terça-feira, 28 de agosto de 2018


ENCONTROS INESQUECÍVEIS (2)
Continuo as lembranças de personagens que marcaram um momento durante minhas andanças e, certamente, jamais nos reencontraremos. A primeira viagem a Portugal em 2006 começou pelo Porto. Na primeira manhã ao sair do hotel vi ponto do ônibus bem em frente e perguntei a um senhor se passava algum que fosse para o centro histórico. Era da minha altura, vestia-se com elegância europeia, usava um pequeno chapéu de feltro, levava uma valise e um par de óculos sem aro equilibrava-se sobre o nariz. Um executivo? Talvez, um advogado?
Depois de me dar todas as informações sobre o ônibus que eu poderia tomar, perguntou-me após uma pausa, de que lugar eu era no Brasil. São Paulo, respondi. Sorriu entusiasmado. Apresentou-se. Chamava-se Castelo Branco. Estivera em São Paulo e gostara muito. Então me contou (não me lembro de ter perguntado) que há alguns anos viera para o Brasil e conhecera Manaus, Fortaleza, Recife, Belo Horizonte, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Foz de Iguaçu. Ficara encantado com tudo. “Que país maravilhoso!”
Chegou o ônibus que servia para todos no ponto. Sentamos lado a lado e no banco à nossa frente acomodaram-se os outros dois senhores que ouviam atentamente a conversa, mas logo se sentiram à vontade para participar. Um deles já morara no Brasil, em Recife se não me falha a memória. O outro quis saber se eu estava hospedada no hotel em frente ao ponto do ônibus e quando confirmei foi direto ao ponto. “Muito caro” e sugeriu vários outros... Enfim, foi uma viagem muito interessante, com um jeitão bem brasileiro... Então incentivei Castelo Branco a voltar ao Brasil, mas ele sorriu tristemente era muito longe, a viagem cara e ele já tinha muita idade... Desceu antes de mim e os outros o seguiram.

Abdul, que me guiou pela feira e me introduziu
 na arte da barganha de que os árabes gostam muito.
No Marrocos, em 2010, conheci uns três Abdul, mas um deles foi muito especial. O ônibus parou aos pés de uma montanha para o grupo de turistas irem a uma feira, mas antes entramos em uma casa para tomar chá e acabei me atrasando. Quando cheguei à estrada um rapaz se aproximou e disse que me guiaria pela feira. Hesitei, mas não havia nada ao redor que indicasse o lugar para onde todos tinham ido e, como ele me pareceu confiável, segui-o. Era uma feira pobre em que o destaque foi curandeiro, que tinha também o papel de Tiradentes e barbeiro, as especiarias coloridas e perfumadas, e o lenço azul que eu quis comprar e ele não deixou porque era masculino. Depois de andarmos por lá quase uma hora, eu perguntei a ele quando devia pela visita guiada. Com um sorriso, explicou que era de graça, mas ele gostaria que eu comprasse algo que ele vendia e mostrou-me um conjunto de três ou quatro pulseirinhas “de prata”. Quanto? – perguntei. Candidamente, me disse: € 50. Nem pensar. Na Rua 25 de Março, compraria umas 50 por R$ 10. Ele insistiu. Eu também. Acho que o preço chegou a uns €30. Perguntei se ele só tinha as pulseiras. Ele tirou do bolso uma pedra horrorosa cuja finalidade até hoje desconheço, já que para enfeite em minha casa não funcionaria. Cinquenta euros. Não. Preocupada com o ônibus, eu declarei com firmeza: Dou € 10 pelas pulseiras e mais € 10 pelo serviço de guia. Para minha grande surpresa Abdul ficou felicíssimo. Aceitou na hora: “Madama é árabe. Sabe negociar”. Acho que ele queria dizer mesmo pechinchar coisa que eles gostam muito de fazer e para meu espanto curvou-se e me deu um respeitoso beijo no rosto. Não resisti e pedi para fotografá-lo.  Mora no meu coração até hoje. As pulseiras? Não lembro que fim levaram, mas nunca usei.

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