SAUDADES DO CANADÁ
O Instituto de Educação Canadá, criado em 11 de agosto de 1934 por
decreto do Governador Armando de Salles Oliveira, foi referência no ensino
público da Baixada Santista. A instituição foi uma reivindicação de
exportadores de café. Eles pretendiam que o governo instalasse na cidade um
curso ginasial (5.ª a 8.ª séries), pois naquela época, Santos possuía somente
grupos escolares e o Gymnásio Santista José Bonifácio. No começo, a escola
funcionou no térreo do Grupo Escolar Cesário Bastos e, depois, foi transferida
para a Avenida Ana Costa. Somente em 1935 instalou-se no prédio erguido pela
Prefeitura, no terreno da Rua Mato Grosso, doado pela Companhia City, e
assumido pelo Estado. O nome Canadá foi uma homenagem à Cia. City, que era
canadense. Há alguns anos passou a ser administrado pela Prefeitura de Santos.
Com o diploma do ginásio na mão,
fui para o Instituto de Educação Canadá, não antes de ganhar um ano sabático
porque estava muito magrinha. (Minha avó tinha dessas coisas.). Nada dramático.
Aproveitai muito bem a folga. Devorava livros de todos os tipos, de preferência
na rede, saboreando as frutas da estação. Mas estudei também porque as vagas no
Canadá eram disputadíssimas em um exame de seleção. Passei e me matriculei no
Clássico –curso destinado à área de
humanas. Pela primeira vez ia estudar longe de casa e à noite. Eu pegava o
bonde 32 na Avenida Conselheiro Nébias e descia na esquina da Rua Mato Grosso.
À noite havia estudantes de todas
as idades, a maioria trabalhava e muitos já eram casados. Eu fazia parte do
pequeno grupo que era dono de seu tempo. Na minha classe havia 39
mulheres e um homem (Fernando). Em compensação, na sala da frente ficava o
pessoal do Cientifico – quase somente rapazes. Eram desse tempo Tomás de Aquino
e César Augusto Fragata. Anos depois trabalhei com ambos no jornal CIDADE DE
SANTOS.
O diretor do Colégio era Edésio
Del Santoro, que à noite era substituído pelo professor Walter – infelizmente
não lembro do sobrenome. O corpo docente era variado: Dona Iolanda, que de vez
em quando dava aulas de inglês; Padre Américo Soares ensinava Literatura
Portuguesa e com ele aprendi a saborear os textos de Vieira. Havia Gilda Pimentel
Tavares (Português) que reencontrei recentemente no Facebook, Helena (Francês),
Zilda (Psicologia) e Ada cujos cabelos louros esverdeados desviavam a atenção
dos alunos das aulas de Filosofia.
Os vilões eram Antonio Esmanhoto,
que ensinava Latim, e Avelino da Paz Vieira, dono da cadeira de História – que até poderia ser um bom médico, mas era
péssimo professor. Esmanhoto tinha sérios problemas pessoais, mas era dedicado
e dava seu recado. Ótimo pianista. Lá estava também o professor Itagiba,
tentando abrir nossas mentes com suas aulas (brilhantes) de Filosofia.
Trinta dias após o início das
aulas aconteceu um fato que mudou a vida do País radicalmente: o golpe militar
de 1º de abril. Mas naquela época, depois de um recesso escolar, retornamos às
aulas imaginando que as coisas voltariam ao normal em breve. Ledo engano. Publicado originalmente em 19/4/ 2009.
Clássico noturno de 1964. No fundo à direita, Avelino Vieira. |
Instituto de Educação Canadá. |
Um comentário:
1964 foi meu último ano lá... Entrei em 1957, no primeiro ginasial... Tenho ótimas lembranças dos primeiros anos. Dos últimos, nem tanto....
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