segunda-feira, 29 de agosto de 2016

SAUDADES DO CANADÁ

O Instituto de Educação Canadá, criado em 11 de agosto de 1934 por decreto do Governador Armando de Salles Oliveira, foi referência no ensino público da Baixada Santista. A instituição foi uma reivindicação de exportadores de café. Eles pretendiam que o governo instalasse na cidade um curso ginasial (5.ª a 8.ª séries), pois naquela época, Santos possuía somente grupos escolares e o Gymnásio Santista José Bonifácio. No começo, a escola funcionou no térreo do Grupo Escolar Cesário Bastos e, depois, foi transferida para a Avenida Ana Costa. Somente em 1935 instalou-se no prédio erguido pela Prefeitura, no terreno da Rua Mato Grosso, doado pela Companhia City, e assumido pelo Estado. O nome Canadá foi uma homenagem à Cia. City, que era canadense. Há alguns anos passou a ser administrado pela Prefeitura de Santos.
               Com o diploma do ginásio na mão, fui para o Instituto de Educação Canadá, não antes de ganhar um ano sabático porque estava muito magrinha. (Minha avó tinha dessas coisas.). Nada dramático. Aproveitai muito bem a folga. Devorava livros de todos os tipos, de preferência na rede, saboreando as frutas da estação. Mas estudei também porque as vagas no Canadá eram disputadíssimas em um exame de seleção. Passei e me matriculei no Clássico –curso  destinado à área de humanas. Pela primeira vez ia estudar longe de casa e à noite. Eu pegava o bonde 32 na Avenida Conselheiro Nébias e descia na esquina da Rua Mato Grosso.
               À noite havia estudantes de todas as idades, a maioria trabalhava e muitos já eram casados. Eu fazia parte do pequeno grupo que era dono de seu tempo.  Na minha classe havia 39 mulheres e um homem (Fernando). Em compensação, na sala da frente ficava o pessoal do Cientifico – quase somente rapazes. Eram desse tempo Tomás de Aquino e César Augusto Fragata. Anos depois trabalhei com ambos no jornal CIDADE DE SANTOS.
               O diretor do Colégio era Edésio Del Santoro, que à noite era substituído pelo professor Walter – infelizmente não lembro do sobrenome. O corpo docente era variado: Dona Iolanda, que de vez em quando dava aulas de inglês; Padre Américo Soares ensinava Literatura Portuguesa e com ele aprendi a saborear os textos de Vieira. Havia Gilda Pimentel Tavares (Português) que reencontrei recentemente no Facebook, Helena (Francês), Zilda (Psicologia) e Ada cujos cabelos louros esverdeados desviavam a atenção dos alunos das aulas de Filosofia.
               Os vilões eram Antonio Esmanhoto, que ensinava Latim, e Avelino da Paz Vieira, dono da cadeira de História  – que até poderia ser um bom médico, mas era péssimo professor. Esmanhoto tinha sérios problemas pessoais, mas era dedicado e dava seu recado. Ótimo pianista. Lá estava também o professor Itagiba, tentando abrir nossas mentes com suas aulas (brilhantes) de Filosofia.

               Trinta dias após o início das aulas aconteceu um fato que mudou a vida do País radicalmente: o golpe militar de 1º de abril. Mas naquela época, depois de um recesso escolar, retornamos às aulas imaginando que as coisas voltariam ao normal em breve. Ledo engano. Publicado originalmente em 19/4/ 2009.
Clássico noturno de 1964. No fundo à direita, Avelino Vieira.

Instituto de Educação Canadá.



Um comentário:

Nilton Tuna disse...

1964 foi meu último ano lá... Entrei em 1957, no primeiro ginasial... Tenho ótimas lembranças dos primeiros anos. Dos últimos, nem tanto....