e comédias de Shakespeare, onde infelizmente faltaram algumas obras como “Henrique V” e “Júlio César”. “Henrique V” comprei logo depois, mas Júlio César lamentavelmente ficou esquecido.  Li a peça no mesmo dia. Atemporal como são os clássicos, a obra provoca reflexões sobre o homem, o poder, a ambição e a inveja, o amor e a morte. 

Procurei mais informações sobre os eventos que levaram ao assassinato de César e notei que ele nasceu no dia 13 do mês que os romanos chamavam de “Quintilis”, quinto mês do calendário romano, que começava em março. Em 44 a. C., ano em que ocorreu o assassinato de César, o Senado Romano o homenageou trocando a denominação de mês de seu nascimento para Júlio, daí Julho em Português. Estava pensando em escrever algo sobre a peça e sobre César, quando abri o site do CINEMA LIVRE e vi que uma das novidades era exatamente o filme “Júlio César” (1953), de Joseph L. Mankiewicz (1909-1993), autor do roteiro que manteve fiel ao texto original.

Que coincidência! E no elenco James Mason (Brutus), John Gielgud (Cássio) e o jovem Marlon Brando (Marco Antônio). O filme, indicado para cinco categorias, ganhou o Oscar de 1954 na categoria de Melhor Direção de Arte em Preto e Branco e Marlon Brando foi indicado na categoria de Melhor Ator. Assisti ontem ao filme. Um espetáculo imperdível. Marlon Branco não fica a dever nada ao desempenho de James Mason, um ator inglês shakespeariano, e a cena de seu discurso diante do corpo de César é impecável.

No filme, entretanto, há um anacronismo.  O ano é 44 antes de Cristo: um personagem tira da toga um códice que folheia e depois o guarda. Naquela época os romanos escreviam em pergaminho que eram enrolados e guardados em tubos. Foi no início da era cristã, século I d. C., que surgiram os códices que consistiam no resumo do conteúdo dos rolos feito em folhas costuradas, o que permitia o manuseio e o transporte mais fácil. Posteriormente, no filme, Marco Antônio tira da túnica o testamento de César escrito em um pergaminho como era usual na época.

            Meu interesse por Caio Julius Caesar (100 a.C-44 a. C.) é antigo, pois como jornalista não poderia ignorá-lo: ele foi o criador das famosas Acta Diurna Populi Romani ou Acta Publica, que publicava diariamente as atas do Senado, éditos, discursos dos tribunos e as ocorrências de interesse público da República – casamentos, óbitos, acontecimentos militares, falências, espetáculos e banquetes (coluna social?). Isso em 69 a.C. As informações eram escritas em tábua branca, denominada álbum e afixadas nos muros das cidades.

A Acta Diurna Populi Romani ou Acta Publica circulou até a queda do Império Romano que ocorreu em 476 d. C.



Marlon Brando na cena do discurso em louvor a César, que jaz a seus pés.


sábado, 12 de julho de 2025

AS COSTUREIRAS


Não sei qual superlativo dar à arte do compositor Heitor Villa-Lobos (1887-1959). E quem desejar conhecer a grandiosidade dele pode visitar o Villa-Lobos Chanel, sem fins comerciais, ele é dedicado exclusivamente para divulgação da obra do compositor.

Foi lá que conheci “As Costureiras”, interpretado por um coral feminino de Trondheim, cidade norueguesa.

AS COSTUREIRAS
Música e letra Heitor Villa-Lobos.

Com alma a chorar!
Alegre a sorrir!
Cantando os seus males!
As costureiras, somos nesta vida!
Até amores unimos à linha,
Nós trabalhamos sempre alegres na lida!
Como alguém que adivinha,
O belo futuro que nos vai a sorrir!

Cose, cose, cose a costureira,
Cose a manga, a blusa, a saia,
Cose com interesse e mostra-te faceira,
Bem faceira a quem provares o ponteado,
O alinhavado, o costurado, o chuleado, o pregueado.


https://www.youtube.com/watch?v=RW6iU2m-2v4 
Trondheim Women Student Choir.



"As costureiras" (1950), Tarsila do Amaral (1886-1973).




sábado, 5 de julho de 2025

VIVA GABRIEL

Ah! O sol está de volta e o dia bem agradável, o que me levou à Vila Prudente para localizar um lugar onde terei de ir segunda-feira cedo. Para evitar problemas, fui “passear” por lá. A estação do metrô já é velha conhecida. Uma funcionária explica o caminho e diz que são apenas cinco minutos de caminhada. Lá fora, as coisas se complicam. Peço informações a três pessoas – nenhuma é do bairro. Já ia para um terminal de ônibus, quando vi o rapaz com uma sacolinha de comida. Resolvi tentar. 

– Bom dia. Você mora por aqui?

– Mais ou menos...

    Mais ou menos? Quem mora mais ou menos? Expliquei onde eu ia e ele logo ajeitou o celular, começou a pesquisar e localizou o endereço.

– Vamos atravessar a rua aqui porque é naquela direção – apontou a transversal.

Agradeci e já ia me despedindo, mas ele fez questão de me acompanhar. Perguntou meu nome e me vi na obrigação de perguntar o dele – Gabriel. Gabriel é uma simpatia. Deve ter uns 22 ou 23 anos. Expliquei que não conhecia a região, morava na Vila Mariana – estação que ele disse conhecer bem pois faz conexão do metrô com o ônibus para ir trabalhar. Ele presta consultoria em segurança (?). A rua vira uma ladeira íngreme que enfrento bravamente (treino todos os dias nas ladeiras da Aclimação, bem mais suaves). Então chegamos, agradeço muito a gentileza e desejamos boa sorte um para o outro.

Na volta, resolvi conhecer uma igreja que vi numa travessa e por isso cheguei à Praça Padre Damião Kleverkamp, pequena e agradável. A Igreja de Santo Emídio foi inaugurada em 1948. Santo Emídio (179 d. C.-309 d. C.) foi um bispo cristão, a quem se atribuem muitos milagres. Ele é o santo protetor dos terremotos, enchentes e chuvas intensas. Fora os terremotos, está no lugar certo. Damião Kleverkamp foi o primeiro pároco da igreja São Emídio. 

Na hora da foto, chegou o fusquinha ... Fazer o quê?

A preguiça fez com que eu descobrisse um suave caminho para retornar à estação do Metrô – quase plano! Detesto esses aplicativos que "indicam" caminho, mas sem Gabriel não teria chegado ao meu destino.  

sábado, 28 de junho de 2025

À PROCURA DE UMA PAPELARIA

 

Cresci ao lado de uma ótima papelaria – a "1001".  Isso muito antes que a agência McCann Erickson lançasse na década de 1970 a peça publicitária da lã de aço mais famosa do Brasil. Era lá que o meu material escolar era comprado. Havia ainda a Papelaria e Tipografia Reis. Tenho certeza de que não eram as únicas de Santos, mas é delas que me lembro bem.

Aqui em São Paulo conheci algumas ótimas, como a Papelaria Rosário, na Rua Xavier de Toledo no Centro Histórico, que infelizmente fechou em 2024. Outra que fechou funcionava no Conjunto Nacional, ao lado da Li
vraria Cultura. A Papelaria Umabel, na Rua Cristóvão Colombo, agora vende mochilas, e a Papelaria Estadão, no Viaduto Nove de Julho, resiste. Eu sempre senti grande atração pelas papelarias onde ia comprar lápis, tinta para as canetas tinteiro – só usei canetas esferográficas quando fui trabalhar no jornal –, fita para máquina de escrever, papel carbono, crepom, manteiga, de seda branco ou colorido (ah! os tempos de balões!). E as caixas de lápis de cor?

No ônibus a caminho do Centro Histórico me lembrei de duas pequenas papelarias pertinho da Sé; porém, como é sábado, não me preocupei em descer lá. Fiquei pela Rua Boa Vista, mas decidi atravessar o Anhangabaú e resolvi entrar no Shopping Light. Com tantas lojas, tudo é possível. Dito e feito! E achei logo no térreo – papelaria e livraria. Passei um bom tempo por lá procurando cartões e vendo as novidades da papelaria. Os cartões foram frustrantes: todos com mensagens descartáveis, óbvias, infantis... Alguns até bonitos, mas nenhum com o interior em branco para que se escreva a própria mensagem.

O que me chamou atenção foi a prateleira do material escolar: Na parte de cima, um objeto denominado “Caderno Argolado”, cheio de parangolés. Ora, ora vejam só! Lembrei-me com saudade do meu fichário, que me acompanhou no curso ginasial.

terça-feira, 17 de junho de 2025

FUI DE TÁXI

 


Se na Europa o viajante tem o conforto dos trens conectados a linhas de metrô para ir ou sair de aeroportos, nos Estados Unidos, a situação é diferente. Felizmente, os norte-americanos inventaram o shuttle, serviço de transporte bem mais barato do que táxi (geralmente vans), e que deixa o passageiro no hotel. Entretanto, em alguns lugares o serviço é disponível em horários que não são adequados (às 6 horas, às 13h etc.) e o jeito é usar táxi ou similares. Não se esqueça de que a praxe nos Estados Unidos é pagar a corrida e acrescentar de 15 a 20% de gorjeta.

Esse momento pode ser desfrutado como uma parte bem interessante do passeio seja qual for a cidade. Desta vez peguei vários táxis (algo raro nos roteiros europeus) e me vi sendo conduzida por motoristas de diferentes nacionalidades e todos muito satisfeitos com a nova vida que encontraram nos Estados Unidos, embora o trabalho seja exaustivo. O segredo é a oportunidade, que encontram nesse país feito de imigrantes. Assim, conheci um chinês, um vietnamita, um camaronês, um iraquiano, um indiano e um armênio.

O chinês mostrou-se o mais nervoso de todos e resmungou muito com os percalços do trânsito (muito bom por sinal) em Honolulu. O vietnamita falou com saudade das belezas do Vietnã. Nenhum ressentimento com o passado trágico entre o país de nascimento e o adotivo. O indiano surpreendeu-se quando elogiei o cinema da Índia. O iraquiano, quando soube que ia de San Francisco para Las Vegas de avião, me aconselhou a economizar dinheiro, usando o shuttle que servia os hotéis da região. O camaronês acha Las Vegas uma fantasia no meio do deserto, comentou a derrota da seleção nacional para o Brasil em 2014 e ainda estava estarrecido com a chacina que matara 59 pessoas no início da semana.

Um deles, quando soube que eu era do Brasil, suspirou nostálgico pela Xuxa. Xuxa? Foi-se o tempo em que falavam de Pelé ou de Reinaldo, mas Xuxa? Céus!

O armênio? Este não era de falar muito. Trânsito livre até o aeroporto, onde encontramos um imenso congestionamento para chegarmos ao terminal da empresa aérea que me traria de volta a São Paulo. Foi só então que perguntou para onde eu ia e aproveitei para perguntar a nacionalidade dele. 

Cá entre nós, o Trump nunca conheceu o país em que vive e muito menos as pessoas de verdade que trabalham na sua construção.

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Em português a grafia correta é táxi, mas por aí afora encontra-se sempre um taxi. O relato refere-se à viagem aos Estados Unidos feita em 2013.

terça-feira, 10 de junho de 2025

DIA DE PORTUGAL

 

O restaurante Martinho da Arcada, situado no Terreiro do Paço em Lisboa, tem mais de duzentos anos e era o café preferido do poeta Fernando Pessoa (1888-1935). O poeta teria sido convidado pela Coca-Cola para escrever o slogan da bebida que estava para ser lançada em Portugal,. mas a venda do refrigerante foi proibida no país durante a ditadura salazarista. A Coca-Cola só pôde ser comercializada em Portugal após o final da ditadura.

“Primeiro estranha-se, depois entranha-se” – este foi o slogan criado por Pessoa para a Coca-Cola lá pelos idos de 1927. A foto é de 2023, quando passei pelo restaurante.

DIA 10 DE JUNHO – DIA DE PORTUGAL, da Língua Portuguesa, de Camões e das Comunidades Portuguesas.