terça-feira, 30 de agosto de 2016

À PROCURA DO "LEAD". 

Um dia descobri que existia um curso de jornalismo, que minha vizinha Maria Inês fazia. Ela me deu as informações e gostei muito do que ouvi. O passo seguinte foi informar a família, que torceu solenemente o nariz, mas democraticamente  ninguém se opôs. O vestibular para o curso de Jornalismo da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Santos, origem da Faculdade de Comunicações de Santos, não foi difícil embora todas as provas fossem dissertativas. Perguntas não se respondiam com um simples xis. Os aprovados naquele distante ano de 1967 acabaram formando um grupo que, com poucas exceções, se dedicou ao jornalismo e, mais importante, formou fortes laços de amizade.
A Escola de Jornalismo da FAFIS, instalada em 1955, foi uma das primeiras do Brasil. O curso agregava Publicidade, Propaganda e Relações Públicas. Os alunos aprendiam taquigrafia e até retórica. Com o reconhecimento da profissão a partir de 1969 e a exigência do diploma de jornalista, a Sociedade Visconde de São Leopoldo obteve, em 12 de dezembro de 1970, autorização para transformá-lo na Faculdade de Comunicação de Santos. Nessa época, foi criado o jornal Entrevista, que já recebeu o Prêmio Parker, como sendo o melhor jornal laboratório do País (1975 e 1976).

A FAFIS funcionava na Rua Euclides da Cunha, 247, onde Francisco Loureiro, dono de uma grande área na Pompeia, mandou construir uma casa em estilo eclético para presentear a filha que se casou na década de 1930 com um comissário de café. O casarão em estilo eclético sofreu várias alterações no interior ao longo dos anos, perdendo inclusive o banheiro em estilo europeu, mas felizmente as pinturas nas paredes do primeiro andar foram preservadas. (Francisco Loureiro também doou o terreno para a construção no bairro da Igreja Nossa Senhora da Pompeia, no final da década de 1920.) No porão da casa, funcionavam os centros acadêmicos. O de Jornalismo chamava-se Jacson de Figueiredo, homenagem ao educador, porém, mais tarde o nome foi mudado para Júlio de Mesquita Filho. Foi ali também que se instalou a Redação Modelo, onde praticávamos os ensinamentos recebidos nas aulas. Em 1967 a Fundação São Leopoldo já construíra na parte dos fundos um prédio (caixotão) para atender às necessidades crescentes da instituição.
Aprendemos bastante num período difícil, mas sem perder as perspectivas de um futuro melhor. Na área técnica, devemos muito a Juarez Baía, Eron Brum, Carlos Conde, Paulo Sérgio Freddi, Clara Conde e Ouydes Fonseca que nos ensinaram o caminho do jornalismo sem ranço. Foram fundamentais as aulas de José de Sá Porto (ah! quanta erudição!) e de Monsenhor Manuel Pestana, uma biblioteca ambulante. A ala cultural era formada pelos jovens Rubens Edwald Filho, já douto em cinema, e Carlos Alberto Sofredini, iniciando no teatro.
Santos, 26 de março de 1971.


Em meados dos anos de 1970, a FACOS mudou para as dependências do Colégio Santista, na Rua Sete de Setembro, enquanto era construído o prédio da Rua Euclides da Cunha, 264 onde se instalou em 1982. Faculdade de Filosofia (Jornalismo, Pedagogia, Letras Neoclássicas e Anglo-Germânicas). Em 2007 quando foi vendido o terreno da velha FAFIS, ex-alunos voltaram para um reencontro de despedida de um local cheio de magia como são todos os lugares onde se passa a juventude movida por ideais que às vezes se concretizam e outras tantas escapam. O casarão foi preservado e enfeita o condomínio que se ergue sobre nossas lembranças.
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O casarão e o condomínio. Foto do site da Gafisa. 


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