terça-feira, 2 de agosto de 2016

CASAS PAULISTANAS



Os paulistanos ainda não haviam se recuperado das inovações apresentadas durante a realização da Semana de Arte Moderna de 1922, quando o arquiteto de origem russa Gregori Warchavchik (1896–1972) desembarcou no Brasil um ano depois, trazendo na bagagem a experiência modernista que vivenciara na Europa. Em 1925, publicou o manifesto “Acerca da Arquitetura Moderna” que inicia entre nós a arquitetura modernista.
Em 1927, casado com a paisagista Mina Klabin, filha mais velha do industrial Maurício Freeman Klabin, Warchavchik iniciou a construção da residência da família na Rua Santa Cruz, Vila Mariana, em um terreno de cinco mil m². Evidentemente, ele colocou em prática o seu projeto modernista e a casa, concluída um ano depois, tornou-se o centro de um debate que envolveu intelectuais, a imprensa e a população. Linhas retas e simétricas, uma porta em semicírculo, nada de adornos, predomínio de iluminação natural e espaços abertos que facilitam a ventilação. A casa – reformada pelo próprio arquiteto em 1932 – é cercada por um grande jardim criado por Mina, onde estão a piscina e um teatro de arena; a edícula à esquerda é discreta.
É difícil imaginar quase noventa anos depois o motivo de tanta comoção em torno de uma residência particular simples, bonita e confortável. Warchavchik teve que apresentar uma fachada toda ornamentada na Prefeitura para conseguir aprovação do projeto e no final justificou a alteração alegando falta de recursos. O conceito de modernismo continuava incomodando a sociedade brasileira, mas graças à polêmica desencadeada pela obra, Warchavchik tornou-se um arquiteto bem sucedido.
Warchavchik
Em 1930, ele projetou a casa da Rua Itápolis, no Pacaembu, inaugurada com uma exposição de arte moderna mostrando como era possível integrar arte, arquitetura e decoração interior. O evento atraiu 20 mil pessoas em menos de um mês. Em 1932, Warchavchik fez o projeto da casa do cunhado Lasar Segall (1891-1957), que desde 1967 é sede do Museu Lasar Segall (Rua Berta, 111, Vila Mariana).
A família Warchavchik decidiu vender a propriedade em meados da década de 1970 e em 1983 uma construtora divulgou o projeto de implantação de um condomínio na área com o pomposo nome de Palais Versailles. A população se mobilizou em defesa da casa e da área verde do terreno e organizou a Associação Pró-Parque Modernista.  A comunidade venceu, mas no período de disputa legal o imóvel ficou abandonado. Somente em 2000 começaram as obras de restauração que se arrastaram até 2008, quando a casa principal foi aberta para visitação.
Casa Modernista: Rua Santa Cruz, 325 – Vila Mariana. 





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