O navio Schnectady começou a ser construído
em maio de 1918, no estaleiro de Hog Island, na Filadélfia,
Pensilvânia (EUA), e fazia parte do programa experimental americano, iniciado no
ano anterior, para padronizar a construção de navios, como parte do esforço de
guerra (1914-1918). O estaleiro funcionou até 1922 e nesse período foram
construídos 122 navios Classe EFC 1022 A – especialmente cargueiros e
alguns para transporte de tropas – todos conhecidos como Hog Islanders.
O Schnectady foi registrado no porto
de New York e entregue ao armador, Moore McCormack Lines. O navio (casco
nº 511) tinha 121 m de comprimento, pesava 7.825 toneladas; possuía uma turbina
a vapor e desenvolvia velocidade de 12 nós (22 km). Quando fazia a rota da
costa leste para o Báltico e Escandinávia, o armador detectou uma crescente
demanda de passageiros. Assim, o navio foi reformado e em 1932 ganhou onze
cabines e um salão de jantar para passageiros com ar condicionado, algo inédito
na época, e um novo nome Scanyork.
No final da
década de trinta, a forte pressão para atrair o Brasil para a área de
influência dos Estados Unidos culminou com uma série de oportunidades de
compras de bens americanos pelo governo brasileiro. Em novembro de 1939, já em
plena II Guerra, o Lloyd Brasileiro comprou um lote de navios da Classe EFC
1022 – entre os quais se encontrava o Scanyork –
pelo valor total de USD 3.5 milhões (valor da época). O Scanyork deixou o porto de Nova York sob
comando brasileiro e, somente quando chegou ao Rio de Janeiro em dezembro, teve
o nome alterado para MAUÁ em homenagem ao barão, ganhou prefixo PUAX e passou a
ter bandeira brasileira.
A
rota do MAUÁ era longa. Ele partia do porto de Santos com destino ao Norte,
parando nos principais portos para carga e descarga, embarque e desembarque de
passageiros. Em 1943, um anúncio do Lloyd no jornal A TRIBUNA, de Santos, dá uma ideia
do trajeto do navio a partir do porto santista: Rio, Vitória, Baia (sic),
Maceió, Recife, Cabedelo, Natal, Areia Branca, Fortaleza, São Luís, Belém,
Santarém, Óbidos, Itacoatiara e Manaus. Em 1950, o bom e velho navio fazia o
mesmo percurso.
Qual
a importância do MAUÁ? Para mim e para meu amigo Cláudio muito grande. Em 1950
minha avó Maria Luiza, viúva, filhos criados e avó de três netos (sendo eu a
mais recente), resolveu que era tempo de ir tratar de negócios inacabados da
história pessoal dela em Manaus. Assim, ela arrumou a enorme mala marrom tipo
baú e embarcou no MAUÁ com destino a Manaus.
A
viagem deve ter durado uma eternidade, mas ela aproveitou cada parada tanto na
ida como na volta para conhecer as cidades da escala. Ficou alguns meses fora,
fez grandes amizades e, principalmente, soube de coisas da política econômica do
Brasil que muitos anos depois (quando eu já era adulta) a imprensa deu como
novidade para minha grande surpresa.
No
retorno, minha avó conheceu um jovem casal que vinha começar a vida em Santos.
Ali, começou a amizade que se consolidou ao longo dos anos. Alguns anos mais tarde nasceu o primeiro e único filho do casal, hoje um simpático senhor de 64 anos
em plena atividade.
Ah! O MAUÁ foi aposentado em 1967, quando o velho navio misto foi
vendido para desmanche (sucata) para a Companhia Siderúrgica Nacional. Hog Island também não existe mais. Um
aterro juntou a ilha ao continente e na área criada funciona o aeroporto
municipal da Filadélfia. O Lloyd Brasileiro Patrimônio Nacional foi
extinto em 1997 após quase 93 anos de atividade.
MAUÁ: ainda uma embarcação a vapor. |
Minha avó Maria a bordo do MAUÁ em 1950. |
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